O rio que corre sob a ponte pertence a outro grupo de símbolos fundamentais desta visões e que engloba o rio, o lago, a fonte e a água do mar.
[...]
Lugar por excelência do renascimento e das grandes transformações, o mar é o símbolo da dinâmica da vida. Por isso é escolhido para a viagem que o santo [Santo Amaro] inicia a caminho da morte que o fará renascer. Impróprio movimento das águas, na sua incerteza, é símbolo de insegurança , de dúvida quanto ao lugar de chegada, aqui apenas anunciado "para os lados onde o sol nasce". É o mar, símbolo ambivalente, que tanto representa a morte como dá nova vida através da morte.
Maria Clara Almeida Lucas, "A Cidade Celeste na Hagiografia Medieval Portuguesa", in O Imaginário da Cidade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian/ACARTE, 1989, p. 82.
VIR DE LONGE
ResponderEliminarno regresso encontrei aqueles
que haviam estendido o sedento corpo
sobre infindáveis areias
tinham os gestos lentos das feras amansadas
e o mar iluminava-lhes as máscaras
esculpidas pelo dedo errante da noite
prendiam sóis nos cabelos entrançados
lentamente
moldavam o rosto lívido como um osso
mas estavam vivos quando lhes toquei
depois
a solidão transformou-se de novo em dor
e nenhum quis pernoitar na respiração
do lume
ofereci-lhes mel e ensinei-os a escutar
a flor que murcha no estremecer da luz
levei-os comigo
até onde o perfume insensato de um poema
os transformou em remota e resignada ausência
Por lapso, não foi indicada a autoria do poema.
ResponderEliminarÉ de Al Berto.
Foi dito pelo próprio na sessão AL BERTO DIZ AL BERTO, na Ideia Abraço, Rua da Rosa, 241, Lisboa, em 14 de Dezembro de 1995.
Pelas 22 horas.
Inesquecido.
Não por acaso, na palavra "maravilha" constam duas palavras essenciais no universo a que este texto: "mar" e "ilha".
ResponderEliminarO mar, morte e oportunidade de voltar a nascer (o antónimo de morte é nascimento e não vida: há muita vida na morte e muita morte na vida...).
E a "ilha"? Quanto simbolismo também!
a que este texto... alude. Claro. Peço desculpa.
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