Quero visitar uma mulher estrangeira,
quero desvendar os enigmas do homem.
Desato as correias das minhas botas,
procuro no homem
e procuro na mulher.
No rosto das mulheres desfaço as rugas.
Caminhei ao longo dos gelos marinhos,
e as focas sopravam de dentro dos buracos.
Escutei maravilhado o canto do mar
e o gemido claro dos jovens gelos.
E um espirito antigo traz agora o poder
à casa das danças.
Poema dos esquimós. Versão de Herberto Hélder
Rosa do Mundo. 2001 Poemas Para o Futuro. Direcção de Manuel Hermínio Monteiro.
Lisboa, Assírio & Alvim, 2001, p. 114
"Há palavras que requerem uma pausa e silêncio."
ResponderEliminarHerberto Helder (1996) Lisboa, Poesia Toda. Assírio & Alvim Editores, p. 285
É o caso.
O DEGELO
ResponderEliminarAgora, no meio desta grande planície de gelo, nada podia protegê-los do vento oeste que, a cada minuto, aumentava de violência e lhes colava os fatos aos corpos, dificultando-lhes os movimentos. Este vento frio e penetrante era o primeiro contratempo que lhes surgia.
Também uma coisa os assombrava: o vento trazia consigo um grande barulho, como se acarretasse o estrondo de um grande moinho ou de uma fábrica. Donde viria tão estranho rumor?
Asa e Mats tinham passado à esquerda de uma ilha grande, e parecia-lhes que se aproximavam, enfim, da costa setentrional. O vento incomodava-os cada vez mais, e o estranho bramido aumentava.
Houve um momento em que julgaram que este barulho provinha do quebrar das ondas, que se rendilhavam de espuma, contra a margem; mas como seria possível, se o lago estava coberto de gelo?
As duas crianças pararam e olharam em volta delas. Então viram muito ao longe, a oeste, um muro branco, baixo, que cortava o lago dum lado ao outro. No primeiro instante, pensaram que era um montículo de neve, a bordar o caminho; mas depressa compreenderam que era a espuma das vagas a quebrar-se contra o gelo.
Selma Lagerlöf, A MARAVILHOSA VIAGEM DE NILS HOLGERSSON ATRAVÉS DA SUÉCIA, Porto, Editora Educação Nacional, 5ª edição ,s.d., pp. 239-40.