sábado, 14 de setembro de 2013

Recém-chegado de uma longa viagem marítima. James Cowan

Consideremos um viajante intrépido com quem me encontrei recentemente. Ele veio ter comigo, recém-chegado de uma longa viagem marítima, ansioso por compartilharmos seus conhecimentos. Ainda tinha sal na barba. O homem mostrava sinais de estar dominado pelas lembranças de um acontecimento que mudara a sua vida. Falou-me sobre a sua viagem à Índia e como tinha chegado à planície através dos desfiladeiros de Pamir e de Kush. Era um mercador e tinha ido lá à procura de especiarias e pedras preciosas, mas deparara-se-lhe algo completamente diferente.
[...]
Imaginem como me senti quando ouvi o relato do meu visitante a respeito do encontro com as abelhas de Nizmuddin. Ali estava um homem que tinha presenciado o que acreditava ser um milagre. Sob um dos arcos tinha visto bandos de papagaios de cores brilhantes banqueteando-se com o mel filtrado pela própria pedra tumular. O zelador do túmulo tinha insistido na necessidade de se ter cuidado para não pisar alguma abelha extraviada, receando que as condições ideais que cercavam o túmulo do imperador fossem alteradas. Era como se o túmulo tivesse uma aura de santidade que o diferenciasse de outras edificações.
[...]
Foi só então que comecei a entender por que visitantes como ele andavam constantemente de um lugar para o outro, procurando sempre, esperando descobrir o que outros antes deles não tinham conseguido.

James Cowan, O Sonho do Cartógrafo. Meditações de Fra Mauro na Corte de Veneza do Século XVI. Lisboa, Temas e Debates, 2000, p. 39-40.

2 comentários:

  1. Qualquer que seja a realidade, a realidade é outra...

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  2. DOS EXTREMOS QUE PODE DESEJAR UM VIAJANTE CURIOSOS A FIM DE DESCOBRIR AS NOVAS NOVIDADES

    "Quer ver uma perdiz chocar um rato,
    Quer ensinar a um burro anatomia,
    Exterminar de Goa a senhoria,
    Ouvir miar um cão, ladrar um gato:

    Quer ir pescar um tubarão no mato,
    Namorar nos serralhos da Turquia,
    Escaldar uma perna em água fria,,
    Ver uma cobra castiçar c'um pato:

    Quer ir num dia de Surrate a Roma,
    Lograr saúde sem comer dois anos,
    Salvar-se por milagre de Mafoma (...)"

    Bocage, OBRAS DE BOCAGE, Porto, Lello & Irmão Editores, 1968, p.295

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