É bonito ver como o jogo post- comentário-post vai abrindo o leque deste blogue. Este documentário é uma dádiva para quem se interessa por "isso", esse tema do outro. Aqui se dizem coisas tão fundamentais como, a propósito do descobrimento do Brasil pelos portugueses, "Descoberta não é existência." Ainda não vi todo o filme. Tanto que tem é para se ir vendo. Assim se aprende. Agradeço a todos
É bom viver como ensinou Maíra. Às vezes pensamos que ele gosta mais dos caraíbas, mas a culpa bem pode ser nossa. Como nós só queremos rede e bubuia, ele deu a outros a obrigação de trabalhar duro, sem sossego, fazendo coisas. Nós não fomos feitos para isso. Somos bons é para namorar carinhoso e sururucar demorado. Também somos bons para a companheirada, porque nos vexa muito guardar as coisas com sovinice: gostamos de dar. E não nos afobamos. Mulher está aí mesmo para a gente namorar quando quiser. Amigos também há muitos para conversar, para jogar, para lutar. Comida, que é bom, nunca há de faltar. As roças todo o ano dão bastante mandioca e o peixe e a caça não hão de acabar. O melhor das criações de Maíra é que sempre nas cem crianças para a gente com elas brincar, rir e criar com amor e paciência. É bom demais também pintar o corpo bonito de cores, passear, nadar, dançar, beber cauim, cantar e dar risada. É assim que gostamos de viver. É assim que Maíra gosta de nos ver. Até trabalhar moles devagarinho, não é ruim, sobretudo se não for na hora do sol quente. Melhor ainda é descansar, deitar com mulher na rede de barriga cheia, dormir e sururucar demorado. Depois sair por aí para poxi-poxar juntos lá no mato e sururucar outra vez, se der vontade. Assim fazem Maíra e Micura quando andam por aqui. É a alegria de viver do povo Mairum. Isto quem nos deu foi Maíra. (...) Os homens casados deixam-se também ficar conversando até alta noite. Quando vão, afinal, para suas casas, lá têm que relatar tudo que sabem e tudo que imaginam. Cada um fala longamente, deitado na sua rede, com um foguinho aceso, embaixo, para aquecer. As mulheres deitadas na rede de cima voltam-se, com a cabeça inclinada para baixo, indagando: - E o rancuãi dele é mesmo muito grande? É duro, duro como pedra? Não amolece nunca? Ele sururuca gostoso? Sururuca muito? - Acabam descendo para a rede de marido para tirar mais sumo do assunto.
Obrigada João! Que fantástico este "Brasis"! Estou a ver e a fruir e tenho sempre medo quando se interrompe... e só penso no que faria se eu o pudesse adquirir...
É bonito ver como o jogo post- comentário-post vai abrindo o leque deste blogue. Este documentário é uma dádiva para quem se interessa por "isso", esse tema do outro.
ResponderEliminarAqui se dizem coisas tão fundamentais como, a propósito do descobrimento do Brasil pelos portugueses, "Descoberta não é existência."
Ainda não vi todo o filme. Tanto que tem é para se ir vendo. Assim se aprende.
Agradeço a todos
É bom viver como ensinou Maíra. Às vezes pensamos que ele gosta mais dos caraíbas, mas a culpa bem pode ser nossa. Como nós só queremos rede e bubuia, ele deu a outros a obrigação de trabalhar duro, sem sossego, fazendo coisas. Nós não fomos feitos para isso. Somos bons é para namorar carinhoso e sururucar demorado. Também somos bons para a companheirada, porque nos vexa muito guardar as coisas com sovinice: gostamos de dar. E não nos afobamos. Mulher está aí mesmo para a gente namorar quando quiser. Amigos também há muitos para conversar, para jogar, para lutar. Comida, que é bom, nunca há de faltar. As roças todo o ano dão bastante mandioca e o peixe e a caça não hão de acabar.
ResponderEliminarO melhor das criações de Maíra é que sempre nas cem crianças para a gente com elas brincar, rir e criar com amor e paciência. É bom demais também pintar o corpo bonito de cores, passear, nadar, dançar, beber cauim, cantar e dar risada. É assim que gostamos de viver. É assim que Maíra gosta de nos ver. Até trabalhar moles devagarinho, não é ruim, sobretudo se não for na hora do sol quente.
Melhor ainda é descansar, deitar com mulher na rede de barriga cheia, dormir e sururucar demorado. Depois sair por aí para poxi-poxar juntos lá no mato e sururucar outra vez, se der vontade. Assim fazem Maíra e Micura quando andam por aqui. É a alegria de viver do povo Mairum. Isto quem nos deu foi Maíra.
(...)
Os homens casados deixam-se também ficar conversando até alta noite. Quando vão, afinal, para suas casas, lá têm que relatar tudo que sabem e tudo que imaginam. Cada um fala longamente, deitado na sua rede, com um foguinho aceso, embaixo, para aquecer. As mulheres deitadas na rede de cima voltam-se, com a cabeça inclinada para baixo, indagando: - E o rancuãi dele é mesmo muito grande? É duro, duro como pedra? Não amolece nunca? Ele sururuca gostoso? Sururuca muito? - Acabam descendo para a rede de marido para tirar mais sumo do assunto.
Darcy Ribeiro, in Maíra
Obrigada João! Que fantástico este "Brasis"! Estou a ver e a fruir e tenho sempre medo quando se interrompe... e só penso no que faria se eu o pudesse adquirir...
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