segunda-feira, 16 de setembro de 2013

À procura de Raul Brandão. Com Manuel Mendes



E nas minhas visitas à Foz raro é que não vá à Cantareira, espreitar a casa em que nasceu Raul Brandão. Esse foi meu mestre e meu amigo o deslumbramento inesquecível da minha juventude de incipiente sonhador, que ele acalentou a um fogo ardente e magnifico.
É uma ruazinha estreita e sinuosa, à qual deram o nome do escritor. A pequena casa tem dois pisos, as janelas e as portas emolduradas de grossa cantaria de granito. Nunca sequer ali tentei entrar, porque não sei quem hoje lá mora, quem habita debaixo daquelas telhas, e temo que me confranja o que irei ver. [...] Noutro tempo, a casa devia estar sobranceira às árvores do Passeio Alegre e debruçada sobre o azul sem fim do mar, “diáfano ou colérico”, que foi, como ele algures o descreve, o quadro em que lhe desabrochou a vida.

Manuel Mendes, "Na Cantareira" (Abril de 1963). In Roteiro Sentimental: Douro (1.a edição 1964). Museu do Douro, 2002. p. 176.


2 comentários:

  1. Deambular pelo Porto assim, "à procura de Raul Brandão", percorrendo a série de posts que este inicia, é uma experiência bem interessante.

    Nada como captar o espírito do lugar construindo os nossos roteiros próprios.

    Muito grata!

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  2. CASA BRANCA

    "Casa branca em frente ao mar enorme,
    Com o teu jardim de areia e flores marinhas
    E o teu silêncio intacto em que dorme
    O milagre das coisas que eram minhas."

    Sophia de Mallo Breyner Andresen, MAR, Lisboa, Caminho, 2001, p. 13.

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