quarta-feira, 25 de junho de 2014

The Natchez. Eugène Delacroix

Eugène Delacroix, The Natchez, 1835

Nota do Metropolitan Museum of Art
In 1823, Delacroix began to paint this scene from Chateaubriand’s widely read Romantic novel Atala, which narrates the fate of the Natchez tribe in the wake of the French and Indian War (1754–63). After putting the canvas aside for about a decade, he finally completed the picture for the Paris Salon of 1835. In the catalogue, Delacroix provided this explanatory note: "Fleeing the massacre of their tribe, two young savages traveled up the Mississippi River. During the voyage, the woman was taken by pain of labor. The moment is that when the father holds the newborn in his hands, and both regard him tenderly."

16 comentários:

  1. "Il est dans les extrêmes plaisirs, un aiquillon qui nous éveille, comme pour nous avertir de profiter de ce moment rapide: dans les grandes douleurs, au contraire, je ne sais quoi de pesant nous endort."

    François de Chateaubriand, Atala, Paris, Gallimard, 1999.

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  2. De tous mes manuscrits sur l’Amérique, je n’ai sauvé que quelques fragmens, en particulier Atala, qui n’étoit qu’un épisode des Natchez. Atala a été écrite dans le désert, et sous les huttes des Sauvages. Je ne sais si le Public goûtera cette histoire qui sort de toutes les routes connues, et qui présente une nature et des moeurs tout-à-fait étrangères à l’Europe. Il n’y a point d’aventures dans Atala. C’est une sorte de poëme (2), moitié descriptif, moitié dramatique : tout consiste dans la peinture de deux amans qui marchent et causent dans la solitude ; tout gît dans le tableau des troubles de l’amour, au milieu du calme des déserts, et du calme de la religion. J’ai donné à ce petit ouvrage les formes les plus antiques ; il est divisé en prologue, récit et épilogue. Les principales parties du récit prennent une dénomination, comme les chasseurs, les laboureurs, etc. ; et c’étoit ainsi que dans les premiers siècles de la Grèce, les Rapshodes chantoient, sous divers titres, les fragmens de l’Iliade et de l’Odyssée. Je ne dissimule point que j’ai cherché l’extrême simplicité de fonds et de style, la partie descriptive exceptée ; encore est-il vrai, que dans la description même, il est une manière d’être à-la-fois pompeux et simple. Dire ce que j’ai tenté, n’est pas dire ce que j’ai fait. Depuis long-temps je ne lis plus qu’Homère et la Bible ; heureux si l’on s’en apperçoit, et si j’ai fondu dans les teintes du désert, et dans les sentimens particuliers à mon coeur, les couleurs de ces deux grands et éternels modèles du beau et du vrai.
    Je dirai encore que mon but n’a pas été d’arracher beaucoup de larmes ; il me semble que c’est une dangereuse erreur, avancée, comme tant d’autres, par M. de Voltaire, que les bons ouvrages sont ceux qui font le plus pleurer. Il y a tel drame dont personne ne voudroit être l’auteur, et qui déchire le coeur bien autrement que l’Enéide. On n’est point un grand écrivain, parce qu’on met l’ame à la torture. Les vraies larmes sont celles que fait couler une belle poésie ; il faut qu’il s’y mêle autant d’admiration que de douleur.

    François-Auguste de chateuabriand, in Préface, Atala, Paris, Gallimard, 1999.

