segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Hadleyburg teve o azar de ofender um forasteiro. Mark Twain

Hadleyburg era, na região, a cidade mais honesta e íntegra. Mantivera essa reputação durante três gerações e tinha mais orgulho nela que em qualquer outra das suas riquezas. Tinha tanto orgulho e tanto empenho em assegurar a sua perpetuação, que começou a ensinar os princípios da conduta honesta às crianças no berço, e colocava tais ensinamentos no cento da sua cultura, durante todos os anos dedicados à educação.
[...] As cidades vizinhas tinham inveja desta supremacia honrosa e fingiam escarnecer do orgulho de Hadleyburg, chamando-lhe vaidade; mas mesmo assim eram obrigadas a reconhecer que Hadleyburg era uma cidade incorruptível.
[...] Mas, por fim, no correr do tempo, Hadleyburg teve o azar de ofender um forasteiro que por lá passou - possivelmente sem dar por isso, certamente sem se preocupar, pois Hadleyburg era auto-suficiente e náo dava um centavo por forasteiros ou pelas suas opiniões. Durante um ano, em todas as suas deambulações, nunca se esqueceu desse insulto, dedicando todos os momentos de ócio a magicar como conseguir obter uma reparação. [...] Por último, teve uma ideia feliz e, quando lhe nasceu no cérebro, iluminou-se toda a cabeça com uma alegria maligna. De imediato desenhou um plano, dizendo a si próprio "É o que há a fazer - vou corromper a cidade".

Mark Twain, O Homem que Corrompeu Hadleyburg. Lisboa, Assírio & Alvim, 2003, p. 7-8.  

1 comentário:

  1. Fez bem o forasteiro ofendido: só a vingança permite o perdão.
    Que azar o de Hadleyburg!
    É o que sucede a quem se supóe perfeito, autossuficiente e nem repara quando ofende quem pode corrompê-lo!

    É um caso de orgulho e de vaidade que aqui parece ter lugar!
    Grande Mark Twain!
    Sabia bem saber o fim desta história!

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