segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Então o que me fez sair de Portugal? Medeiros Ferreira

Vou começar pela decisão de regressar tomada logo depois do 25 de Abril, que formulei da seguinte forma: "o que me fez sair de Portugal obriga-me a voltar".
Então o que me fez sair de Portugal?
Em primeiro lugar, uma situação pessoal cada vez mais insustentável: dirigente estudantil entre 1961 e 1865, fora preso pela PIDE mal tinha sido eleito secretário-geral da RIA em Outubro de 1962, sucedendo a Jorge Sampaio, e dias depois de o Eurico me ter convidado para membro do PCP em Outubro daquele ano.

José Medeiros Ferreira, in Pátria Utópica. O Grupo de Genebra Revisitado. Lisboa, Bizancio, 2011, p. 73

1 comentário:

  1. OS PARAÍSOS ARTIFICIAIS

    Na minha terra, não há terra, há ruas;
    mesmo as colinas são de prédios altos
    com renda muito mais alta.

    Na minha terra, não há árvores nem flores,
    As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
    e a a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as
    árvores.

    O cântico das aves - não há cânticos,
    mas só canários de 3.º andar e papagaios de 5.º.
    E a música do vento é frio nos pardieiros.

    Na minha terra, porém, não há pardieiros,
    que são todos na Pérsia ou na China,
    ou em países inefáveis.

    A minha terra não é inefável.
    A vida na minha terra é que é inefável.
    Inefável é o que não pode ser dito.

    Jorge de Sena, PEDRA FILOSOFAL, IN POESIA-I, Lisboa, Liv.ª Morais Editora, 1961, p. 117.

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