Muito contente de amanhecer com uma imagem de Alexeieff, paradigmática da sua obra. E quando digo sua, incluo a mulher com quem sempre trabalhou. Obrigada!
“Russian-born Alexander Alexeieff and the American Claire Parker are known best for their invention of a new technique in animation: the Pinscreen (called the pinboard until the mid-sixties). The pinscreen itself contains a large number of pins which can be pushed in or out to create variations from black to white, through various grays. The end result is very much like a mezzotint. While they have made pinscreens with as many as a million pins, Alexeieff and Parker did not labour over the position of each pin: instead, they would draw on the field with instruments to bring out the shading.
It was very important to them to do animated films as a fine art, rather than as slapstick comedy, and they felt the beauty of the pinscreen images allowed them to explore the artistic possibilities of animation. Their first film, Night on Bald Mountain, was enthusiastically received by the critics of the time. They also made commercial films, and animated books using the pinscreen. For information on a computer simulation of the pinscreen technique, see Pedro Faria Lopes' article, The Pinscreen in the Era of the Digital Image.
They did experiments with another animation technique, Totalization of Illusory Solids, which involves shooting footage of a moving object, normally a pendulum, throughout its entire path, creating the appearance of a solid object. The pendulum can then be moved, and re-shot, and the resulting film will show an illusory solid moving through space.
Their partnership lasted over 50 years; Parker died in 1981, Alexeieff in 1982.”
In, http://www.divxclasico.com/foro/viewtopic.php?t=32279
"São ilhas afortunadas, São terras sem ter lugar", disse Fernando Pessoa. Veio-me isto à ideia ao ver esta imagem. Ilustrar ilhas é trabalho que requer uma atenção particular. Os jogos de luz e sombra, a intensidade dos pontos de luz, a opção pelos tons sombrios da paisagem, a transparência e o tom quase azul das águas onde se refletem as árvores, tudo aqui se conjuga para adensar o mistério do lugar representado.
"/.../ O homem que queria um barco levantou-se do degrau da porta quando começou a ouvir correr os ferrolhos, enrolou a manta e pôs-se à espera. /.../ Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, dos que têm a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada, A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparate, já não há ilhas desconhecidas, Quem foi que te disse, rei, que já não há ilhas desconhecidas, Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas, E que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu to pudesse dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste tu falar dela, perguntou o rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse caso, por que teimas em dizer que ela existe, Simplesmente porque é impossível que não exista uma ilha desconhecida, E vieste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo dês, Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos, Mais lhes pertencerás tu a eles do que eles a ti, Que queres dizer, perguntou o rei, inquieto, Que tu, sem eles, és nada, e que eles, sem ti, poderão sempre navegar, Às minhas ordens, com os meus pilotos e os meus marinheiros, Não te peço marinheiros nem piloto, só te peço um barco, E essa ilha desconhecida, se a encontrares, será para mim, A ti, rei, só te interessam as ilhas conhecidas, Também me interessam as desconhecidas quando deixam de o ser, Talvez esta não se deixe conhecer, Então não te dou o barco, Darás. Ao ouvirem esta palavra, pronunciada com tranquila firmeza, os aspirantes à porta das petições, em quem, minuto após minuto, desde o princípio da conversa, a impaciência vinha crescendo, e mais para se verem livres dele do que por simpatia solidária, resolveram intervir a favor do homem que queria o barco, começando a gritar, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. O rei abriu a boca para dizer à mulher da limpeza que chamasse a guarda do palácio a vir restabelecer imediatamente a ordem pública e impor a disciplina, mas, nesse momento, as vizinhas que assistiam das janelas juntaram-se ao coro com entusiasmo, gritando como os outros, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. Perante uma tão iniludível manifestação da vontade popular e preocupado com o que, neste meio tempo, já haveria perdido na porta dos obséquios, o rei levantou a mão direita a impor silêncio e disse, Vou dar-te um barco, mas a tripulação terás de arranjá-la tu, os meus marinheiros são-me precisos para as ilhas conhecidas. Os gritos de aplauso do público não deixaram que se percebesse o agradecimento do homem que viera pedir um barco, aliás o movimento dos lábios tanto teria podido ser Obrigado, meu senhor, como Eu cá me arranjarei, mas o que distintamente se ouviu foi o dito seguinte do rei, Vais à doca, perguntas lá pelo capitão do porto, dizes-lhe que te mandei eu, e ele que te dê o barco, levas o meu cartão. O homem que ia receber um barco leu o cartão de visita, onde dizia Rei por baixo do nome do rei, e eram estas as palavras que ele havia escrito sobre o ombro da mulher da limpeza, Entrega ao portador um barco, não precisa ser grande, mas que navegue bem e seja seguro, não quero ter remorsos na consciência se as coisas lhe correrem mal. /.../"
RABO-DE-PALHA Para seduzir, não dispenso o cultuar; para aninhar, qualquer escarpa me calha. Como Phaethon, de quem sou familiar, ou a quem dizem que saio, sou flecha entre sol e mar. Porém, não caio.
