[...]
É partir sem temor contra a montanha
Cingidos de quimera e d'irreal;
Brandir a espada fulva e medieval,
A cada hora acastelando em Espanha.
É suscitar côres endoidecidas,
Ser garra imperial enclavinhada,
E numa extrema-unção d'alma ampliada,
Viajar outros sentidos, outras vidas.
[...]
Mário de Sá-Carneiro, Dispersão.
Os sentidos e o sonho, temas constantes na poesia de Mário de Sá-Carneiro. Viagens épicas. Como quando diz:
ResponderEliminar"O bando das quimeras longe assoma...
Que apoteosa imensa pelos céus!...
A cor já não é cor - é som e aroma!
Vêm-me saudades de ter sido Deus..."
Poemas Completos (1996). Lisboa: Assírio & Alvim Editores (p. 149)
VELUT UMBRA
ResponderEliminarFumo e cismo. Os castelos do horizonte
Erguem-se, à tarde, e crescem, de mil cores.
E ora espalham no céu vivos ardores,
Ora fumam, vulcões de estranho monte...
Depois, que formas vagas vêm defronte,
Que parecem sonhar loucos amores?
Almas que vão, por entre luz e horrores,
Passando a barca desse aéreo Aqueronte...
Apago o meu charuto quando apagas
Teu facho, ó sol... ficamos todos sós...
É nesta solidão que me consumo!
Ó nuvens do Ocidente, ó coisas vagas,
Bem vos entendo a cor, pois, como a vós,
Beleza e altura se me vão em fumo!
Antero de Quental, POESIA COMPLETA, Lisboa Pub. Dom Quixote, 2001, pp. 246-247.