quarta-feira, 11 de junho de 2014

Melancolia da partida. Georgio de Chirico

Giorgio de Chirico, The Melancholy of Departure, 1916


10 comentários:

  1. Soneto de separação

    De repente do riso fez-se o pranto
    Silencioso e branco como a bruma
    E das bocas unidas fez-se a espuma
    E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

    De repente da calma fez-se o vento
    Que dos olhos desfez a última chama
    E da paixão fez-se o pressentimento
    E do momento imóvel fez-se o drama.

    De repente, não mais que de repente
    Fez-se de triste o que se fez amante
    E de sozinho o que se fez contente.

    Fez-se do amigo próximo o distante
    Fez-se da vida uma aventura errante
    De repente, não mais que de repente.

    Vinicius de Moraes

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  2. Despedida

    Por mim, e por vós, e por mais aquilo
    que está onde as outras coisas nunca estão,
    deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
    quero solidão.

    Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
    E como o conheces? - me perguntarão.
    - Por não ter palavras, por não ter imagens.
    Nenhum inimigo e nenhum irmão.

    Que procuras? Tudo. Que desejas? - Nada.
    Viajo sozinha com o meu coração.
    Não ando perdida, mas desencontrada.
    Levo o meu rumo na minha mão.

    A memória voou da minha fronte.
    Voou meu amor, minha imaginação...
    Talvez eu morra antes do horizonte.
    Memória, amor e o resto onde estarão?

    Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
    (Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
    Estandarte triste de uma estranha guerra...)
    Quero solidão.

    Cecília Meireles

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  3. “Principiou como banquete e converteu-se em festim, mal se sabe como. As altas chamas tremulavam, as vozes estrugiam, confusas canções jorravam dos cristais e das luzes; e finalmente dos ritmos amadurecidos brotou a dança. E a todos arrastou. Era um bater de vagas pela sala _ um encontrar-se e um escolher-se, um despedir-se e reencontrar-se, um embriagar-se de brilho e um cegar-se de luz.”

    “A câmara da torre está apagada. Mas eles iluminam seus rostos com sorrisos. Tateiam diante de si como cegos e encontram o outro como uma porta. Quase como crianças assustadas diante da noite, apertam-se um ao outro. No entanto nada temem.Não há nada contra eles: nenhum ontem e nenhum amanhã, pois o tempo se desmoronou. E Ele não pergunta: ‘Teu marido? ‘Ela não pergunta: ‘Teu nome?’ Encontram-se, na verdade,para serem um para o outro,uma nova estirpe. Darão um ao outro cem nomes novos, e tornarão a tirá-los todos,um do outro, de leve,como se tira um brinco de uma orelha.”

    Rainer Maria Rilke. Livro “A canção de amor e morte do porta-estandarte Cristovão Rilke”.

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  4. Bilhete para o Amigo AusenteLembrar teus carinhos induz
    a ter existido um pomar
    intangíveis laranjas de luz
    laranjas que apetece roubar.

    Teu luar de ontem na cintura
    é ainda o vestido que trago
    seda imaterial seda pura
    de criança afogada no lago.

    Os motores que entre nós aceleram
    os vazios comboios do sonho
    das mulheres que estão à espera
    são o único luto que ponho.

    Natália Correia, in "O Vinho e a Lira"

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  5. Mark Isham fluegelhorn, trumpets, synthesizer, percussion
    Art Lande piano, synthesizer, percussion
    Recorded January 1987 at Rainbow Studio, Oslo
    Engineer: Jan Erik Kongshaug
    Produced by Manfred Eicher

    “All art is at once surface and symbol.”
    –Oscar Wilde

    http://ecmreviews.com/2012/01/05/we-begin/

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  6. L'adieu du cavalier

    Ah Dieu ! que la guerre est jolie
    Avec ses chants ses longs loisirs
    Cette bague je l'ai polie
    Le vent se mêle à vos soupirs

    Adieu ! voici le boute-selle
    Il disparut dans un tournant
    Et mourut là-bas tandis qu'elle
    Riait au destin surprenant

    Guillaume Apollinaire (1880 - 1918)
    .

