Vou começar pela decisão de regressar tomada logo depois do 25 de Abril, que formulei da seguinte forma: "o que me fez sair de Portugal obriga-me a voltar".
Então o que me fez sair de Portugal?
Em primeiro lugar, uma situação pessoal cada vez mais insustentável: dirigente estudantil entre 1961 e 1865, fora preso pela PIDE mal tinha sido eleito secretário-geral da RIA em Outubro de 1962, sucedendo a Jorge Sampaio, e dias depois de o Eurico me ter convidado para membro do PCP em Outubro daquele ano.
José Medeiros Ferreira, in Pátria Utópica. O Grupo de Genebra Revisitado. Lisboa, Bizancio, 2011, p. 73
OS PARAÍSOS ARTIFICIAIS
ResponderEliminarNa minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.
Na minha terra, não há árvores nem flores,
As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as
árvores.
O cântico das aves - não há cânticos,
mas só canários de 3.º andar e papagaios de 5.º.
E a música do vento é frio nos pardieiros.
Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.
Jorge de Sena, PEDRA FILOSOFAL, IN POESIA-I, Lisboa, Liv.ª Morais Editora, 1961, p. 117.