Por mim, e por vós, e por mais aquilo que está onde as outras coisas nunca estão, deixo o mar bravo e o céu tranqüilo: quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens. E como o conheces? - me perguntarão. - Por não ter palavras, por não ter imagens. Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada. Viajo sozinha com o meu coração. Não ando perdida, mas desencontrada. Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte. Voou meu amor, minha imaginação... Talvez eu morra antes do horizonte. Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra. (Beijo-te, corpo meu, todo desilusão! Estandarte triste de uma estranha guerra...) Quero solidão.
“Principiou como banquete e converteu-se em festim, mal se sabe como. As altas chamas tremulavam, as vozes estrugiam, confusas canções jorravam dos cristais e das luzes; e finalmente dos ritmos amadurecidos brotou a dança. E a todos arrastou. Era um bater de vagas pela sala _ um encontrar-se e um escolher-se, um despedir-se e reencontrar-se, um embriagar-se de brilho e um cegar-se de luz.”
“A câmara da torre está apagada. Mas eles iluminam seus rostos com sorrisos. Tateiam diante de si como cegos e encontram o outro como uma porta. Quase como crianças assustadas diante da noite, apertam-se um ao outro. No entanto nada temem.Não há nada contra eles: nenhum ontem e nenhum amanhã, pois o tempo se desmoronou. E Ele não pergunta: ‘Teu marido? ‘Ela não pergunta: ‘Teu nome?’ Encontram-se, na verdade,para serem um para o outro,uma nova estirpe. Darão um ao outro cem nomes novos, e tornarão a tirá-los todos,um do outro, de leve,como se tira um brinco de uma orelha.”
Rainer Maria Rilke. Livro “A canção de amor e morte do porta-estandarte Cristovão Rilke”.
Mark Isham fluegelhorn, trumpets, synthesizer, percussion Art Lande piano, synthesizer, percussion Recorded January 1987 at Rainbow Studio, Oslo Engineer: Jan Erik Kongshaug Produced by Manfred Eicher
“All art is at once surface and symbol.” –Oscar Wilde
Tu n'en reviendras pas toi qui courais les filles Jeune homme dont j'ai vu battre le coeur à nu Quand j'ai déchiré ta chemise et toi non plus Tu n'en reviendras pas vieux joueur de manille Qu'un obus a coupé par le travers en deux Pour une fois qu'il avait un jeu du tonnerre Et toi le tatoué l'ancien Légionnaire Tu survivras longtemps sans visage sans yeux Roule au loin roule train des dernières lueurs Les soldats assoupis que ta danse secoue Laissent pencher leur front et fléchissent le cou Cela sent le tabac la laine et la sueur Comment vous regarder sans voir vos destinées Fiancés de la terre et promis des douleurs La veilleuse vous faite de la couleur des pleurs Vous bougez vaguement vos jambes condamnées Vous étirez vos bras vous retrouvez le jour Arrêt brusque et quelqu'un crie Au jus là-dedans Vous baillez Vous avez une bouche et des dents Et le caporal chante Au pont de Minaucourt Déjà la pierre pense où votre nom s'inscrit Déjà vous n'êtes plus qu'un mot d'or sur nos places Déjà le souvenir de vos amours s'efface Déjà vous n'êtes plus que pour avoir péri.
PERDIZ GREGA na fonte de Castália ou faisão em Itália, meu voo pouco alado e meu corpo estriado de pinceladas negras, paralelas, vaticinam-me telas de naturezas mortas. Portas atrás de portas atrás de portas.
" De repente do riso fez-se pranto silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente Fez-se triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes, "Soneto de Separação" IN O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO, Selecção e prefácio de Alexandre O'Neill, Lisboa, Pub. Dom Quixote, 1986, pp. 40
Soneto de separação
ResponderEliminarDe repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes
Despedida
ResponderEliminarPor mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
Cecília Meireles
“Principiou como banquete e converteu-se em festim, mal se sabe como. As altas chamas tremulavam, as vozes estrugiam, confusas canções jorravam dos cristais e das luzes; e finalmente dos ritmos amadurecidos brotou a dança. E a todos arrastou. Era um bater de vagas pela sala _ um encontrar-se e um escolher-se, um despedir-se e reencontrar-se, um embriagar-se de brilho e um cegar-se de luz.”