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  3. Em
 poucas
 décadas
 desapareceram
 as
 povoações
 indígenas
 que
 as
 caravelas
 do
 descobrimento
 encontraram
 por
 toda
 a
 costa
 brasileira
 e
 os
 primeiros
 cronistas
 contemplaram
 maravilhados.
 Em
 seu
 lugar
 haviam
 se
 instalado
 três
 tipos
 novos
 de
 povoações.
 O
 primeiro
 e
 principal,
 formado
 pelas
 concentrações
 de
 escravos
 africanos
 dos
 engenhos
 e
 portos.
 Outro,
 disperso
 pelos
 vilarejos
 e
 sítios
 da
 costa
 ou
 pelos
 campos
 de
 criação
 de
 gado,
 formado
 principalmente
 por
 mamelucos
 e
 brancos
 pobres.
 O
 terceiro
 esteve
 constituído
 pelos
 índios
 incorporados
 à
 empresa
 colonial
 como
 escravos
 de
 outros
 núcleos
 ou
 concentrados
 nas
 aldeias,
 algumas
 das
 quais
 conservavam
 sua
 autonomia,
 enquanto
 outras
 eram
 regidas
 por
 missionários.


    

Apesar
 de
 o
 projeto
 jesuítico
 de
 colonização
 do
 Brasil
 nascente
 ter
 sido
 formulado
 sem
 qualquer
 escrúpulo
 humanitário,
 tal
 foi
 a
 ferocidade
 da
 colonização
 leiga,
 que
 estalou,
 algumas
 décadas
 depois,
 um
 sério
 conflito
 entre
 os
 padres
 da
 Companhia
 e
 os
 povoadores
 dos
 núcleos
 agrário‐ mercantis.
 Para
 os
 primeiros,
 os
 índios,
 então
 em
 declínio
 e
 ameaçados
 de
 extinção,
 passaram
 a
 ser
 criaturas
 de
 Deus
 e
 donos
 originais
 da
 terra,
 com
 direito
 a
 sobreviver
 se
 abandonassem
 suas
 heresias
 para
 se
 incorporarem
 ao
 rebanho
 da
 Igreja,
 na
 qualidade
 de
 operários
 da
 empresa
 colonial
 recolhidos
 às
 missões.
 Para
 os
 colonos,
 os
 índios
 eram
 um
 gado
 humano,
 cuja
 natureza,
 mais
 próxima
 de
 bicho
 que
 de
 gente,
 só
 os
 recomendava
 à
 escravidão.



    Darcy Ribeiro, in O Povo Brasileiro, A formação e sentido do Brasil

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  4. Depois
 de
 transigir
 sem
 limites (os missionários), interpretando
 em
 tom
 transcendental
 a
 conquista
 como
 mal
 necessário,
 a
 porta
 da
 estrada
 que
 se
 abriria
 ao
 caminho
 da
 fé
 pelo
 flagelo,
 caíram
 em
 si
 e
 começaram
 a
 ver
 seu
 próprio
 papel
 conivente.



    

Durante
 décadas
 não
 disseram
 nenhuma
 palavra
 de
 piedade
 pelos
 milhares
 de
 índios
 mortos,
 pelas
 aldeias
 incendiadas,
 pelas
 crianças,
 pelas
 mulheres
 e
 homens
 escravizados,
 aos
 milhões.
 Tudo
 isso
 eles
 viram
 silentes.
 Ou
 até
 mesmo,
 como
 Anchieta,
 cantando
 essas
 façanhas
 em
 milhares
 de
 versos
 servis.
 Para
 eles,
 toda
 aquela
 dor
 era
 dor
 necessária
 para 
colorir
 as
 faces
 da
 aurora,
que
 eles
 viam
amanhecendo.
 Só
 tardiamente
 caíram
 em
 si,
 vendo‐se
 vencidos
 primeiro
 na
 evangelização,
 depois
 na
 reclusão
 dos
 índios
 nas
 missões.
 Entretanto,
 nenhum
 desastre
 histórico,
 nenhum
 projeto
 utópico
 anterior
 teve
 tal
 altitude,
 porque
 nenhuma
 esperança
 até
 então
 fora
 tão
 alentadora
 e
 pudera
 ser
 levada
 tão
 adiante,
 a
 demonstrar
 a
 factibilidade
 de
 reconstruir
 intencionalmente
 a
 sociedade
 segundo
um
 projeto.


