Mas que bucólico cenário para tão ilustre protagonista! Equipado de acordo com o papel assumido, o de viajante, e de olhar atento como convém a essa condição. Gosto.
Era um espesso ninho de verdura, arbustos, flores e árvores, sufocando-se numa prodigalidade de bosque silvestre, deixando apenas espaço para um tanquezinho redondo, onde uma pouca de água, imóvel e gelada,com dois ou três nenúfares, se esverdinhava sob a sombra daquela ramaria profusa. Aqui e além, entre a bela desordem da folhagem, distinguiam-se arranjos de gosto burguês, uma volta de ruazita estreita como uma fita, faiscando ao sol, ou a banal palidez de um gesso. Noutros recantos, aquele jardim de gente rica, exposto às vistas, tinha retoques pretensiosos de estufa rara, aloés e cactos, braços aguarda-solados de araucárias erguendo-se entre as agulhas negras dos pinheiros bravos, lâminas de palmeira, com o seu ar triste de planta exilada, roçando a rama leve e perfumada das olaias floridas de cor-de-rosa. A espaços, com uma graça discreta, branquejava um grande pé de margaridas; ou em torno de uma rosa, solitária na sua haste, palpitavam borboletas aos pares. - Que pena que isto não pertença a um artista! - murmurou o maestro. - Só um artista saberia amar estas flores, estas árvores, estes rumores...
Eça de Queirós, OS MAIAS, Lisboa, Livros do Brasil, s.d., pp. 233-234.
Mas que bucólico cenário para tão ilustre protagonista!
ResponderEliminarEquipado de acordo com o papel assumido, o de viajante, e de olhar atento como convém a essa condição. Gosto.
O JARDIM
ResponderEliminarEra um espesso ninho de verdura, arbustos, flores e árvores, sufocando-se numa prodigalidade de bosque silvestre, deixando apenas espaço para um tanquezinho redondo, onde uma pouca de água, imóvel e gelada,com dois ou três nenúfares, se esverdinhava sob a sombra daquela ramaria profusa. Aqui e além, entre a bela desordem da folhagem, distinguiam-se arranjos de gosto burguês, uma volta de ruazita estreita como uma fita, faiscando ao sol, ou a banal palidez de um gesso. Noutros recantos, aquele jardim de gente rica, exposto às vistas, tinha retoques pretensiosos de estufa rara, aloés e cactos, braços aguarda-solados de araucárias erguendo-se entre as agulhas negras dos pinheiros bravos, lâminas de palmeira, com o seu ar triste de planta exilada, roçando a rama leve e perfumada das olaias floridas de cor-de-rosa. A espaços, com uma graça discreta, branquejava um grande pé de margaridas; ou em torno de uma rosa, solitária na sua haste, palpitavam borboletas aos pares.
- Que pena que isto não pertença a um artista! - murmurou o maestro. - Só um artista saberia amar estas flores, estas árvores, estes rumores...
Eça de Queirós, OS MAIAS, Lisboa, Livros do Brasil, s.d., pp. 233-234.
O jardim do viajante era de camélias...
ResponderEliminarE porque não um pomar de macieiras? :) Sempre poderia trincar uma maçã...
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