As árvores e as aves situam-se geralmente em todas estas visões da cidade celeste num jardim, imagem e símbolo do paraíso terrestre, quentes como arquétipo o jardim do Éden, predomínio do reino vegetal em oposição a Jerusalém.
O jardim do início dos tempos representa um microcosmos que ficou expresso nas miniaturas dos jardins japoneses.
Na tradição clássica o jardim aparece ligado à felicidade: foi no jardim das Hespérides que se realizou o casamento de Zeus com Hera, pelo que esse local ficou a simbolizar a felicidade eterna.
Maria Clara Almeida Lucas, "A Cidade Celeste na Hagiografia Medieval Portuguesa", in O Imaginário da Cidade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/ACARTE, 1989, p. 90.
Lendo estes textos, dou comigo a pensar: que prazer deve Maria Clara de Almeida Lucas ter tido em construir este livro!
ResponderEliminarJardim da Hespérides e felicidades eternas
ResponderEliminarGostaria de conhecer, sobre tais matérias, também a opinião de quem reserva a sua identidade. Julguei-o/a habitante assíduo de mitos, sem que se tratasse, parecia-me, de um/a mitómano/a.
Mas calou-se. Ter-se-á calado?
Serei de algum modo responsável por este silêncio? Mais uma presunção da minha parte.
Mário Neves
Caro Mário Neves. Apesar de não ter logrado confirmar a sua identidade, a sua presença neste blogue será sempre bem vinda e espero que assídua. Devo no entanto chamar a sua atenção para que o (outro) anónimo comentador fez, até agora, publicar notas aos primeiros cinco textos desta série. Lapso seu, pois, neste caso, e devido certamente à irregularidade com que frequenta este cantinho de viajantes. Abraço.
ResponderEliminarCANTIGA AOS AMORES EFÉMEROS
ResponderEliminarLeuad' amigo, que dormides as manhanas frias:
todalas aues do mundo d' amor dizian,
leda mh and' eu.
Leuad' amigo, que dormide' las frias manhanas:
todalas aues do mundo d' amor cãtauã,
leda mh and' eu.
Todalas aues do mundo d' amor diziã,
do meu amor e do uoss[o] en ment' auyã,
leda mh and' eu.
Todalas aues do mundo d' amor cãtauã;
do meu amor e do uoss[o] y emmentauã,
leda mh and' eu.
Do meu amor e do uosso en ment' auyã;
uos lhi tolhestes os ramos en que sijam,
leda mh and' eu.
Do meu amor e do uoss[o] y emmentauã;
uos lhi tolhestes os ramos en que posauã,
leda mh and'eu
Vos lhi tolhestes os ramos en que sijiam,
e lhis secastes as fontes en que beuiã,
leda mh and'eu.
Vos lhi tolhestes os ramos en que pousauã,
e lhis secastes as fõntes hu sse banhauã,
leda mh and' eu.
Nuno Fernandez Torneol, IN CBN 604, J. J. Nunes, CANTIGAS d' AMIGO, LXXV pp. 368-369.