"In the town where I was born Lived a man who sailed to sea And he told us of his life In the land of submarines
So we sailed up to the sun Till we found the sea of green And we lived beneath the waves In our yellow submarine
We all live ina a yellow submarine [...]
And our friends are all on board Many more of them live next door And the band begins to play We all live in a yellow submarine [...]
As we live a life of ease Everyone of us has all we need Sky of blue and sea of green In our yellow submarine
We all live in a yellow submarine [...] The Beatles (Ringo Starr), YELLOW SUBMARINE, G. B., 1966
Who had desired the Sea? - the sight of salt wind-hounded- The heave and the halt and the hurl and the crash of the comber win hounded? The sleek-barrelled swell before storm, grey, foamless, enormous, and growing- Stark calm on the lap of the line or the crazy-eyed hurricane blowing- His Sea in no showing the same his Sea and the same ´neath each showing: His Sea as the slackens or thrills? So and no otherwise - so and no otherwise - hillmen desire their Hills!
Who hath desire the Sea? - the immense and contemptuous surges? The shudder, the stumble, the swerve, as the star-stabbing bow-spirit emerges? The ordely clouds of the Trades, the ridged, roaring sapphire thereunder- Unheralded cliff-haunting flaws and the headsail´s low-volleying thunder- His Sea in no wonder the same his Sea and the same through each wonder: His Sea as she rages or stills? So and no otherwise- so and no otherwise- hillmen desire their Hills.
Who hath desired the Sea? Her menaces swift as her mercies? The in-rolling walls of the fog and the silver-winged breeze that disperses? The unstable mined berg going South and the calvings and groans that clare it- White watwe half-guessed overside and the moon breaking timely to bare it- His Sea as his fathers have dared - his Sea as his children shall dare it: His Sea as she serves him or kills? So and no otherwise- so and no otherwise- hillmen desire their Hills. (...) Rudyard Kipling, The Sea and the Hills
O World! O Life! O Time! On whose last steps I climb, Trembling at that where I had stood before; When will return the glory of your prime? No more -Oh, never more!
Out of the day and night A joy has taken flight: Fresh spring, and summer, and winter hoar Move my faint heart with grief, but with delight No more -Oh, never more!
« Et maintenant, au cœur de la nuit comme un veilleur, il découvre que la nuit montre l'homme : ces appels, ces lumières, cette inquiétude. Cette simple étoile dans l'ombre : l'isolement d'une maison. L'une s'éteint : c'est une maison qui se ferme sur son amour. »
Muito contente de amanhecer com uma imagem de Alexeieff, paradigmática da sua obra. E quando digo sua, incluo a mulher com quem sempre trabalhou. Obrigada!