    

A
 utopia
 jesuítica
 esboroou
 e
 os
 inacianos
 foram
 expulsos
 das
 Américas,
 entregando,
 inermes,
 desvirilizados,
 os
 seus
 catecúmenos
 ao
 sacrifício
 e
 à
 escravidão
 na
 mão
 possessa
 dos
 colonos.
 O
 mesmo
 aconteceu
 com
 o
 sonho
 mirífico
 dos
 franciscanos,
 reduzido
 à
 visão
 do
 que
 era
 a
 boçalidade
 do
 mundo colonial,
 ínvio, 
ímpio 
e
 bruto.



    Darcy Ribeiro, in O Povo Brasileira, A formação e sentido do Brasil

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  5. Milhares
 de
 índios
 foram
 incorporados
 por
 essa
 via
 à
 sociedade
 colonial.
 Incorporados
 não
 para
 se
 integrarem
 nela
 na
 qualidade
 de
 membros,
 mas
 para
serem
 desgastados 
até
 a
 morte,
 servindo
 como
 bestas
 de
 carga
 a
 quem
 deles
 se
apropriava.
 Assim
 foi
 ao
 longo
 dos
 séculos,
 uma
 vez
 que
 cada
 frente
 de
 expansão
 que
 se
 abria
 sobre
 uma
 área
 nova,
 deparando
 lá
 com
 tribos
 arredias,
 fazia
 delas
imediatamente
 um
 manancial
 de
 trabalhadores 
cativos
 e
 de
 mulheres
 capturadas
 para
 o
 trabalho
 agrícola,
 para
 a
 gestação
 de
 crianças
 e
 para
 o
 cativeiro
 doméstico.



    

Custando
 uma
 quinta
 parte
 do
 preço
 de
 um
 negro
 importado,
 o
 índio
 cativo
 se
 converteu
 no
 escravo
 dos
 pobres,
 numa
 sociedade
 em
 que
 os
 europeus
 deixaram
 de
 fazer
 qualquer
 trabalho
 manual.
 Toda
 tarefa
 cansativa,
 fora
 do
 eito
 privilegiado
 da
 economia
 de
 exportação,
 que
 cabia
 aos
 negros,
 recaía
 sobre 
o
 índio.



    

O
 apresamento
 sempre
 foi
 tido
 como
 prática
 louvável
 e
 até
 mesmo
 como
 técnica
 de
 conversão.
 O
 próprio
 Nóbrega,
 nos
 seus
 planos
 de
 colonização,
 desaconselha
 a
 vinda
 de
 colonos
 tão
 pobres
 que
 não
 pudessem
 comprar
 logo
 índios
 cativos
 para
 pôr
 a
 seu
 serviço,
 sugerindo
 que
 só
 fossem
 mandados
 para
 cá
 os
 abonados
 que
 tivessem
 condições
 de
 adquiri‐los.
 É
 certo
 que
 ele,
 como
 os
 outros
 jesuítas,
 quiseram
 pôr
 termo
 à
 ganância
 dos
 colonos
 que
 degenerara
 em
 práticas
 que
 estavam
 esgotando
 a
 população
 indígena
 em
 prejuízo
 para
 a
 colonização.
 Ainda
 que
 fosse
 por
 sua
 posição
 de
competidor,
 uma
 vez
 que 
tinha 
outra
 destinação
 a
 dar
aos
 índios,
o
 certo
 é
 que
 tinha
 a
 visão
 clara
 sobre
 a
 necessidade
 de
 grande
 concentração
 .de
 índios
 nas
 vilas
 missionárias
 e
 a
 serviço
 dos
 fazendeiros,
 como
 o
 principal
 mecanismo
 consolidador
 da
 empresa
 colonial.



