terça-feira, 26 de novembro de 2013

Nitzsche. Claudio Magris

É cada vez mais difícil, na actual irrealidade do mundo, responder à questão de Nietzsche: "onde é que me posso sentir em casa?"

Claudio Magris, Trois Orients. Récits de Voyage. Paris, Rivages, 2006

3 comentários:

  1. Quando eu era adolescente, usavam-se os posters na decoração dos quartos. Alguns, mais revolucionários, tinham posters de Ho-Chi-Min, como uma das minhas irmãs, por exemplo.

    Eu tinha um poster com uma casa em difícil equilíbrio, e com a seguinte frase de Goethe:

    "Construí a minha casa sobre o nada. É por isso que o mundo inteiro é meu."

    É bem verdade o que diz Magris. "Sentir-se em casa" não é próprio deste tempo de inquietude.

    Li há relativamente pouco tempo num texto de Paul Virilio, a propósito de movimento e de velocidade (prática relacionada com o poder) que a oposição do século XXI já não é a de cidade-campo, nem a de cidade-arrabalde, mas a de sedentário-nómada. E acrescenta:
    "O trajeto, assim como o tempo, tem três dimensões. O passado, o presente e o futuro; a partida, a viagem e a chegada."
    Paul Virilio, Cibermundo A Política do Pior (s.d.). Lisboa: Teorema (p. 87)

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  2. O UNIVERSO, A NOSSA CASA

    Cada sistema estelar é uma ilha no espaço, afastada dos seus vizinhos pelos anos-luz. Imagino criaturas a despertar para os primeiros vislumbres de conhecimento em inúmeros mundos, todas elas partindo do princípio de que o seu planeta insignificante e um punhado de sóis desprezíveis são tudo o que existe. Crescemos no isolamento. Apenas lentamente aprendemos a conhecer o cosmos.
    Algumas estrelas podem estar rodeadas por milhões de pequenos mundos rochosos e sem vida, sistemas planetários que gelaram durante uma fase inicial da sua evolução. Talvez muitas estrelas tenham sistemas planetários semelhantes ao nosso: na periferia, grandes planetas rodeados por anéis gasosos e luas geladas e, mais perto do centro, pequenos mundos quentes, azuis-esbranquiçados, cobertos de nuvens. Em alguns pode ter-se desenvolvido vida inteligente, refazendo a superfície planetária num empreendimento maciço de construção.

    Carl Sagan, COSMOS, Lisboa, Gradiva, s.d., pp. 21-22.

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  3. Entretanto, lembrei-me do que disse Fernando Pessoa sobre esta questão:

    "Triste de quem vive em casa,
    Contente com o seu lar,
    Sem que um sonho, no erguer de asa,
    Torne até mais rubra a brasa
    Da lareira a abandonar!

    Triste de quem é feliz!
    Vive porque a vida dura.
    Nada na alma lhe diz
    Mais que a lição da raiz -
    Ter por vida a sepultura.

    (...)

    Obras de Fernando Pessoa (1986), Porto: Lello & Irmão Editores (p.p. 1161-1162)

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