Quand tu aimes il faut partir Quitte ta femme quitte ton enfant Quitte ton ami quitte ton amie Quitte ton amante quitte ton amant Quand tu aimes il faut partir
Le monde est plein de nègres et de négresses Des femmes des hommes des hommes des femmes Regarde les beaux magasins Ce fiacre cet homme cette femme ce fiacre Et toutes les belles marchandises
II y a l’air il y a le vent Les montagnes l’eau le ciel la terre Les enfants les animaux Les plantes et le charbon de terre
Apprends à vendre à acheter à revendre Donne prends donne prends
Quand tu aimes il faut savoir Chanter courir manger boire Siffler Et apprendre à travailler
Quand tu aimes il faut partir Ne larmoie pas en souriant Ne te niche pas entre deux seins Respire marche pars va-t’en
Je prends mon bain et je regarde Je vois la bouche que je connais La main la jambe l’œil Je prends mon bain et je regarde
Le monde entier est toujours là La vie pleine de choses surprenantes Je sors de la pharmacie Je descends juste de la bascule Je pèse mes 80 kilos Je t’aime
você fica na cama ela se veste para o trabalho e você pergunta-se o que aconteceu à última e à outra antes dela... é tudo tão confortável - esse fazer amor esse dormir juntos a suave delicadeza
após ela sair você levanta-se e usa o chuveiro dela, é tudo tão intimidante e estranho. você volta para a cama e dorme mais uma hora.
quando vai embora é com tristeza mas a verá novamente quer funcione, quer não
você conduz até à praia e fica sentado dentro do carro. é meio dia.
- outra cama, outras orelhas, outros brincos, outras bocas, outros chinelos, outros vestidos cores, portas, números de telefone.
houve tempos em que foi suficientemente forte para viver sozinho. para um homem nos seus sessenta você devia ser mais sensato.
você põe o carro a trabalhar e engata a primeira, e pensa, vou telefonar à jenny logo que chegar, não a vejo desde sexta feira.
Quando escrevi o meu comentário anterior, ainda só tinha visto os dois primeiros comentários, de Deolinda Pereira e de João Serra. Embora o poema publicado anonimamente seja também impressionante, à sua maneira, não estava abrangido pelo meu comentário.
Nos teus olhos altamente perigosos vigora ainda o mais rigoroso amor a luz de ombros puros e a sombra de uma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo *à roda em que apodreço apodrecemos a esta pata ensanguentada que vacila quase medita e avança mugindo pelo túnel de uma velha dor
Não podias ficar nesta cadeira onde passo o dia burocrático o dia a dia da miséria que sobe aos olhos vem às mãos aos sorrisos ao amor mal soletrado à estupidez ao desespero sem boca ao medo perfilado à alegria sonâmbula à vírgula maníaca de modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta cama comigo em trânsito mortal até ao dia sórdido canino policial até ao dia que não vem da promessa puríssima da madrugada mas da miséria de uma noite gerada por um dia igual
Não podias ficar presa comigo à pequena dor que cada um de nós traz docemente pela mão a esta dor portuguesa tão mansa quase vegetal
Não tu não mereces esta cidade não mereces esta roda de náusea em que giramos até à idiotia esta pequena morte e o se minucioso e porco ritual esta nossa razão absurda de ser
Não tu és da cidade aventureira da cidade onde o amor encontra as suas ruas e o cemitério ardente da sua morte tu és da cidade onde vives por um fio de puro acaso onde morres ou vives não de asfixia mas às mãos de uma aventura de um comércio puro sem a moeda falsa do bem e do mal
X
Nesta curva tão terna e lancinante que vai ser que já é o teu desaparecimento digo-te adeus e como um adolescente tropeço de ternura por ti.
(Adaptação de um conto da tradição oral chinesa..., por uma estudante e retocado por mim...)