    Darcy Ribeiro, O Povo Brasileira, A formação e sentido do Brasil

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  6. During the four centuries spanning the time between 1492, when Christopher Columbus first set foot on the 'New World' of a Caribbean beach and 1892, when the U.S. Census Bureau concluded that there were fewer than a quarter-million indigenous people surviving within the country's boundaries, a hemispheric population estimated to have been as great as 125 million was reduced by something over 90 percent. The people had died in their millions of being hacked apart with axes and swords, buried alive and trampled under horses, hunted as game and fed to dogs, shot, beaten, stabbed, scalped for bounty, hanged on meathooks and thrown over the sides of ships at sea, worked to death as slave labourers, intentionally starved and frozen to death during a multitude of forced marches and internments, and, in an unknown number of instances, deliberately infected with epidemic diseases" .

    (...) All told, it is probable that more than one hundred million native people were 'eliminated' in the course of Europe's ongoing 'civilization' of the western hemisphere.

    Ward Churchill, A Little Mater of Genocide: Holocaust and Denisl in the Americas, 1492 to the Present

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  7. "I saw five squaws under a bank for shelter. When the troops came up to them they ran out and showed their persons, to let the soldiers know they were squaws and begged for mercy, but the soldiers shot them all...There were some thirty or forty squaws collected in a hole for protection; they sent out a little girl about six years old with a white flag on a stick; she had not proceeded but a few steps when she was shot and killed. All the squaws in the hole were afterwards killed... The squaws offered no resistance. Every one I saw dead was scalped. I saw one squaw cut open with an unborn child, as I thought, lying by her side...I saw quite a number of infants in arms killed with their mothers."

    (Robert Bent, in US Senate report "The Chivington Massacre")

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  8. History not taught is History forgot - Columbus' legacy of Genocide

    Columbus and the beginning of Genocide in "the New World"
    (...)
    The 1492 "voyage of discovery" is, however, hardly all that is
    at issue. In 1493 Columbus returned with an invasion force of
    seventeen ships, appointed at his own request by the Spanish Crown to
    install himself as "viceroy and governor of [the Caribbean islands]
    and the mainland" of America, a position he held until
    1500. Setting up shop on the large island he called Espa–ola (today
    Haiti and the Dominican Republic), he promptly instituted policies of
    slavery (encomiendo) and systematic extermination against the native
    Taino population. Columbus's programs reduced Taino numbers from as
    many as eight million at the outset of his regime to about three
    million in 1496. Perhaps 100,000 were left by the time of the
    governor's departure. His policies, however, remained, with the
    result that by 1514 the Spanish census of the island showed barely
    22,000 Indians remaining alive. In 1542, only two hundred were
    recorded. Thereafter, they were considered extinct, as were Indians
    throughout the Caribbean Basin, an aggregate population which totaled
    more than fifteen million at the point of first contact with the
    Admiral of the Ocean Sea, as Columbus was known.
    This, to be sure, constitutes an attrition of population in
    real numbers every bit as great as the toll of twelve to fifteen
    million about half of them Jewish most commonly attributed to
    Himmler's slaughter mills. Moreover, the proportion of indigenous
    Caribbean population destroyed by the Spanish in a single generation
    is, no matter how the figures are twisted, far greater than the
    seventy-five percent of European Jews usually said to have been
    exterminated by the Nazis. Worst of all, these data apply only to the
    Caribbean Basin; the process of genocide in the Americas was only just
    beginning at the point such statistics become operant, not ending, as
    they did upon the fall of the Third Reich. All told, it is probable
    that more than one hundred million native people were "eliminated" in
    the course of Europe's ongoing "civilization" of the Western
    Hemisphere.
    It has long been asserted by "responsible scholars" that this
    decimation of American Indians which accompanied the European invasion
    resulted primarily from disease rather than direct killing or
    conscious policy. There is a certain truth to this, although
    starvation may have proven just as lethal in the end. It must be borne
    in mind when considering such facts that a considerable portion of
    those who perished in the Nazi death camps died, not as the victims of
    bullets and gas, but from starvation, as well as epidemics of typhus,
    dysentery, and the like. Their keepers, who could not be said to have
    killed these people directly, were nonetheless found to have been
    culpable in their deaths by way of deliberately imposing the
    conditions which led to the proliferation of starvation and disease
    among them. Certainly, the same can be said of Columbus's regime,
    under which the original residents were, as a first order of business,
    permanently dispossessed of their abundant cultivated fields while
    being converted into chattel, ultimately to be worked to death for the
    wealth and "glory" of Spain.

