Porém, reconhecendo que aquela inteligência naturalmente viva se acanharia na estreiteza de uma aldeia, o bom cura é que promoveu, entre a melhor gente da freguesia, uma colheita de donativos para vestirem o Luis Miguel pagarem-lhe a passagem para o Brasil, terra prodigiosa, onde o oiro rebenta das arvores com a bondade dos frutos que alimentam o homem. [...]
- Mas, senhor, - entendia a mãe - olhe que ele para conservar dinheiro não lhe serve. Quando ganhar, quanto dá!
- Cala-te mulher - contestou Miguel - deixa ir o rapaz que no mundo é que eles se armam gente. Tenho-lhe amor, pois é meu filho, mas o senhor cura é que diz bem.
Teixeira de Queirós, Comédia do Campo (Cenas do Minho). A Nossa Gente. Lisboa, Parceria António Maria Pereira, 1899, p. 130-131.
BRASIS
ResponderEliminarNuma madrugada de Outubro, meu Pai acordou-me.
- Filho, ergue-te, que são horas. Já vem a romper o dia.
Era a minha partida para o Brasil. Ia na companhia do senhor Gomes, estabelecido no Rio, que viera à terra e voltava. Já que o irmão lhe respondera em tempos daquela maneira, meu Pai tratou da vida por outro lado, e escreveu-lhe apenas a dizer que me mandava. E ficou assim combinado: o comerciante levava-me; se meu tio aparecesse e quisesse tomar conta de mim, que muito bem; se não, empregava-me ele.
Miguel Torga, A CRIAÇÃO DO MUNDO, I, Coimbra, Ed. de Autor, 1969, pp. 103-104.