domingo, 13 de abril de 2014

São grandiosas todas as vistas do Porto que dão sobre o rio Douro. Daniel Martins de Moura Guimarães

Porto (89 321 h.)

É a segunda cidade do reino e a sua população muito comercial e activa. É lindo e pitoresco o aspecto do Porto, principalmente visto de Vila Nova de Gaia, como são grandiosas todas as vistas que dão sobre o rio Douro. É curioso ver o movimento constante nos principais pontos de comércio, como alfândega, Ribeira, ruas de S. João, Ingleses, Ferreira Borges, Belomonte, Flores, S.to António, Clérigos e Almada, e largos de S. Domingos, de S. Bento, dos Loios e de D. Pedro; ao mesmo tempo que são lindas e sossegadas as extensas ruas da Boavista, dos Bragas, da Rainha, do Costa Cabral, de S.ta Catarina, da Alegria, da Duquesa de Bragança, Formosa, de Fernandes Tomás, etc.

D. M. de M. G, Guia do Amador das Belas Artes. Porto, Tipografia Comercial, 1871, p. 41-42.

1 comentário:

  1. VISITA AO PORTO

    Partiu el-Rei de Coimbra pera o Porto, como tinha ordenado, que eram daí dezoito léguas - cidade onde nunca fora, nem em lugar de onde a divisar pudesse. Esta cidade é situada junto do rio que chamam Doiro, na qual se fazem muitas e boas naus e outros navios, mais que em outro lugar que no reino haja.
    É mui profundo este rio que vai acerca dela, de guisa que do sisbordo da nau põem prancha em terra, quando querem ir pera dentro aqueles a que prouguer de o fazer.
    Os desta cidade, sabendo que el-Rei havia de vir a ela, fizeram-se prestes de o receber, estabelecendo per mandamento que nem um não usasse de seu ofício e que todos aquele dia cessassem seus costumados trabalhos. O qual recebimento ordenaram desta guisa: Todas as naus que eram no rio mui cedo pela manhã foram apendoadas de bandeiras e estandartes, e postos muitos ramos verdes em certos lugares, onde cada um entendia que melhor podia parecer. Os batéis delas andavam todos enramados, com trombetas e pendões de avante e de ré, fornidos de homens que os bem remavam, deles em camisas com sombreiros de rosas, outros de librés de ramos e flores, segundo se cada um melhor correger podiam. [...]
    As janelas das casas todas eram ocupadas com formosas donas e mulheres de outra condição, com grande desejo e amor de o ver, assim guarnecidas de tais corregimentos, que fealdade e mau parecer não ousou aquele dia entrar na cidade.

    Fernão Lopes, CRÓNICA DE D. JOÃO I, 1.ª parte, cap. IX.

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