    Ward Churchill, Indians are Us

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  9. Neste seu quadro, Delacroix optou pela transposição de uma cena da literatura para a pintura, e levou 12 anos a conclui-la. Em contraste, o gosto pelo exotismo dos protagonistas e a banalidade de um enredo que, alusivo às vicissitudes experienciadas por um povo, poderia ter encontrado equivalente em muitas outras geografias e/ou tempos históricos. Mas não é isso que conta. O que conta é a representação da natureza humana nos seus sentimentos mais genuínos, a mesma em qualquer lugar. Numa outra transposição: da vida para a tela.
    É notável a amenidade e a simpatia com que Delacroix retrata "o outro". O dramatismo da situação ressalta com maior intensidade da paisagem envolvente do que da expressão dos protagonistas, enlevados de ternura pelo recém-nascido.
    No livro de Georges Bataille "As Lágrimas de Eros", Delacroix é referenciado. Diz o autor: "Mesmo que fiel, no seu conjunto, à pintura idealista, Delacroix pendeu para uma pintura nova e, no plano do erotismo, ligou-a à representação da morte."
    (1984) Lisboa: uma edição & etc. (p. 49)

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    1. Esqueci-me de referenciar o caráter andrógino das figuras.

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  10. GAVIÃO DO MISSISSIPI
    Cauda longa, negra, impante,
    olho orlado de vermelho escuro,
    são ratos e lagartos que procuro
    sobrevoando mata ou pasto ardente.
    Vislumbrados, mergulho em voo rasante
    p´ra depois subir co'as brisas ascendentes.

    "Suspendus sur le cours des eaux, groupés sur les rochers et sur les montagnes, dispersés dans les vallées, des arbres de toutes les formes, de toutes les couleurs, de tous les parfums, se mêlent, croissent ensemble, montent dans les airs à des hauteurs qui fatiguent les regards. Les vignes sauvages, au pied de ces arbres, escaladent leurs rameaux, grimpent à l'extrémité des branches, s'élancent de l'érable au tulipier, du tulipier à l'alcée, en formant mille grottes, mille voûtes, mille portiques. Souvent, égarées d'arbre en arbre, ces lianes traversent des bras de rivières, sur lesquelles elles jettent des ponts de fleurs."

    ATALA, par de Vte de Chateaubriand.
    Avec les dessins de Gustave Doré, Paris, Lib. de L. Hachette et Cie., 1863, p. 3.

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  11. (...)
    Depois de 45 anos desaparecido, um dos documentos mais importantes produzidos pelo Estado brasileiro no último século, o chamado Relatório Figueiredo, que apurou matanças de tribos inteiras, torturas e toda sorte de crueldades praticadas contra indígenas no país – principalmente por latifundiários e funcionários do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI) –, ressurge quase intacto. Supostamente eliminado em um incêndio no Ministério da Agricultura, ele foi encontrado recentemente no Museu do Índio, no Rio, com mais de 7 mil páginas preservadas e contendo 29 dos 30 tomos originais.

    Em uma das inúmeras passagens brutais do texto, a que o Estado de Minas teve acesso e publica na data em que se comemora o Dia do Índio, um instrumento de tortura apontado como o mais comum nos postos do SPI à época, chamado “tronco”, é descrito da seguinte maneira: “Consistia na trituração dos tornozelos das vítimas, colocadas entre duas estacas enterradas juntas em um ângulo agudo. As extremidades, ligadas por roldanas, eram aproximadas lenta e continuamente”.

