sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Caminho, meu belo caminho... que dizes afinal sobre mim? (1) Pierre Sansot

Desejamos estar seguros acerca dos nossos caminhos e uma tal certeza traz-nos a paz. A amizade não se alimenta da confiança? No entanto, essa fidelidade, se fosse absoluta, inquietar-me-ia e nela veria uma marca de servidão, talvez de servilismo. O caminho é certo que aumenta o nosso domínio do espaço e consequentemente do mundo, e nós congratulamo-nos com isso. Uma coisa, uma relação pertence-me ou poderá pertencer-me, se existir um caminho que me conduza até ela. Em virtude do mesmo movimento, um ser ameaçado que gostasse de dispor de terrenos pantanosos em volta da sua casa, um espaço inóspito, sonha com uma casa que não figure nas cartas – numa insularidade completa.
É todavia necessário ser bem ingénuo para ignorar a vida secreta dos caminhos, e bem arrogante para acreditar no seu total controlo. Quem quereria um caminho incapaz de se dissimular, de nos desafiar, de nos ignorar? Grande numero de narrativas relatam essa incerteza: onde me levará este caminho? Será mesmo um caminho? Não será dissimulado ao ponto de multiplicar os sinais ilusórios? E que glória será a minha se conseguir triunfar sobre os seus embustes? O termo “dissimulado” já não me agrada. Prefiro chamar-lhe traquinas, orgulhoso da sua independência, apostado em não se abandonar, como uma rapariga fácil.

Pierre Sansot, Chemins aux Vents. Paris, Éditions Payot et Rivages, 2002, p. 205-206.

1 comentário:

  1. SEUL DEVANT POMPÉI

    Mais celui qui aspirait à cette compréhensiom-là devait, seul être vivant dans le silence embrasé de midi, demeurer ici parmi les débris du passé, pour ne plus voir avec les yeux du corps, pour ne plus entendre avec les oreilles charnelles. Alors, de partout cela surgissait, sans cependant faire un mouvement, et cela commençait à parler sans émettre un seul son. Alors le soleil sortait de leur engourdissement funèbre les vieilles pierres, un frisson embrasé les parcourait, les morts se réveillaient et Pompéi recommençait à vivre.

    Sigmund Freud, DÉLIRE ET RÊVES DANS LA "GRADIVA" DE JENSEN, Paris, Galllimard, 1981, p. 51.

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