As ilhas são maravilhosas na sua vegetação, encantadoras nos seus costumes, e as famílias açoreanas, quase todas fidalgas, são o mais obsequiadoras possível e de uma gentileza tão cativante que jamais esquece.
Que lindos e deliciosos dias passámos na Gorreana, solar de D. Angelina Gago e de seu marido Jaime Hintze - então governador civil em Ponta Delgada - modelos se educação e gentileza, nobres nos seus pergaminhos e nas suas virtudes.
À ilustre poetisa D. Alice Moderno, ao Dr. S. Bento e a muitas outras famílias, Morrison e Bulcão, no Faial, etc. que nos cumularam de atenções, devemos horas de conforto e amizade. Ms também junto delas, em todas as Ilhas, ficou um pouco do nosso coração.
Foi talvez esta a última viagem, que tanto nos encantou, a causa do avanço mais rápido da doença de Raul Brandão porque a sua saúde já era precária e o trabalho foi exaustivo, a aproximação constante do mar devia ter influído na depressão tão grande do seu coração.
Maria Angelina Brandão, Um Coração e uma Vontade. Memórias. Coimbra, Oficinas, Atlântida, 1959, p. 234-235.
AS ILHAS NO MAPA
ResponderEliminarSó os poetas estabelecem conexões entre as suas ilhas imaginárias e os objectos que estão na base da nossa civilização. As dos Açores não constituem excepção. A literatura tenta fazer delas uma forma-padrão que seja também a medida das coisas que existem nelas e ao redor. Por isso esta minha visão, desde que aplicada de sul para norte, sendo embora precária e provisória, não anula nem institui nada de novo a respeito dos Açores. Se as olhar ao contrário, de norte para sul ou de oeste para leste, é certo que tudo nelas se inverte: muda-se a visão, alteram-se as fantasias que elas me haviam sugerido ao olhar.
Também o nosso modo de ver, ao olharmos de uma ilha para a outra, em tudo se modifica.
João de Melo, AÇORES. O SEGREDO DAS ILHAS, Lisboa, Pub. Dom Quixote, 2000, p. 4.