    (...)
    Entre denúncias de caçadas humanas promovidas com metralhadoras e dinamites atiradas de aviões, inoculações propositais de varíola em povoados isolados e doações de açúcar misturado a estricnina, o texto redigido pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia ressuscita incontáveis fantasmas e pode se tornar agora um trunfo para a Comissão da Verdade, que apura violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988.

    A investigação, feita em 1967, em plena ditadura, a pedido do então ministro do Interior, Albuquerque Lima, tendo como base comissões parlamentares de inquérito de 1962 e 1963 e denúncias posteriores de deputados, foi o resultado de uma expedição que percorreu mais de 16 mil quilômetros, entrevistou dezenas de agentes do SPI e visitou mais de 130 postos indígenas. Jader de Figueiredo e sua equipe constataram diversos crimes, propuseram a investigação de muitos mais que lhes foram relatados pelos índios, se chocaram com a crueldade e bestialidade de agentes públicos. Ao final, no entanto, o Brasil foi privado da possibilidade de fazer justiça nos anos seguintes. Albuquerque Lima chegou a recomendar a demissão de 33 pessoas do SPI e a suspensão de 17, mas, posteriormente, muitas delas foram inocentadas pela Justiça.

    Os únicos registros do relatório disponíveis até hoje eram os presentes em reportagens publicadas na época de sua conclusão, quando houve uma entrevista coletiva no Ministério do Interior, em março de 1968, para detalhar o que havia sido constatado por Jader e sua equipe. A entrevista teve repercussão internacional, merecendo publicação inclusive em jornais como o New York Times. No entanto, tempos depois da entrevista, o que ocorreu não foi a continuação das investigações, mas a exoneração de funcionários que haviam participado do trabalho. Quem não foi demitido foi trocado de função, numa tentativa de esconder o acontecido. Em 13 de dezembro do mesmo ano o governo militar baixou o Ato Institucional nº 5, restringindo liberdades civis e tornando o regime autoritário mais rígido.

    O vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais, Marcelo Zelic (...), afirma que o Relatório Figueiredo já havia se tornado motivo de preocupação para setores que possivelmente estão envolvidos nas denúncias da época antes de ser achado. “Já tem gente que está tentando desqualificar o relatório, acho que por um forte medo de ele aparecer, as pessoas estão criticando o documento sem ter lido" acusa.
    (...)
    Filipe Canêdo, publicação de 19/04/2013

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  12. Suplícios
    O contexto desenvolvimentista da época e o ímpeto por um Brasil moderno encontravam entraves nas aldeias. O documento relata que índios eram tratados como animais e sem a menor compaixão. “É espantoso que existe na estrutura administrativa do país repartição que haja descido a tão baixos padrões de decência. E que haja funcionários públicos cuja bestialidade tenha atingido tais requintes de perversidade. Venderam-se crianças indefesas para servir aos instintos de indivíduos desumanos. Torturas contra crianças e adultos em monstruosos e lentos suplícios”, lamentava Figueiredo. Em outro trecho contundente, o relatório cita chacinas no Maranhão, em que “fazendeiros liquidaram toda uma nação”. Uma CPI chegou a ser instaurada em 1968, mas o país jamais julgou os algozes que ceifaram tribos inteiras e culturas milenares.
    Filipe Canêdo, publicação de 19/04/2013

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  13. O extermínio dos índios na história do nosso País
    Por Yuri Arraes (*)

    Recentemente me deparei com uma notícia intitulada: “Índios anunciam suicídio coletivo no MS”. Sem pensar duas vezes abri para analisar o conteúdo: uma carta assinada pelos líderes da aldeia Guarani-Kaiowá anuncia o suicídio coletivo de 170 pessoas (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) em razão de uma decisão recente da Justiça Federal.

