Sensação
No azul das tardes de verão, irei pelos caminhos,
Tracejado pelos trigos, pisar a erva tenra:
Sonhante, sentirei a meus pés a sua frescura.
Deixarei o vento banhar-me a cabeça nua.
Não falarei - pensarei em nada:
Mas um amor infinito subir-me-á na alma, e eu
Irei longe, bem longe, como um cigano, feliz
Pela Natureza -, na companhia da mulher sonhada.
Março de 1870
Arthur Rimbaud, O Rapaz Raro, Iluminações e Poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Lisboa, Relógio d'Água, 1998, p. 137.
SONETO
ResponderEliminarSó, pensativo, o ermo descampado
vou medindo com passo tardo e lento,
e olhos desvio a evitar atento
vestígio humano no areal marcado.
Outro escudo não tenho contra olhado
da gente em manifesto entendimento;
pois na extinta alegria em que me alento
se lê por fora o meu dentro inflamado;
e montes, prados, creio, e a folhagem
da selva e rios, sabem qual a têmp'ra
da vida que eu aos outros não revele.
Porém áspera via ou tão selvagem,
não sei buscar que Amor não venha sempre a
discorrer já comigo e eu com ele.
Petrarca, AS RIMAS, Trad. de Vasco Graça Moura, Lisboa, Bertrand, 2003, p. 133.