segunda-feira, 12 de maio de 2014

Quand tu aimes il faut partir. Michel Estebe

Michel Estebe, Quand tu aimes il faut partir, 1991

15 comentários:

  1. (O ETERNO RETORNO?)

    Tu es plus belle que le ciel et la mer

    Quand tu aimes il faut partir
    Quitte ta femme quitte ton enfant
    Quitte ton ami quitte ton amie
    Quitte ton amante quitte ton amant
    Quand tu aimes il faut partir

    Le monde est plein de nègres et de négresses
    Des femmes des hommes des hommes des femmes
    Regarde les beaux magasins
    Ce fiacre cet homme cette femme ce fiacre
    Et toutes les belles marchandises

    II y a l’air il y a le vent
    Les montagnes l’eau le ciel la terre
    Les enfants les animaux
    Les plantes et le charbon de terre

    Apprends à vendre à acheter à revendre
    Donne prends donne prends

    Quand tu aimes il faut savoir
    Chanter courir manger boire
    Siffler
    Et apprendre à travailler

    Quand tu aimes il faut partir
    Ne larmoie pas en souriant
    Ne te niche pas entre deux seins
    Respire marche pars va-t’en

    Je prends mon bain et je regarde
    Je vois la bouche que je connais
    La main la jambe l’œil
    Je prends mon bain et je regarde

    Le monde entier est toujours là
    La vie pleine de choses surprenantes
    Je sors de la pharmacie
    Je descends juste de la bascule
    Je pèse mes 80 kilos
    Je t’aime

    Blaise Cendrars, Feuilles de route, 1924

    ResponderEliminar
  2. Escolha forte e certeira. Obrigado, Deolinda.

    ResponderEliminar
  3. outra cama

    outra cama
    outra mulher

    mais cortinas
    outro chuveiro
    outra cozinha

    outros olhos
    outro cabelo
    outros
    pés e dedos.

    todos à procura.
    a busca eterna.

    você fica na cama
    ela se veste para o trabalho
    e você pergunta-se o que aconteceu
    à última
    e à outra antes dela...
    é tudo tão confortável -
    esse fazer amor
    esse dormir juntos
    a suave delicadeza

    após ela sair você levanta-se e usa o chuveiro dela,
    é tudo tão intimidante e estranho.
    você volta para a cama e
    dorme mais uma hora.

    quando vai embora é com tristeza
    mas a verá novamente
    quer funcione, quer não

    você conduz até à praia e fica sentado
    dentro do carro. é meio dia.

    - outra cama, outras orelhas, outros
    brincos, outras bocas, outros chinelos, outros
    vestidos
    cores, portas, números de telefone.

    houve tempos em que foi suficientemente forte para viver sozinho.
    para um homem nos seus sessenta você devia ser mais
    sensato.

    você põe o carro a trabalhar e engata a primeira,
    e pensa, vou telefonar à jenny logo que chegar,
    não a vejo desde sexta feira.

    Charles Bukowski

    ResponderEliminar
  4. Caramba!
    Fico abismada!

    ResponderEliminar
  5. Quando escrevi o meu comentário anterior, ainda só tinha visto os dois primeiros comentários, de Deolinda Pereira e de João Serra. Embora o poema publicado anonimamente seja também impressionante, à sua maneira, não estava abrangido pelo meu comentário.

    ResponderEliminar
  6. Um Adeus Português

    Nos teus olhos altamente perigosos
    vigora ainda o mais rigoroso amor
    a luz de ombros puros e a sombra
    de uma angústia já purificada

    Não tu não podias ficar presa comigo
    *à roda em que apodreço
    apodrecemos
    a esta pata ensanguentada que vacila
    quase medita
    e avança mugindo pelo túnel
    de uma velha dor

    Não podias ficar nesta cadeira
    onde passo o dia burocrático
    o dia a dia da miséria
    que sobe aos olhos vem às mãos
    aos sorrisos
    ao amor mal soletrado
    à estupidez ao desespero sem boca
    ao medo perfilado
    à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
    de modo funcionário de viver

    Não podias ficar nesta cama comigo
    em trânsito mortal até ao dia sórdido
    canino
    policial
    até ao dia que não vem da promessa
    puríssima da madrugada
    mas da miséria de uma noite gerada
    por um dia igual