O pincel do Maliang
Era uma vez um menino chamado Maliang que gostava muito de pintar. Mas era tão pobre que não podia comprar um pincel e até havia alguém que se ria dele. Maliang zangou-se e decidiu aprender a pintar sozinho. Depois de algum tempo, aprendeu a pintar bem mas continuava ainda sem pincel. Um dia, um génio deu-lhe um pincel. Com este pincel, Maliang pintou muitas coisas. Surpreendentemente, tudo o que pintava tornava-se real. Era um pincel mágico! Maliang pintava gado para os pobres para os ajudar a lavrar a terra. O Imperador ouviu dizer que Maliang tinha um pincel com poderes e prendeu-o. Ordenou-lhe então que desenhasse jóias, mas Maliang não aceitou fazer isso e foi encerrado numa prisão. Maliang fugiu depois de pintar na parede uma porta com um pincel. Um dia, quando Maliang estava a trabalhar na terra cultivada, os soldados apareceram e prenderam Maliang. Desta vez, o Imperador exigiu que Maliang desenhasse uma montanha de ouro. Maliang descobriu uma boa solução e desenhou na parede o mar. O Imperador ficou muito contente e obrigou Maliang a desenhar um barco. O Imperador subiu para o barco e quis que Maliang pusesse o barco em movimento. Maliang desenhou ventos e o barco começou a navegar. Mas o Imperador pensou que o barco era muito lento e obrigou Maliang a acelerá-lo. Maliang desenhou mais ventos e o mar ficou tão bravo que ficaram em perigo. O Imperador teve medo e pediu a Maliang para parar de desenhar ventos. Mas Maliang continuou. O mar ficou cada vez mais bravo e o barco acabou por se virar e morreram todos afogados. Maliang voltou para casa e conseguiu continuar a desenhar para os pobres.
Existem coisas piores que estar sozinho mas geralmente leva décadas para entender isso e quase sempre quando você entende é tarde demais. E não há nada pior que tarde demais.
O que me abismou foi o modo como o poema de Blaise Cendrars se conjugou com a imagem do post, complementando-a, conferindo-lhe amplitude e sentido. Um poema espantoso! E também, já agora, a rapidez com que uma publicação sucedeu a outra..
(O ETERNO RETORNO?)
ResponderEliminarTu es plus belle que le ciel et la mer
Quand tu aimes il faut partir
Quitte ta femme quitte ton enfant
Quitte ton ami quitte ton amie
Quitte ton amante quitte ton amant
Quand tu aimes il faut partir
Le monde est plein de nègres et de négresses
Des femmes des hommes des hommes des femmes
Regarde les beaux magasins
Ce fiacre cet homme cette femme ce fiacre
Et toutes les belles marchandises
II y a l’air il y a le vent
Les montagnes l’eau le ciel la terre
Les enfants les animaux
Les plantes et le charbon de terre
Apprends à vendre à acheter à revendre
Donne prends donne prends
Quand tu aimes il faut savoir
Chanter courir manger boire
Siffler
Et apprendre à travailler
Quand tu aimes il faut partir
Ne larmoie pas en souriant
Ne te niche pas entre deux seins
Respire marche pars va-t’en
Je prends mon bain et je regarde
Je vois la bouche que je connais
La main la jambe l’œil
Je prends mon bain et je regarde
Le monde entier est toujours là
La vie pleine de choses surprenantes
Je sors de la pharmacie
Je descends juste de la bascule
Je pèse mes 80 kilos
Je t’aime
Blaise Cendrars, Feuilles de route, 1924
Escolha forte e certeira. Obrigado, Deolinda.
ResponderEliminaroutra cama
ResponderEliminaroutra cama
outra mulher
mais cortinas
outro chuveiro
outra cozinha
outros olhos
outro cabelo
outros
pés e dedos.
todos à procura.
a busca eterna.
você fica na cama
ela se veste para o trabalho
e você pergunta-se o que aconteceu
à última
e à outra antes dela...
é tudo tão confortável -
esse fazer amor
esse dormir juntos
a suave delicadeza
após ela sair você levanta-se e usa o chuveiro dela,
é tudo tão intimidante e estranho.
você volta para a cama e
dorme mais uma hora.
quando vai embora é com tristeza
mas a verá novamente
quer funcione, quer não
você conduz até à praia e fica sentado
dentro do carro. é meio dia.
