Quando eu era adolescente, usavam-se os posters na decoração dos quartos. Alguns, mais revolucionários, tinham posters de Ho-Chi-Min, como uma das minhas irmãs, por exemplo.
Eu tinha um poster com uma casa em difícil equilíbrio, e com a seguinte frase de Goethe:
"Construí a minha casa sobre o nada. É por isso que o mundo inteiro é meu."
É bem verdade o que diz Magris. "Sentir-se em casa" não é próprio deste tempo de inquietude.
Li há relativamente pouco tempo num texto de Paul Virilio, a propósito de movimento e de velocidade (prática relacionada com o poder) que a oposição do século XXI já não é a de cidade-campo, nem a de cidade-arrabalde, mas a de sedentário-nómada. E acrescenta: "O trajeto, assim como o tempo, tem três dimensões. O passado, o presente e o futuro; a partida, a viagem e a chegada." Paul Virilio, Cibermundo A Política do Pior (s.d.). Lisboa: Teorema (p. 87)
Cada sistema estelar é uma ilha no espaço, afastada dos seus vizinhos pelos anos-luz. Imagino criaturas a despertar para os primeiros vislumbres de conhecimento em inúmeros mundos, todas elas partindo do princípio de que o seu planeta insignificante e um punhado de sóis desprezíveis são tudo o que existe. Crescemos no isolamento. Apenas lentamente aprendemos a conhecer o cosmos. Algumas estrelas podem estar rodeadas por milhões de pequenos mundos rochosos e sem vida, sistemas planetários que gelaram durante uma fase inicial da sua evolução. Talvez muitas estrelas tenham sistemas planetários semelhantes ao nosso: na periferia, grandes planetas rodeados por anéis gasosos e luas geladas e, mais perto do centro, pequenos mundos quentes, azuis-esbranquiçados, cobertos de nuvens. Em alguns pode ter-se desenvolvido vida inteligente, refazendo a superfície planetária num empreendimento maciço de construção.
Carl Sagan, COSMOS, Lisboa, Gradiva, s.d., pp. 21-22.
Quando eu era adolescente, usavam-se os posters na decoração dos quartos. Alguns, mais revolucionários, tinham posters de Ho-Chi-Min, como uma das minhas irmãs, por exemplo.
ResponderEliminarEu tinha um poster com uma casa em difícil equilíbrio, e com a seguinte frase de Goethe:
"Construí a minha casa sobre o nada. É por isso que o mundo inteiro é meu."
É bem verdade o que diz Magris. "Sentir-se em casa" não é próprio deste tempo de inquietude.
Li há relativamente pouco tempo num texto de Paul Virilio, a propósito de movimento e de velocidade (prática relacionada com o poder) que a oposição do século XXI já não é a de cidade-campo, nem a de cidade-arrabalde, mas a de sedentário-nómada. E acrescenta:
"O trajeto, assim como o tempo, tem três dimensões. O passado, o presente e o futuro; a partida, a viagem e a chegada."
Paul Virilio, Cibermundo A Política do Pior (s.d.). Lisboa: Teorema (p. 87)
O UNIVERSO, A NOSSA CASA
ResponderEliminarCada sistema estelar é uma ilha no espaço, afastada dos seus vizinhos pelos anos-luz. Imagino criaturas a despertar para os primeiros vislumbres de conhecimento em inúmeros mundos, todas elas partindo do princípio de que o seu planeta insignificante e um punhado de sóis desprezíveis são tudo o que existe. Crescemos no isolamento. Apenas lentamente aprendemos a conhecer o cosmos.
Algumas estrelas podem estar rodeadas por milhões de pequenos mundos rochosos e sem vida, sistemas planetários que gelaram durante uma fase inicial da sua evolução. Talvez muitas estrelas tenham sistemas planetários semelhantes ao nosso: na periferia, grandes planetas rodeados por anéis gasosos e luas geladas e, mais perto do centro, pequenos mundos quentes, azuis-esbranquiçados, cobertos de nuvens. Em alguns pode ter-se desenvolvido vida inteligente, refazendo a superfície planetária num empreendimento maciço de construção.
Carl Sagan, COSMOS, Lisboa, Gradiva, s.d., pp. 21-22.
Entretanto, lembrei-me do que disse Fernando Pessoa sobre esta questão:
ResponderEliminar"Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Torne até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.
(...)
Obras de Fernando Pessoa (1986), Porto: Lello & Irmão Editores (p.p. 1161-1162)