Quando lá cheguei pela primeira vez [a Paris], as primeiras ruas com que me deparei, a saída da estação, quais primeiras palavras de um desconhecido! não eram senão manifestações de uma essência ainda pouco clara mas já incomparável. Nós não percebemos praticamente nenhum objecto, do mesmo modo que não vemos os olhos de uma cara em particular, mas o seu olhar e a sua expressão. Há um sentido latente, difundido pela paisagem ou pela cidade, que surge para nós uma como evidência específica sem que tenhamos necessidade de a definir. Só emergem como actos expressos as percepções ambíguas, isto é, aquelas a que nós próprios damos um sentido pela atitude que tomamos ou que respondem a questões postas por nós.
Maurice Merleau-Ponty, Phénoménologie de la Perception. Paris, Éditions Gallimard, 1987, p. 325.
There is never any ending to Paris and the memory of each person who has lived in it differs from that of any other. We always returned to it no matter who we were or how it was changed or with what difficulties, or ease, it could be reached. Paris was always worth it and you received return for whatever you brought to it.
ResponderEliminarErnest Hemingway, in A Moveable Feast
Prémio Nobel da Literatura em 1954
Le séjour à Paris fit une profonde impression sur Gertrude Stein. Au début de la guerre, quando elle et moi, après avoir passé quelques kois en Angleterre, revînmes à Paris en octobre, Gertrude Stein, le premier jour que nous sortîmes, me dit: «C´est drôle. Paris est si changé, et pourtant il me semble toujours si familier. En y réfléchissant, je vois ce que c´est, il n´y a plus personne ici que des Français (il n´y avait encore ni soldats ni civils des pays alliés à cette époque à Paris). On voit dans la rues les petits enfants avec leurs tabliers noirs, on peut même voir les rues, parce qu´elles sont vides. Cela ressemble à mês souvenirs de Paris quando j´avais trois ans. Le pays a l´odeur qu´il avait jadis (on se servait de chevaux de nouveau), l´odeur des rues et des jardins publics français, que je me rappelle si bien.
ResponderEliminarGertrude Stein, in Autobiographie d´Alice Toklas, L´Imaginaire Gallimard, Paris
/…/ver con el corazón, sentir lo que no está delante, habitar con el sentimiento allí donde no se está, participar en la vida misteriosa, oculta, en la vida entrañable de esos millones de seres de los que la distancia nos ha cercenado, rehacer el camino todos los días para ir a participar de su dolor, o dejar a fuerza de quietud y de silencio que venga a encontrarnos esa llama pequeña pero ardiente... que se enciende en lo hondo y alumbra el pensamiento. Esa llama y ese fuego que debieron salir allá en los siglos II y III de esas cuevas que se llamaban catacumbas./…/
ResponderEliminarZambrano, María: La Cuba secreta y otros ensayos, Madrid, Endymion, 1996, p. 9.
ESTORNINHO
ResponderEliminarGosto do Bois para nidificar.
Com um grão na asa,
qual muro? qual casa?
Reúno a esquadrilha
e, milha após milha,
voamos. Espectacular!
" A explicação das formas em função de determinada circunstância é em verdade difícil, sobretudo a sua compreensão total, e assim como um bom vinho só poderá apreciar-se bebendo-o e não raciocinando sobre a sua fórmula química, assim uma forma só poderá compreender-se vivendo-a, bem como à sua circunstância e não apenas ouvindo descrições a seu respeito ou consultando suas reproduções. É verdade que esta é uma posição um tanto teórica na medida em que é impossível reconstituir a circunstância de cada forma, mas mesmo assim é uma posição na qual convém atender pois que, embora limite inatingível de um modo quase geral, indica pelo menos um caminho a seguir para uma melhor compreensão das formas que aos nossos olhos se apresentam.
Quando pensamos nas formas que o homem tem criado ao longo da sua existência - e, para limitar o nosso campo de observação, apenas nas formas de arquitectura e de urbanismo - que mundos diferentes de circunstâncias significam, por exemplo, as cidades de Nova Iorque eTeotihuacan, as pirâmides de Giseh e o palácio de Katsura, Versailles e a acrópole de Atenas... Variam a luz, as formas naturais dos terrenos e a sua constituição, variam os climas, variam os conceitos de vida física e espiritual, variam as técnicas, variam os usos e costumes... varia, numa palavra, a circunstância de cada um desses mundos diferentes de formas que o homem criou."
Fernando Távora, DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO, Porto, FAUP, 2006, pp. 23.
Dizendo o mesmo que o texto de Merleau-Ponty, a outros propósitos, com palavras diferentes:
ResponderEliminar"Mais original ainda do que a relação sujeito-objecto é, para Heidegger, a autotranscendência do In-der-Welt-Sein, no qual o Dasein se abre ao mundo para lá de toda a subjectividade. Antes que algo como um sujeito ou um objecto se possa constituir, o Dasein - esta é uma das teses centrais de Sein und Zeit - já está aberto ao mundo. (...) E é só a partir desta transcendência original que algo como uma intencionalidade pode ser compreendida quanto ao seu modo de ser próprio."
Giorgio Agamben, A Potência do Pensamento (2013). Lisboa: Relógio d'Água Editores (p. 254)