segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Vão à procura de si. Teolinda Gersão

E nada tínhamos a ver com os turistas. Éramos diferentes. Viajantes.
Os turistas vão à procura de lugares para fugirem de si próprios, da rotina, do stresse, da infelicidade, do tédio, da velhice, da morte. Vêem os lugares onde chegam apenas de relance e não ficam a conhecer nenhum, porque logo os trocam por outros e fogem para mais longe. Os viajantes vão à procura de si, noutros lugares. Que ficam a conhecer profundamente porque nenhum esforço lhes parece demasiado e nenhum passo excessivo, tão grande é o desejo de se encontrarem.
As agencias de viagem e os turistas só se interessam, obviamente, pelas cidades reais. Os viajantes preferem as cidades imaginadas. Com sorte, conseguem encontrá-las. Ao menos uma vez na vida.

Teolinda Gersão, A Cidade de Ulisses. Lisboa, Bertrand, 2013, p. 34-35.

1 comentário:

  1. TURISMO OUTRO

    Esta viagem de núpcias precedida por um longo passeio pré-nupcial durou quase mil dias. Mais divagadores do que viajantes verdadeiros, Michel e Fernande refazem sem se cansar uma espécie de circuito sazonal que os leva aos sítios e aos hotéis de que gostam. O seu percurso inclui a Riviera e a Suiça, os lagos italianos e as lagoas venezianas, a Áustria, com um desvio até às termas da Boémia, depois vai em linha oblíqua em direcção à Alemanha que permanece uma pátria para a aluna da Fräulein. Paris é só visto de passagem, para fazer compras ou assistir a uma peça na moda. A Espanha, a respeito da qual o senhor de C. ainda está provisoriamente nas andaluzas de Barcelona, celebradas por Musset, não os atrai.

    Marguerite Yourcenar, MEMÓRIAS (SOUVENIRS PIEUX), Lisboa, Difel, 1989, p. 244.





























































































    VIAGENS DE NÚPCIAS


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