Eu podia ter poupado estas considerações pleonásticas, repetindo-me e sintetizando tudo, como já o fiz: somos uma ilha. Quer dizer, independentemente da nossa situação geográfica ou do lugar que nós desenhamos na História ou a História nos desenhou, vivemo-nos como uma ilha. A expressão cá dentro dá forma a esse viver connosco, a esse estar connosco, cercados de mundo, que visto e sentido do interior da ilha que somos, ou da nossa interioridade simbólica, é um lá fora que, em última análise, nada altera o sentimento de intimidade, de conforto, de plenitude que nos confere a ideia do cá dentro.
Eduardo Lourenço, "Lá fora e cá dentro, ou o fim de uma obsessão". In Destroços. o Gibão de Mestre Gil e Outros Ensaios. Lisboa, Gradiva, 2004, p. 162-163.
"Vivemo-nos como uma ilha", mas formamos arquipélagos...
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