Ontem, regressado de Lisboa com um fim de tarde que tingia de rosa as areias do Tejo. As velas, no rio, suaves, sulcando as águas roxas. Despedida de uma paisagem com a qual raramente comuniquei, por falta de serenidade de espírito. Ontem, cansado, banhei-me de entardecer. E assim levarei nos olhos para o Inverno as palmeiras e os pinheiritos dessorados e todo o cenário brando, até as casa pretensiosas que margeiam a via férrea. Tudo era lindo até à hora em que as coisas adoecem de cor. Sobretudo os barcos, tão lentos, no rio, e o areal rosado, sem ninguém.
Urbano Tavares Rodrigues, De Florença a Nova Iorque. Lisboa, Portugália Editora, 1963, p. 86.
MAR JÓNIO
ResponderEliminar"Há sempre na vigia uma ilha que oscila
entre a gola do Mar e o turbante do céu
Mas de todas somente a que se chama Ítaca
parece a rapariga à espera de eu ser eu."
David Mourão-Ferreira, "Itinerário Grego", in DO TEMPO AO CORAÇÃO, Lisboa, Guimarães Editores, 1966