    Não podias ficar presa comigo
    à pequena dor que cada um de nós
    traz docemente pela mão
    a esta dor portuguesa
    tão mansa quase vegetal

    Não tu não mereces esta cidade não mereces
    esta roda de náusea em que giramos
    até à idiotia
    esta pequena morte
    e o se minucioso e porco ritual
    esta nossa razão absurda de ser

    Não tu és da cidade aventureira
    da cidade onde o amor encontra as suas ruas
    e o cemitério ardente
    da sua morte
    tu és da cidade onde vives por um fio
    de puro acaso
    onde morres ou vives não de asfixia
    mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
    sem a moeda falsa do bem e do mal

    X

    Nesta curva tão terna e lancinante
    que vai ser que já é o teu desaparecimento
    digo-te adeus
    e como um adolescente
    tropeço de ternura
    por ti.

    Alexandre O´Neil, in Poesias Completas

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Senhor Anónimo,
      Prefiro este "Cyrano"... Bukowski nunca leu o Tao...

      Eliminar
    2. A propósito de Tao:

      "True words aren´t eloquent
      eloquent words aren´t true
      Wise men don´t need to prove their point;
      men who need to prove their point aren´t wise"

      "Simplicity, patience, compassion.
      These are your great treasures"

      Eliminar
    3. (Adaptação de um conto da tradição oral chinesa..., por uma estudante e retocado por mim...)

      O pincel do Maliang

      Era uma vez um menino chamado Maliang que gostava muito de pintar. Mas era tão pobre que não podia comprar um pincel e até havia alguém que se ria dele. Maliang zangou-se e decidiu aprender a pintar sozinho. Depois de algum tempo, aprendeu a pintar bem mas continuava ainda sem pincel. Um dia, um génio deu-lhe um pincel. Com este pincel, Maliang pintou muitas coisas. Surpreendentemente, tudo o que pintava tornava-se real. Era um pincel mágico! Maliang pintava gado para os pobres para os ajudar a lavrar a terra. O Imperador ouviu dizer que Maliang tinha um pincel com poderes e prendeu-o. Ordenou-lhe então que desenhasse jóias, mas Maliang não aceitou fazer isso e foi encerrado numa prisão. Maliang fugiu depois de pintar na parede uma porta com um pincel. Um dia, quando Maliang estava a trabalhar na terra cultivada, os soldados apareceram e prenderam Maliang. Desta vez, o Imperador exigiu que Maliang desenhasse uma montanha de ouro. Maliang descobriu uma boa solução e desenhou na parede o mar. O Imperador ficou muito contente e obrigou Maliang a desenhar um barco. O Imperador subiu para o barco e quis que Maliang pusesse o barco em movimento. Maliang desenhou ventos e o barco começou a navegar. Mas o Imperador pensou que o barco era muito lento e obrigou Maliang a acelerá-lo. Maliang desenhou mais ventos e o mar ficou tão bravo que ficaram em perigo. O Imperador teve medo e pediu a Maliang para parar de desenhar ventos. Mas Maliang continuou. O mar ficou cada vez mais bravo e o barco acabou por se virar e morreram todos afogados. Maliang voltou para casa e conseguiu continuar a desenhar para os pobres.






      Eliminar
  7. Existem coisas piores que estar sozinho
    mas geralmente leva décadas para entender isso
    e quase sempre quando você entende é tarde demais.
    E não há nada pior que tarde demais.

    Charles Bukowski

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. "Ah! Não me diga que concorda comigo!?
      Quando as pessoas concordam comigo, tenho sempre a impressão de que estou errado."
      Oscar Wilde

      Eliminar
  8. O que me abismou foi o modo como o poema de Blaise Cendrars se conjugou com a imagem do post, complementando-a, conferindo-lhe amplitude e sentido. Um poema espantoso! E também, já agora, a rapidez com que uma publicação sucedeu a outra..

    ResponderEliminar
  9. Tem razão Isabel, surpreendente, apesar de conhecermos já os dotes da comentadora.

    ResponderEliminar
  10. Concordo, João. Dotes admiráveis, sem dúvida.

    ResponderEliminar
  11. Queridos amigos, agradeço... coincidências... Na física quântica prova-se que o acaso é inteligente...

    ResponderEliminar