terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Irei longe, bem longe, como um cigano. Arthur Rimbaud

Sensação

No azul das tardes de verão, irei pelos caminhos,
Tracejado pelos trigos, pisar a erva tenra:
Sonhante, sentirei a meus pés a sua frescura.
Deixarei o vento banhar-me a cabeça nua.

Não falarei - pensarei em nada:
Mas um amor infinito subir-me-á na alma, e eu
Irei longe, bem longe, como um cigano, feliz
Pela Natureza -, na companhia da mulher sonhada.

Março de 1870

Arthur Rimbaud, O Rapaz Raro, Iluminações e Poemas. Tradução de Maria Gabriela Llansol. Lisboa, Relógio d'Água, 1998, p. 137.

1 comentário:

  1. SONETO

    Só, pensativo, o ermo descampado
    vou medindo com passo tardo e lento,
    e olhos desvio a evitar atento
    vestígio humano no areal marcado.

    Outro escudo não tenho contra olhado
    da gente em manifesto entendimento;
    pois na extinta alegria em que me alento
    se lê por fora o meu dentro inflamado;

    e montes, prados, creio, e a folhagem
    da selva e rios, sabem qual a têmp'ra
    da vida que eu aos outros não revele.

    Porém áspera via ou tão selvagem,
    não sei buscar que Amor não venha sempre a
    discorrer já comigo e eu com ele.

    Petrarca, AS RIMAS, Trad. de Vasco Graça Moura, Lisboa, Bertrand, 2003, p. 133.

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