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  7. La guerre et ce qui s'ensuivit

    Tu n'en reviendras pas toi qui courais les filles
    Jeune homme dont j'ai vu battre le coeur à nu
    Quand j'ai déchiré ta chemise et toi non plus
    Tu n'en reviendras pas vieux joueur de manille
    Qu'un obus a coupé par le travers en deux
    Pour une fois qu'il avait un jeu du tonnerre
    Et toi le tatoué l'ancien Légionnaire
    Tu survivras longtemps sans visage sans yeux
    Roule au loin roule train des dernières lueurs
    Les soldats assoupis que ta danse secoue
    Laissent pencher leur front et fléchissent le cou
    Cela sent le tabac la laine et la sueur
    Comment vous regarder sans voir vos destinées
    Fiancés de la terre et promis des douleurs
    La veilleuse vous faite de la couleur des pleurs
    Vous bougez vaguement vos jambes condamnées
    Vous étirez vos bras vous retrouvez le jour
    Arrêt brusque et quelqu'un crie Au jus là-dedans
    Vous baillez Vous avez une bouche et des dents
    Et le caporal chante Au pont de Minaucourt
    Déjà la pierre pense où votre nom s'inscrit
    Déjà vous n'êtes plus qu'un mot d'or sur nos places
    Déjà le souvenir de vos amours s'efface
    Déjà vous n'êtes plus que pour avoir péri.

    Louis Aragon

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  8. Poema da Despedida
    Mia Couto

    Não saberei nunca
    dizer adeus

    Afinal,
    só os mortos sabem morrer

    Resta ainda tudo,
    só nós não podemos ser

    Talvez o amor,
    neste tempo,
    seja ainda cedo

    Não é este sossego
    que eu queria,
    este exílio de tudo,
    esta solidão de todos

    Agora
    não resta de mim
    o que seja meu
    e quando tento
    o magro invento de um sonho
    todo o inferno me vem à boca

    Nenhuma palavra
    alcança o mundo, eu sei
    Ainda assim,
    escrevo.

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  9. PERDIZ GREGA
    na fonte de Castália
    ou faisão em Itália,
    meu voo pouco alado
    e meu corpo estriado
    de pinceladas negras,
    paralelas,
    vaticinam-me telas
    de naturezas mortas.
    Portas atrás de portas atrás de portas.

    " De repente do riso fez-se pranto
    silencioso e branco como a bruma
    E das bocas unidas fez-se espuma
    E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

    De repente da calma fez-se o vento
    Que dos olhos desfez a última chama
    E da paixão fez-se o pressentimento
    E do momento imóvel fez-se o drama.

    De repente, não mais que de repente
    Fez-se triste o que se fez amante
    E de sozinho o que se fez contente.

    Fez-se do amigo próximo o distante
    Fez-se da vida uma aventura errante
    De repente, não mais que de repente.

    Vinicius de Moraes, "Soneto de Separação" IN O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO, Selecção e prefácio de Alexandre O'Neill, Lisboa, Pub. Dom Quixote, 1986, pp. 40

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  10. Canção da Eterna Despedida
    Vinicius de Moraes

    A noite é linda
    inda palpita no mar
    a lua cheia a se esvair em luar
    Vem, ó minha amada
    e fica linda e sem véu
    como essa lua no céu

    Eu sou o mar
    Ó meu amor, diz que sim
    E vem pousar o teu luar sobre mim
    Vem que todo dia
    cada noite tem um fim
    só para nos separar

    Ai, minha amada
    madrugada chegou
    e a sua luz me diz que devo partir
    Mas meu coração
    não compreende a razão
    de me arrancarem de ti

    É tanta a mágoa
    desta separação
    que já meu corpo chora a falta do teu
    Que esses cantos meus
    são como prantos de adeus
    por me arrancarem de ti

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