ResponderEliminar“Russian-born Alexander Alexeieff and the American Claire Parker are known best for their invention of a new technique in animation: the Pinscreen (called the pinboard until the mid-sixties). The pinscreen itself contains a large number of pins which can be pushed in or out to create variations from black to white, through various grays. The end result is very much like a mezzotint. While they have made pinscreens with as many as a million pins, Alexeieff and Parker did not labour over the position of each pin: instead, they would draw on the field with instruments to bring out the shading.
It was very important to them to do animated films as a fine art, rather than as slapstick comedy, and they felt the beauty of the pinscreen images allowed them to explore the artistic possibilities of animation. Their first film, Night on Bald Mountain, was enthusiastically received by the critics of the time. They also made commercial films, and animated books using the pinscreen. For information on a computer simulation of the pinscreen technique, see Pedro Faria Lopes' article, The Pinscreen in the Era of the Digital Image.
They did experiments with another animation technique, Totalization of Illusory Solids, which involves shooting footage of a moving object, normally a pendulum, throughout its entire path, creating the appearance of a solid object. The pendulum can then be moved, and re-shot, and the resulting film will show an illusory solid moving through space.
Their partnership lasted over 50 years; Parker died in 1981, Alexeieff in 1982.”
In, http://www.divxclasico.com/foro/viewtopic.php?t=32279
"São ilhas afortunadas, São terras sem ter lugar", disse Fernando Pessoa. Veio-me isto à ideia ao ver esta imagem.
ResponderEliminarIlustrar ilhas é trabalho que requer uma atenção particular.
Os jogos de luz e sombra, a intensidade dos pontos de luz, a opção pelos tons sombrios da paisagem, a transparência e o tom quase azul das águas onde se refletem as árvores, tudo aqui se conjuga para adensar o mistério do lugar representado.
"/.../ O homem que queria um barco levantou-se do degrau da porta quando começou a ouvir correr os ferrolhos, enrolou a manta e pôs-se à espera. /.../ Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, dos que têm a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada, A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparate, já não há ilhas desconhecidas, Quem foi que te disse, rei, que já não há ilhas desconhecidas, Estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas, E que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu to pudesse dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste tu falar dela, perguntou o rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse caso, por que teimas em dizer que ela existe, Simplesmente porque é impossível que não exista uma ilha desconhecida, E vieste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-te um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo dês, Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos, Mais lhes pertencerás tu a eles do que eles a ti, Que queres dizer, perguntou o rei, inquieto, Que tu, sem eles, és nada, e que eles, sem ti, poderão sempre navegar, Às minhas ordens, com os meus pilotos e os meus marinheiros, Não te peço marinheiros nem piloto, só te peço um barco, E essa ilha desconhecida, se a encontrares, será para mim, A ti, rei, só te interessam as ilhas conhecidas, Também me interessam as desconhecidas quando deixam de o ser, Talvez esta não se deixe conhecer, Então não te dou o barco, Darás. Ao ouvirem esta palavra, pronunciada com tranquila firmeza, os aspirantes à porta das petições, em quem, minuto após minuto, desde o princípio da conversa, a impaciência vinha crescendo, e mais para se verem livres dele do que por simpatia solidária, resolveram intervir a favor do homem que queria o barco, começando a gritar, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. O rei abriu a boca para dizer à mulher da limpeza que chamasse a guarda do palácio a vir restabelecer imediatamente a ordem pública e impor a disciplina, mas, nesse momento, as vizinhas que assistiam das janelas juntaram-se ao coro com entusiasmo, gritando como os outros, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. Perante uma tão iniludível manifestação da vontade popular e preocupado com o que, neste meio tempo, já haveria perdido na porta dos obséquios, o rei levantou a mão direita a impor silêncio e disse, Vou dar-te um barco, mas a tripulação terás de arranjá-la tu, os meus marinheiros são-me precisos para as ilhas conhecidas. Os gritos de aplauso do público não deixaram que se percebesse o agradecimento do homem que viera pedir um barco, aliás o movimento dos lábios tanto teria podido ser Obrigado, meu senhor, como Eu cá me arranjarei, mas o que distintamente se ouviu foi o dito seguinte do rei, Vais à doca, perguntas lá pelo capitão do porto, dizes-lhe que te mandei eu, e ele que te dê o barco, levas o meu cartão. O homem que ia receber um barco leu o cartão de visita, onde dizia Rei por baixo do nome do rei, e eram estas as palavras que ele havia escrito sobre o ombro da mulher da limpeza, Entrega ao portador um barco, não precisa ser grande, mas que navegue bem e seja seguro, não quero ter remorsos na consciência se as coisas lhe correrem mal. /.../"
ResponderEliminarJosé Saramago, "O Conto da Ilha Desconhecida"
RABO-DE-PALHA
ResponderEliminarPara seduzir, não dispenso o cultuar;
para aninhar, qualquer escarpa me calha.
