Debruçando-se à janela, de madrugada, comprimindo os seios contra o parapeito da janela, ela ainda olhava para fora, à espera de ver o que não conseguira possuir. Olhava para a noite que findava com a aguda vigilância do viajante que não consegue nunca chegar ao seu destino, como as pessoas vulgares chegam em paz aos seus destinos no fim de cada dia, aceitando as pausas, os desertos, os filamentos, como ela não podia aceitá-los.
Sabrina sentia-se perdida.
A bússola selvagem a cujas flutuações ela sempre obedecera, procurando o tumulto e a agitação em vez da orientação, quebrou-se subitamente, fazendo com que ela já não conhecesse sequer o alívio das marés, das correntes e dispersões.
Sentia-se perdida. A dispersão tornara-se demasiado vasta, demasiado extensa. Uma flecha de dor trespassou o modelo nebuloso, Sabina deslocara-se sempre tão depressa que toda a dor passava rapidamente como através de um crivo, deixando um sofrimento semelhante ao sofrimento das crianças, em breve esquecido, em breve substituído por outro interesse. Ela jamais conhecera uma pausa.
A sua capa, que era mais do que uma capa, que era uma vela, que eram os sentimentos que ela atirava ais quatro ventos para serem enfunados e arrastados pelo vento, jazia serena.
O seu vestido estava sereno.
Era como se agora ela não fosse nada que o vento pudesse apanhar, enfunar e impelir.
Para Sabina, a serenidade era a morte.
Anaïs Nin, Uma Espia na Casa do Amor. Lisboa, Vega, 1979, p. 106-107.
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