sábado, 29 de março de 2014

Essas viagens são indispensáveis. (2) Ramalho Ortigão

Essas viagens são indispensáveis, no meio da lamentável desmoralização em que nos dissolvemos, para nos ensinaram a conhecer e a amar a Pátria pelo que nela é imortal, incorruptível e sagrado: pelo doce aspecto dos seus montes, dos seus vales, dos seus rios; pelo sorriso, melancólico mas contente, dos vinhedos, dos olivais, dos soutos, das hortas e dos pomares; pela tradição vívida nos monumentos arquitectónicos, nas romarias, nos contos e nas cantigas populares, nas indústrias caseiras, mas alfaias agrícolas, nas ferramentas dos ofícios rurais, na configuração dos lares; pela dicção, enfim, e pelas formas da nossa própria língua, que, por toda essa província, nos preciosos recantos em que não há livros nem periódicos, e onde o povo ainda não aprendeu a ler, se conserva áspera, nitente e tilintante como um belo dobrão de ouro, a que o manuseamento da erudição e a sujidade do giro literário não comeram a serrilha nem desgastaram a coroa e a efígie, convertendo-a na chapa safada e sórdida da nossa fala de parlamentares e de jornalistas.

Ramalho Ortigão, "Carta à Academia de Estudos Livres", datada de 6 de Agosto de 1899. publicada em Costumes e Perfis. Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1944, p. 276-277.

1 comentário:

  1. FALARES

    Assenta-t'aqui, cünhada, (bis)
    na pädra da lealdäde. ( bis)
    Tüa mõe diz mal de mim, (bis)
    cünhäda diz-m' a verdäde,
    na pädra da lealdäde.

    A folha da olivêra, ai (bis)
    Nã éi lärga nêm comprida. (bis)
    Nela podia escrveiri (bis)
    A história da minha vida,
    Nã éi lärga nêm comprida.

    "SAIAS", Cantares tradicionais do Alto Alentejo/Beira Baixa

    ResponderEliminar