Ao longo de todos estes anos, obscuramente, alguma coisa no entanto me faltava. Quando se tem a oportunidade de amar fortemente, passa-se a vida a procurar de novo esse ardor e essa luz. A renuncia à beleza e à felicidade sensual que lhe está associada, o serviço exclusivo da infelicidade, pede uma grandeza de que não sou capaz. Mas, no fim de contas, não é verdadeiro senão o que obriga a excluir. A beleza isolada acaba por se tornar caricatura, a justiça solitária acaba a oprimir. Quem quer servir uma com exclusão de outra não serve ninguém, nem a si próprio, e por fim serve em duplicado a injustiça. Virá um dia em que, à força de rigidez, já nada nos encanta, tudo etário conhecido, passa-se-vida a recomeçar. É o tempo do exílio, da vida seca, das almas mortas. Para voltar a viver, será necessária uma graça, o esquecimento de si próprio, ou uma pátria. Certas manhãs, no voltar duma rua, um delicioso orvalho cai sobre coração, para em seguida se evaporar. A frescura no entanto permanece, sempre, porque o coração assim o exige. Precisei de partir de novo.
Albert Camus, L'Été. Paris, Gallimard, 1954 [Retour à Tipassa, 1953]
"Que outra realidade pode esperar-me _______ se não a realidade que eu já conheço, elevada ao fulgor do desconhecido?"
ResponderEliminar- Maria Gabriela Llansol (cadernos, abril de 1993) -
SÌSIFO
ResponderEliminarRecomeça...
Se puderes,
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
[...]
Miguel Torga, ANTOLOGIA POÉTICA, Coimbra, Ed. do Autor, 1981, p. 456.
Vinda de novo aqui, reli o que escrevi e detetei uma falha na citação que fiz. Falta uma palavra: "for". Não faz (fará?) muita falta mas, mesmo assim, aqui fica a emenda:
ResponderEliminar"Que outra realidade pode esperar-me __________ se não for a realidade que eu já conheço, elevada ao fulgor do desconhecido?"
Peço desculpa!