Estenda-se no solo, de noite, longe das luzes. Feche os olhos. Depois de alguns minutos, abra-os e repare nas estrelas. Terá uma vertigem. Colado à superfície do espaço, sentir-se-á no espaço. Saboreie por muito tempo esse encanto.
Hubert Reeves, UM POUCO MAIS DE AZUL. A EVOLUÇÃO CÓSMICA, Lisboa, Gradiva, 1986, p. 17.
A propósito, lembrei-me de um texto, lido há muito, que passo a citar:
"Na hora serena do crepúsculo escolhei um lugar bem sereno para a vossa meditação. Cessa o falar diurno, fundindo as suas vozes num grande mar de Silêncio. Dentro de vós, viviam formas e vultos, as palavras nítidas, as intenções claras. Agora todas as formas morrem lentamente como os relevos continentais que um oceano viera cobrir. Ao grande Silêncio do mundo segue-se o imenso silêncio da alma; como dois mares separados pelo beijo do Sol, um visível da sua luz moribunda, outro de amanhecente e invisível corpo. Pondo o vosso silêncio de acordo com o grande Silêncio das coisas, ponde o coração de acordo com uma grande realidade cósmica; acompanhai, por exemplo, com uma forte tensão da vontade, o sol no declinar da despedida. Olhai bem o disco e imaginai que a vossa vontade o move. Em breve tomareis a sério a vossa ilusão, e, a um profundo abalo de todo o ser, conheceis que sobre o Mistério se vos abriu um novo sentido." Leonardo Coimbra, "A Alegria, a Dor e a Graça" Obras Completas vol. I, 1983. Porto: Lello & Irmão Editores (p. 556 - 557)
Não que alguma vez tenha experimentado, mas a ideia parece-me ter o seu encanto...
A minha vida é o mar o Abril a rua O meu interior é uma atenção voltada para fora O meu viver escuta A frase que de coisa em coisa silabada Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro Sabendo que o real o mostrará
Não tenho explicações Olho e confronto E por método é nu meu pensamento
A terra o sol o vento o mar São a minha biografia e são meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade Pois nenhum outro senão o mundo tenho Não me peçam opiniões nem entrevistas Não me perguntem datas nem moradas De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente Cada dia preparada
MUNDOS DE ESTRELAS
ResponderEliminarEstenda-se no solo, de noite, longe das luzes. Feche os olhos. Depois de alguns minutos, abra-os e repare nas estrelas. Terá uma vertigem. Colado à superfície do espaço, sentir-se-á no espaço. Saboreie por muito tempo esse encanto.
Hubert Reeves, UM POUCO MAIS DE AZUL. A EVOLUÇÃO CÓSMICA, Lisboa, Gradiva, 1986, p. 17.
A propósito, lembrei-me de um texto, lido há muito, que passo a citar:
ResponderEliminar"Na hora serena do crepúsculo escolhei um lugar bem sereno para a vossa meditação. Cessa o falar diurno, fundindo as suas vozes num grande mar de Silêncio. Dentro de vós, viviam formas e vultos, as palavras nítidas, as intenções claras. Agora todas as formas morrem lentamente como os relevos continentais que um oceano viera cobrir. Ao grande Silêncio do mundo segue-se o imenso silêncio da alma; como dois mares separados pelo beijo do Sol, um visível da sua luz moribunda, outro de amanhecente e invisível corpo. Pondo o vosso silêncio de acordo com o grande Silêncio das coisas, ponde o coração de acordo com uma grande realidade cósmica; acompanhai, por exemplo, com uma forte tensão da vontade, o sol no declinar da despedida. Olhai bem o disco e imaginai que a vossa vontade o move. Em breve tomareis a sério a vossa ilusão, e, a um profundo abalo de todo o ser, conheceis que sobre o Mistério se vos abriu um novo sentido."
Leonardo Coimbra, "A Alegria, a Dor e a Graça" Obras Completas vol. I, 1983. Porto: Lello & Irmão Editores (p. 556 - 557)
Não que alguma vez tenha experimentado, mas a ideia parece-me ter o seu encanto...
A minha vida é o mar o Abril a rua
ResponderEliminarO meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada
Sophia de Mello Breyner Andresen