Como Phaethon, de quem sou familiar,
ou a quem dizem que saio,
sou flecha entre sol e mar.
Porém, não caio.
"In the town where I was born
Lived a man who sailed to sea
And he told us of his life
In the land of submarines
So we sailed up to the sun
Till we found the sea of green
And we lived beneath the waves
In our yellow submarine
We all live ina a yellow submarine [...]
And our friends are all on board
Many more of them live next door
And the band begins to play
We all live in a yellow submarine [...]
As we live a life of ease
Everyone of us has all we need
Sky of blue and sea of green
In our yellow submarine
We all live in a yellow submarine
[...]
The Beatles (Ringo Starr), YELLOW SUBMARINE, G. B., 1966
The Sick Rose
ResponderEliminarO rose thou art sick,
The invisible worm,
That flies in the night
In the howling storm
Has found out thy bed
Of crimson joy;
And his dark secret love
Does thy life destroy.
William Blake
The Sea and the Hills
ResponderEliminarWho had desired the Sea? - the sight of salt wind-hounded-
The heave and the halt and the hurl and the crash of the comber win hounded?
The sleek-barrelled swell before storm, grey, foamless, enormous, and growing-
Stark calm on the lap of the line or the crazy-eyed hurricane blowing-
His Sea in no showing the same his Sea and the same ´neath each showing:
His Sea as the slackens or thrills?
So and no otherwise - so and no otherwise - hillmen desire their Hills!
Who hath desire the Sea? - the immense and contemptuous surges?
The shudder, the stumble, the swerve, as the star-stabbing bow-spirit emerges?
The ordely clouds of the Trades, the ridged, roaring sapphire thereunder-
Unheralded cliff-haunting flaws and the headsail´s low-volleying thunder-
His Sea in no wonder the same his Sea and the same through each wonder:
His Sea as she rages or stills?
So and no otherwise- so and no otherwise- hillmen desire their Hills.
Who hath desired the Sea? Her menaces swift as her mercies?
The in-rolling walls of the fog and the silver-winged breeze that disperses?
The unstable mined berg going South and the calvings and groans that clare it-
White watwe half-guessed overside and the moon breaking timely to bare it-
His Sea as his fathers have dared - his Sea as his children shall dare it:
His Sea as she serves him or kills?
So and no otherwise- so and no otherwise- hillmen desire their Hills.
(...)
Rudyard Kipling, The Sea and the Hills
O World! O Life! O Time!
ResponderEliminarOn whose last steps I climb,
Trembling at that where I had stood before;
When will return the glory of your prime?
No more -Oh, never more!
Out of the day and night
A joy has taken flight:
Fresh spring, and summer, and winter hoar
Move my faint heart with grief, but with delight
No more -Oh, never more!
Percy Bysshe Shelley
« Et maintenant, au cœur de la nuit comme un veilleur, il découvre que la nuit montre l'homme : ces appels, ces lumières, cette inquiétude. Cette simple étoile dans l'ombre : l'isolement d'une maison. L'une s'éteint : c'est une maison qui se ferme sur son amour. »
ResponderEliminarSaint-Exupéry, "Le Vol de Nuit"