De facto, a maior parte de nós não sacrifica nem um aspecto nem o outro. Se nos deitamos à estrada, é porque o mundo tinha qualquer coisa para nos oferecer e a oferta não seria mais sumptuosa do que imaginamos. Mas o caminho não é um vulgar instrumento que, depois de usado, pode ser deitado fora. Merece consideração. Torna-se o fio condutor, o caminho interior que permitirá à nossa memória restituir à vida o que foi percorrido dia após dia. Pela minha parte, quando me lembro, começo por ter a imagem de um caminho em vias de se propagar, em seguida ordeno em volta dele paisagens, encontros, como se ele tivesse essencialmente, um papel mobilizador.
Pierre Sansot, Chemins aux Vents. Paris, Éditions Payot et Rivages, 2002, p. 208-209,
A questão que serve de título a esta série de textos trouxe-me à ideia, embora seja bem diferente, a que colocava ao espelho a madrasta da Branca de Neve: "Espelho meu, espelho meu, haverá alguém mais belo do que eu?"
ResponderEliminarBem podemos cansar-nos a perguntar por nós a espelhos, caminhos, ou outros testemunhos da nossa vida, que eles não nos responderão.
Como dizia Maria Gabriela Llansol (cito de memória), "perguntar quem sou é uma pergunta de escravo; perguntar quem me chama é uma pergunta de homem livre."
O que importa no caminho, mais do que o percurso realizado, é o encontro. Do outro, da paisagem, do lugar.
Bem interessante esta série de textos sobre o caminho.