    De acordo com a carta, os habitantes da aldeia serão expulsos da margem do rio Hovy no município de Naviraí em Mato Grosso do Sul. Senti-me aterrorizado e decepcionado, porém, o pior de tudo é que essas não são as primeiras mortes sem sentido dos verdadeiros brasileiros e essa não é a primeira decisão judicial com o intuito de eliminar os povos indígenas.

    Desde 1500, ano em que os doze mil colonizadores europeus chegaram à região que hoje é denominada Brasil, os índios têm sido vítimas do capitalismo. O território que antes pertencia aos cinco milhões de indígenas e era a fonte de sua subsistência passou a ser explorado de maneira nem um pouco razoável pela coroa portuguesa. Seria simples se acabasse por aí, afinal, os nativos não precisavam de riqueza, apenas de um pouco de terra para habitar, caçar, colher e cultuar seus deuses, talvez até pudessem partilhar do paraíso com aqueles que haviam chegado da Europa. Mas para os seres civilizados isso não bastava, eles precisavam de mais.

    Os doze mil colonizadores ampliaram seu território, trouxeram a religião, importaram escravos, multiplicaram-se, esgotaram as riquezas da terra e hoje são cento e noventa milhões de habitantes de um país independente. No entanto, nesse mesmo período, os índios foram exterminados, perderam suas terras e hoje são obrigados a habitar locais que ninguém mais precisa, dos quais não se extrai renda, e a viver de maneira desumana (temos como exemplo os Guarani-Kaiowá, que se alimentam apenas uma vez por dia).

    Eu hei de lembrá-los que recentemente, no Amazonas, mil índios foram levados Atalaia do Norte por candidatos a cargos eletivos municipais para que pudessem votar nessas eleições, porém, após serem derrotados nas urnas, os aspirantes a representantes do poder povo desapareceram da cidade, deixando os eleitores em condições precárias, fazendo com que duas crianças morressem de diarreia e ainda deixando outras trinta e três internadas em um hospital.

    São fatos assim que nos fazem questionar se o verdadeiro povo brasileiro realmente tem poder e se há alguém realmente capaz de representá-lo.

    Atualmente a população indígena é formada por aproximadamente quinhentos mil índios. Conclui-se, portanto, que em cinco séculos acabamos com 90% da nossa história e que eliminamos a nossa própria cultura para que poucos ociosos habitem terras que não os pertencem e se mantenham ricos. Que país é esse em que se humilham e matam pessoas em nome de uma campanha política? Que justiça é essa que faz com que 170 pessoas clamem pela própria extinção? Pessoas assim não sabem o que é a Constituição, pois nunca usufruíram de nenhum direito. Os índios perderam tudo, inclusive aquilo que dizem ser a última coisa a se perder: a esperança. E eu não consigo sentir nada ao pensar nisso além de vergonha de ser brasileiro.


    (*)Yuri Arraes é acadêmico de Direito.

