Quanto à utilidade dos elementos estranhos, ou ao prejuízo
que causam, é certo que nenhuma nação civilizada passa sem eles. A faculdade
genial que criou as línguas humanas, em milhares de séculos, extinguiu-se, mas
não se extinguiu a que constantemente produz objectos novos e descobre factos e
fenómenos desconhecidos. E, por mais fértil que seja a faculdade de formar
derivados e compostos, ela tem os seus limites.
Por isso os povos trocam entre si não só os seus produtos
mas também os seus nomes.
Do mesmo modo literatura alguma pode passar sem termos
livrescos, poéticos, sublimados, que em estilo elevado substituem os já gastos
pelo uso diário.
Eles embelezam a expressão das ideias e facilitam o estudo
de línguas estrangeiras e das ciências. Combater os Lehne Fremdwörter é
quixotesco.
Imaginem que dificuldade seria se cada língua, em lugar de
se servir da terminologia científica internacional (greco-latina), inventasse
para denominar a electricidade, o telefone, o telegrama, a radiografia,
palavras exclusivamente suas, diferençadas.
Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Lições de Filologia
Portuguesa. Segundo as Prelecções feitas aos Cursos de 1911/12 e !912/13.
Lisboa, Revista de Portugal, 1956, p. 284.
Que engraçado "diferençadas". Julgava que era "diferenciadas".
ResponderEliminarEsta renovação da língua a que alude Carolina de Vasconcelos faz-me lembrar Roland Barthes no "Prazer do Texto", quando se refere a "Babel Feliz". Ao contrário do que a Bíblia e outros textos religiosos assumem: que a Torre de Babel é um castigo divino.
Cada língua que aprendemos alarga o nosso horizonte semântico. Acrescenta o âmbito dos possíveis. O pensamento aumenta: ninguém pensa sem palavras.