- outra cama, outras orelhas, outros
brincos, outras bocas, outros chinelos, outros
vestidos
cores, portas, números de telefone.
houve tempos em que foi suficientemente forte para viver sozinho.
para um homem nos seus sessenta você devia ser mais
sensato.
você põe o carro a trabalhar e engata a primeira,
e pensa, vou telefonar à jenny logo que chegar,
não a vejo desde sexta feira.
Charles Bukowski
Caramba!
ResponderEliminarFico abismada!
Quando escrevi o meu comentário anterior, ainda só tinha visto os dois primeiros comentários, de Deolinda Pereira e de João Serra. Embora o poema publicado anonimamente seja também impressionante, à sua maneira, não estava abrangido pelo meu comentário.
ResponderEliminarUm Adeus Português
ResponderEliminarNos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz de ombros puros e a sombra
de uma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo
*à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor
Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia a dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
de modo funcionário de viver
Não podias ficar nesta cama comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual
Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta dor portuguesa
tão mansa quase vegetal
Não tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o se minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser
Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal
X
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.
Alexandre O´Neil, in Poesias Completas
Senhor Anónimo,
EliminarPrefiro este "Cyrano"... Bukowski nunca leu o Tao...
A propósito de Tao:
Eliminar"True words aren´t eloquent
eloquent words aren´t true
Wise men don´t need to prove their point;
men who need to prove their point aren´t wise"
"Simplicity, patience, compassion.
These are your great treasures"
(Adaptação de um conto da tradição oral chinesa..., por uma estudante e retocado por mim...)
EliminarO pincel do Maliang
Era uma vez um menino chamado Maliang que gostava muito de pintar. Mas era tão pobre que não podia comprar um pincel e até havia alguém que se ria dele. Maliang zangou-se e decidiu aprender a pintar sozinho. Depois de algum tempo, aprendeu a pintar bem mas continuava ainda sem pincel. Um dia, um génio deu-lhe um pincel. Com este pincel, Maliang pintou muitas coisas. Surpreendentemente, tudo o que pintava tornava-se real. Era um pincel mágico! Maliang pintava gado para os pobres para os ajudar a lavrar a terra. O Imperador ouviu dizer que Maliang tinha um pincel com poderes e prendeu-o. Ordenou-lhe então que desenhasse jóias, mas Maliang não aceitou fazer isso e foi encerrado numa prisão. Maliang fugiu depois de pintar na parede uma porta com um pincel. Um dia, quando Maliang estava a trabalhar na terra cultivada, os soldados apareceram e prenderam Maliang. Desta vez, o Imperador exigiu que Maliang desenhasse uma montanha de ouro. Maliang descobriu uma boa solução e desenhou na parede o mar. O Imperador ficou muito contente e obrigou Maliang a desenhar um barco. O Imperador subiu para o barco e quis que Maliang pusesse o barco em movimento. Maliang desenhou ventos e o barco começou a navegar. Mas o Imperador pensou que o barco era muito lento e obrigou Maliang a acelerá-lo. Maliang desenhou mais ventos e o mar ficou tão bravo que ficaram em perigo. O Imperador teve medo e pediu a Maliang para parar de desenhar ventos. Mas Maliang continuou. O mar ficou cada vez mais bravo e o barco acabou por se virar e morreram todos afogados. Maliang voltou para casa e conseguiu continuar a desenhar para os pobres.
Existem coisas piores que estar sozinho
ResponderEliminarmas geralmente leva décadas para entender isso
e quase sempre quando você entende é tarde demais.
E não há nada pior que tarde demais.
Charles Bukowski
"Ah! Não me diga que concorda comigo!?
EliminarQuando as pessoas concordam comigo, tenho sempre a impressão de que estou errado."
Oscar Wilde
O que me abismou foi o modo como o poema de Blaise Cendrars se conjugou com a imagem do post, complementando-a, conferindo-lhe amplitude e sentido. Um poema espantoso! E também, já agora, a rapidez com que uma publicação sucedeu a outra..
ResponderEliminarTem razão Isabel, surpreendente, apesar de conhecermos já os dotes da comentadora.
ResponderEliminarConcordo, João. Dotes admiráveis, sem dúvida.
ResponderEliminarQueridos amigos, agradeço... coincidências... Na física quântica prova-se que o acaso é inteligente...
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