"Quando só há gaivotas e solidão, é que a Arrábida se revela, se entrega inteirinha. Horas ou léguas sem encontrar gente de gravata ("os burgueses", como dantes aqui diziam; "os doutores", como dizem agora); horas ou milhas a topar apenas, a par das gaivotas, com pescadores de polvos nos seus barquinhos pequenos ou pescadores de tresmalho, nos saveiros ou nas canoas (o ti Zé Brás, o Branco, o Vintes...) ou a malta das artes... Mas os pescadores são da paisagem; e a solidão não é pela sua presença que será menos perfeita. E que verde que é o mar em Outubro! E como tem outro som - um som só para nós, feito de propósito para os nossos ouvidos de gente que aqui vive como num ventre. [...] Claro que nesta altura, neste repousante e mágico Outubro, arrancarem um cidadão de aqui é arrancarem um mexilhão da rocha."
Sebastião da Gama, II DIÁRIO, Lisboa, Ática, 1958, pp. 207-8.
ARRÁBIDA, OUTUBRO
ResponderEliminar"Quando só há gaivotas e solidão, é que a Arrábida se revela, se entrega inteirinha. Horas ou léguas sem encontrar gente de gravata ("os burgueses", como dantes aqui diziam; "os doutores", como dizem agora); horas ou milhas a topar apenas, a par das gaivotas, com pescadores de polvos nos seus barquinhos pequenos ou pescadores de tresmalho, nos saveiros ou nas canoas (o ti Zé Brás, o Branco, o Vintes...) ou a malta das artes... Mas os pescadores são da paisagem; e a solidão não é pela sua presença que será menos perfeita. E que verde que é o mar em Outubro! E como tem outro som - um som só para nós, feito de propósito para os nossos ouvidos de gente que aqui vive como num ventre. [...]
Claro que nesta altura, neste repousante e mágico Outubro, arrancarem um cidadão de aqui é arrancarem um mexilhão da rocha."
Sebastião da Gama, II DIÁRIO, Lisboa, Ática, 1958, pp. 207-8.
Pois é! Tão bem que Sebastião da Gama escreveu sobre Sesimbra...
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