Informei-o de que o nosso amigo Marlow deixara, havia já alguns anos, a vida do mar, mas tivera pouca vontade em o fazer.
Mr. Powell comentou:
- Talvez imaginasse que já estava farto.
- Imaginasse, é assim mesmo, é essa a palavra que deve empregar - observei, lembrando-me do carácter provisório da larga estadia de Marlow entre nós. - De ano para ano foi vivendo em terra; mas como um pássaro pousado nos ramos de uma árvore, sempre com um pé no ar, pronto a voar bruscamente para o seu verdadeiro elemento, o que nos não deixa compreender os motivos que o levam a ficar parado tantos minutos seguidos. O verdadeiro elemento do marinheiro é o mar, e Marlow, quando se demorava em terra, tornava-se para mim objecto de comiseração, por assim dizer, incrédula, como qualquer ave que, em segredo, tivesse perdido a fé na excelsa virtude de voar.
Joseph Conrad, Acaso. Porto, Civilização Editora, 2013, p. 31.
TUDO SOBRE O MAR
ResponderEliminarEm parte alguma podia ter acontecido senão em Inglaterra [ou em Portugal], onde - por assim dizer - homens e mar se confundem, pois o mar toma conta da vida da maioria dos homens, e os homens, por meio dos seus passatempos, viagens ou ganha-pão, sabem um tanto ou tudo sobre o mar.
Joseph Conrad, JUVENTUDE, Vila Nova de Famalicão, Quasi Edições, 2008, p. 9.