terça-feira, 24 de setembro de 2013

Banhei-me de entardecer. Urbano Tavares Rodrigues

Ontem, regressado de Lisboa com um fim de tarde que tingia de rosa as areias do Tejo. As velas, no rio, suaves, sulcando as águas roxas. Despedida de uma paisagem com a qual raramente comuniquei, por falta de serenidade de espírito. Ontem, cansado, banhei-me de entardecer. E assim levarei nos olhos para o Inverno as palmeiras e os pinheiritos dessorados e todo o cenário brando, até as casa pretensiosas que margeiam a via férrea. Tudo era lindo até à hora em que as coisas adoecem de cor. Sobretudo os barcos, tão lentos, no rio, e o areal rosado, sem ninguém.

Urbano Tavares Rodrigues, De Florença a Nova Iorque. Lisboa, Portugália Editora, 1963, p. 86.

1 comentário:

  1. MAR JÓNIO

    "Há sempre na vigia uma ilha que oscila
    entre a gola do Mar e o turbante do céu

    Mas de todas somente a que se chama Ítaca
    parece a rapariga à espera de eu ser eu."

    David Mourão-Ferreira, "Itinerário Grego", in DO TEMPO AO CORAÇÃO, Lisboa, Guimarães Editores, 1966

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