Há viagens e viagens
As
estadas em Paris de Marx colocam antes do mais um problema relativamente ao título desta obra. Que é uma viagem? O [dicionário] Petit Robert responde:
"Deslocação de
uma pessoa que se dirige a um local bastante afastado". Remete para as
palavras "cruzeiro, travessia, digressão". O Larousse em dois
volumes diz a mesma coisa: "Deslocar-se para fora da sua região ou do seu país. Ida e vinda de um lugar
para o outro transportando qualquer coisa". [...]
O Petit
Robert ilustra o sentido da palavra, entre elas "gente de viagem", a única que o Larousse apresenta
aos seus leitores. A viagem seria pois a primeira característica do boémio e este ultimo o protótipo do viajante. Mas com que
objectivo se desloca a "gente de viagem"? Ou melhor, a sua viagem tem
um fim ou constitui um fim em si própria?
Todas
estas definições
me deixam perplexo. O prisioneiro que, de manhãzinha, partia da prisão de Saint-Martin de Ré, agrilhoado, para se juntar
ao inferno de Cayenne, deslocava-se para um local afastado; da mesma forma que
o soldado que partia para a guerra, com o seu equipamento às costas. Podemos qualificar
como "viagem" estas deslocações? Imaginemos que o prisioneiro disse parto em viagem para Cayenne, ou que o soldado enviado para combater designa pela palavra viagem o percurso da casa lido centro de
mobilização
para a frente de guerra. Não passará pela cabeça de ninguém desejar-lhes, no momento da partida, boa viagem. A menos que demos à palavra o sentid irónico que que lhe atribui a frase citada pelo [dicionário] Littré no final da entrada [dedicada
ao termo "viagem"]: Antigamente em certos conventos, uma 'viagem a
Jerusalém'
designava a prisão
perpétua a
que os religiosos condenavam um dos seus companheiros. A frase era usada quando
se alguém perguntasse
pelo frade desaparecido.
É
certo que Marx não se
deparou com situações
semelhantes; ele até evitou as provações do serviço militar. E apesar de ter sido uma vez, e 1849,
interpelado por soldados, foi mandado em paz em vinte e quatro horas. Mas a maior
parte das suas viagens corresponderam não a uma vontade de ver um outro país, mas a uma decisão política, a uma necessidade de
tratar da saúde,
ou uma obrigação:
foi várias
vezes expulso da Alemanha, da Bélgica, da França, e as viagens que teve de fazer tiveram um carácter forçado. Quase todas as viagens
dos nove últimos
anos da sua vida foram determinadas por razões médicas e por conseguinte por um
constrangimento que, mesmo que interiorizado e personalizado, não perdeu o seu carácter de imposição.
Karl Marx: le Christophe Colomb du Capital. Textes choisies et presentés par Jean-Jacques Marie.
Collection "Voyager avec...". Paris, La Quinzainne/Louis Vuitton,
2006, p. 13-14.
VOYAGER EN ENFER
ResponderEliminar[Werner von Ebrennac] regardait, avec une fixité lamentable l'ange de bois sculpté au-dessus de la fenêtre, l'ange extatique et souriant, lumineux de tranquillité céleste.
Soudain son expression sembla se détendre. Le corps perdit sa raideur. Son visage s'inclina un peu vers le sol. Il le releva:
- J'ai fait valoir mes droits, dit-il avec naturel. J'ai demandé à rejoindre une division en campagne. Cette faveur m'a été accordée: demaisn, je suis autorisé à me mettre en route.
Je crus voir flotter sur ses lèvres un fantôme de sourire quand il précisa:
- Pour l'enfer.
Son bras se leva vers l'Orient, - vers ces plaines immenses où le blé futur sera nourri de cadavres.
Je pensai: "Ainsi il se soumet. Voilà donc tout ce qu'ils savent faire, [les allemands]. Ils se soummettent tous. Même cet homme-là."
Le visage de ma nièce me fit peine. Il était d'une pâleur lunaire. Les lèvres, pareilles aux bords d'un vase d'opaline, étaient disjointes, elles esquissaient la moue tragique des masques grecs. Et je vis, à la limite du front et de la chevelure, non pas naître, mais jaillir, - oui, jaillir, - des perles de sueur.
Je ne sais si Werner von Ebrennac le vit. Ses pupilles, celles de la jeune fille, amarrées comme, dans le courant, la barque à l'anneau de la rive, semblaient lêtre par un fil si tendu, si raide, qu'on n'eût pas osé passer un doigt entre leurs yeux. Ebrennac d'une main avait saisi le bouton de la porte. Sans bouger son regard d'une ligne, iltira lentement la porte à lui. Il dit, - sa voix était étrangement dénuée d'expression:
- Je vous souhaite une bonne nuit.
Vercors, LE SILENCE DE LA MER, Paris, Albin Michel, 1951, pp. 74-75.