ResponderEliminar“A câmara da torre está apagada. Mas eles iluminam seus rostos com sorrisos. Tateiam diante de si como cegos e encontram o outro como uma porta. Quase como crianças assustadas diante da noite, apertam-se um ao outro. No entanto nada temem.Não há nada contra eles: nenhum ontem e nenhum amanhã, pois o tempo se desmoronou. E Ele não pergunta: ‘Teu marido? ‘Ela não pergunta: ‘Teu nome?’ Encontram-se, na verdade,para serem um para o outro,uma nova estirpe. Darão um ao outro cem nomes novos, e tornarão a tirá-los todos,um do outro, de leve,como se tira um brinco de uma orelha.”
Rainer Maria Rilke. Livro “A canção de amor e morte do porta-estandarte Cristovão Rilke”.
Bilhete para o Amigo AusenteLembrar teus carinhos induz
ResponderEliminara ter existido um pomar
intangíveis laranjas de luz
laranjas que apetece roubar.
Teu luar de ontem na cintura
é ainda o vestido que trago
seda imaterial seda pura
de criança afogada no lago.
Os motores que entre nós aceleram
os vazios comboios do sonho
das mulheres que estão à espera
são o único luto que ponho.
Natália Correia, in "O Vinho e a Lira"
Mark Isham fluegelhorn, trumpets, synthesizer, percussion
ResponderEliminarArt Lande piano, synthesizer, percussion
Recorded January 1987 at Rainbow Studio, Oslo
Engineer: Jan Erik Kongshaug
Produced by Manfred Eicher
“All art is at once surface and symbol.”
–Oscar Wilde
http://ecmreviews.com/2012/01/05/we-begin/
L'adieu du cavalier
ResponderEliminarAh Dieu ! que la guerre est jolie
Avec ses chants ses longs loisirs
Cette bague je l'ai polie
Le vent se mêle à vos soupirs
Adieu ! voici le boute-selle
Il disparut dans un tournant
Et mourut là-bas tandis qu'elle
Riait au destin surprenant
Guillaume Apollinaire (1880 - 1918)
.
La guerre et ce qui s'ensuivit
ResponderEliminarTu n'en reviendras pas toi qui courais les filles
Jeune homme dont j'ai vu battre le coeur à nu
Quand j'ai déchiré ta chemise et toi non plus
Tu n'en reviendras pas vieux joueur de manille
Qu'un obus a coupé par le travers en deux
Pour une fois qu'il avait un jeu du tonnerre
Et toi le tatoué l'ancien Légionnaire
Tu survivras longtemps sans visage sans yeux
Roule au loin roule train des dernières lueurs
Les soldats assoupis que ta danse secoue
Laissent pencher leur front et fléchissent le cou
Cela sent le tabac la laine et la sueur
Comment vous regarder sans voir vos destinées
Fiancés de la terre et promis des douleurs
La veilleuse vous faite de la couleur des pleurs
Vous bougez vaguement vos jambes condamnées
Vous étirez vos bras vous retrouvez le jour
Arrêt brusque et quelqu'un crie Au jus là-dedans
Vous baillez Vous avez une bouche et des dents
Et le caporal chante Au pont de Minaucourt
Déjà la pierre pense où votre nom s'inscrit
Déjà vous n'êtes plus qu'un mot d'or sur nos places
Déjà le souvenir de vos amours s'efface
Déjà vous n'êtes plus que pour avoir péri.
Louis Aragon
Poema da Despedida
ResponderEliminarMia Couto
Não saberei nunca
dizer adeus
Afinal,
só os mortos sabem morrer
Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser
Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo
Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.
PERDIZ GREGA
ResponderEliminarna fonte de Castália
ou faisão em Itália,
meu voo pouco alado
e meu corpo estriado
de pinceladas negras,
paralelas,
vaticinam-me telas
de naturezas mortas.
Portas atrás de portas atrás de portas.
" De repente do riso fez-se pranto
silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes, "Soneto de Separação" IN O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO, Selecção e prefácio de Alexandre O'Neill, Lisboa, Pub. Dom Quixote, 1986, pp. 40
ResponderEliminarCanção da Eterna Despedida
Vinicius de Moraes
A noite é linda
inda palpita no mar
a lua cheia a se esvair em luar
Vem, ó minha amada
e fica linda e sem véu
como essa lua no céu
Eu sou o mar
Ó meu amor, diz que sim
E vem pousar o teu luar sobre mim
Vem que todo dia
cada noite tem um fim
só para nos separar
Ai, minha amada
madrugada chegou
e a sua luz me diz que devo partir
Mas meu coração
não compreende a razão
de me arrancarem de ti
É tanta a mágoa
desta separação
que já meu corpo chora a falta do teu
Que esses cantos meus
são como prantos de adeus
por me arrancarem de ti