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  14. /…/
    Là dorment dans l'oubli des poètes sans gloire,
    Des orateurs sans voix, des héros sans victoire :
    Que dis-je ? des Titus faits pour être adorés.
    Mais si le sort voila tant de vertus sublimes,
    Sous ces arbres en deuil combien aussi de crimes
    Le silence et la mort n'ont-ils point dévorés !
    Loin d'un monde trompeur, ces bergers sans envie,
    Emportant avec eux leurs tranquilles vertus,
    Sur le fleuve du temps passagers inconnus,
    Traversèrent sans bruit les déserts de la vie.
    Une pierre, aux passants demandant un soupir,
    Du naufrage des ans a sauvé leur mémoire ;
    Une Muse ignorante y grava leur histoire
    Et le texte sacré qui nous aide à mourir.
    En fuyant pour toujours les champs de la lumière.
    Qui ne tourne la tête au bout de la carrière ?
    L'homme qui va passer cherche un secours nouveau :
    Que la main d'un ami, que ses soins chers et tendres,
    Entrouvrent doucement la pierre du tombeau !
    Le feu de l'amitié vit encor dans nos cendres.
    Pour moi qui célébrai ces tombes sans honneurs,
    Si quelque voyageur, attiré sur ces rives
    Par l'amour de rêver et le charme des pleurs,
    S'informe de mon sort dans ses courses pensives,
    Peut-être un vieux pasteur, en gardant ses troupeaux,
    Lui fera simplement mon histoire en ces mots :
    " Souvent nous l'avons vu, dans sa marche posée,
    Au souris du matin, dans l'orient vermeil,
    Gravir les frais coteaux à travers la rosée,
    Pour admirer au loin le lever du soleil.
    Là-bas, près du ruisseau, sur la mousse légère,
    A l'ombre du tilleul que baigne le courant,
    Immobile il rêvait, tout le jour demeurant
    Les regards attachés sur l'onde passagère.
    Quelquefois dans les bois il méditait ses vers
    Au murmure plaintif du feuillage et des airs.
    Un matin nos regards, sous l'arbre centenaire,
    Le cherchèrent en vain au repli du ruisseau ;
    L'aurore reparut, et l'arbre et le coteau,
    Et la bruyère encor, tout étoit solitaire.
    Le jour suivant, hélas ! à la file allongé.
    Un convoi s'avança par le chemin du temple.
    Approche, voyageur ! lis ces vers, et contemple
    Ce triste monument que la mousse a rongé.

    François-René de Chateaubriand

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  15. A LITTLE MATTER OF GENOCIDE by Ward Churchill
    by JF

    First, I must say, this is quite probably the single most footnoted, citationed book I have ever read; so for anybody seeking to FACTUALLY counter Churchill’s contentions, they first have Churchill’s immense mountain of historical source material with which to surmount.

    Apparently, from what I have been able to glean on the Internet, the publication of this book has won for the author many enemies, and caused him to have to endure much suffering, both vocationally and personally.

    I can certainly see why.

    All Churchill does is to document that the genocide of the Native Americans by the past and present American government was worse than the holocaust of Jewish people perpetrated by Hitler’s Nazi regime; oh, and as if that wasn’t enough, he also documents how shockingly common it is for leading modern-day Zionist spokespersons to do the exact same denial-of-the-facts thing in reference to the Native American Holocaust that these Zionist spokespersons are always accusing modern neo-Nazi “Holocaust deniers” of doing. So the message of this book is extremely incendiary indeed, and the forces that Churchill is factually offending here are quite politically powerful. Little wonder the guy has been the target of much persecution for having published this in 1997.

    This book is actually a collection of stand-alone essays, so there are no chapters, so to speak, and so there is not much chronological or topical cohesion between any two of them. This fact, along with the fact that Churchill writes in a very academic style obviously intended first and foremost for the inspection–and the grilling–of other academic types, renders this book to be not a remarkably enjoyable read for the recreational reader. But for ideological non-academic dissidents like myself, the unpopular factual history presented herein, and the overall iconoclastic outlook of Churchill, make this well worth reading, and well worth keeping on the shelf for reference–because most modern Americans–especially self-professed Bible-believing types like myself–simply will never believe what hideous, grotesque genocidal attrocities their “God-breathed” country and countrymen have done in the past.

    For me, easily the most interesting essay came at about the mid-point of the book, and it is the one which dealt most specifically with the historical events of the 1800s U.S.A.-perpetrated genocide of the Native Americans. The essays both before and after this one dealt more with current ideological arguments made about that genocide, or about the nature and definition of the word “genocide” itself. But the historical essay in the middle was by far the most enjoyable–not that it didn’t sicken me in quite a few parts. What I found enjoyable was that here I was reading actual, utterly shameful U.S. history that had been heretofore hidden from my eyes. But now it wasn’t hidden from me anymore. That’s what I liked about this book.
    (...)

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