terça-feira, 25 de março de 2014

Posso ir e viver ou ficar e morrer. William Shakespeare

Julieta
Você já tem que ir? O dia ainda demora. Não foi a cotovia, foi o rouxinol que perfurou o seu ouvido temeroso. Ele costuma cantar na romãzeira: foi ele que cantou, foi sim, amor. 
Romeu
É a cotovia que anuncia o dia, não é o rouxinol. Estrias invejosas bordejam as nuvens do nascente. Foram-se as tochas da noite; o dia alegre já espanta a neblina do alto da colina. Posso ir e viver – ou ficar e morrer.
Julieta
Aquela luz ainda não é o aviso. Acho que é o sol que manda um meteoro para clarear seus passos para Mântua. Fique um pouquinho mais: partir não é preciso.

William Shakespeare, Romeu e Julieta (Ato 3, Cena 5)

2 comentários:

  1. Basta pensar em sentir
    Para sentir em pensar.
    Meu coração faz sorrir
    Meu coração a chorar.
    Depois de parar de andar,
    Depois de ficar e ir,
    Hei de ser quem vai chegar
    Para ser quem quer partir.

    Viver é não conseguir.

    Fernando Pessoa PESSOA, F. Poesias Inéditas (1930-1935). Lisboa: Ática. 1955. (imp. 1990). p. 73.

    ResponderEliminar
  2. PRONTO! NÃO DIGO MAIS NADA!

    Fangfang saltava de uma rocha para outra, eu mantinha a sua mão na minha e por momentos trauteava uma canção. Uma vez atravessado o ribeiro corremos para a colina, a rir e a gritar. Fangfang feriu-se num pé e eu fiquei terrivelmente inquieto, mas ela tranquilizou-me, não é nada, ponho os sapatos e fica tudo bem. Eu disse que a culpa era minha, mas ela disse que se eu estivesse contente, ela ficava satisfeita e que não se importava nada que lhe doesse o pé. Pronto, não digo mais nada, não faz mal.

    Gao Xingjian, "O Templo", IN UMA CANA DE PESCA PARA O MEU AVÔ, Lisboa, Dom Quixote, 2001, p. 19.

    ResponderEliminar