"(...) A Lagoa fechada era uma tristeza. A linha de água continuava a ser de uma pureza espectacular, sobretudo ao fim da tarde, quando o vento parava. Mas a ausência de movimento, a falta da maré criava uma sensação estranha, de morte. De facto, a imagem que fizemos da Lagoa é a de uma linha irregular de água que na maré vazia deixa emergir bancos de areia, para na maré cheia toda ela se cobrir de um manto azul espesso que mal deixa adivinhar o fundo. A imobilidade da massa de água, porém, não era total. Quando nos aproximávamos, podíamos verificar que, na zona mais perto da praia, a comunicação com o mar afinal se fazia e a maré acabava por, penetrando através da areia, oscilar alguns centímetros entre a preia-mar e a baixa-mar. Esse quase imperceptível movimento era para mim o motivo de esperança. (...)"
João B. Serra, CONTINUAÇÃO. Crónicas dos anos 50/60, Caldas da Rainha, Gazeta das Caldas, 2000, p. 43.
Escolhendo esta imagem do interior de uma embarcação como ponto de partida, e porque hoje aprendi em Steiner (A Poesia do Pensamento) que a frase: "Navegar é presico; viver não é preciso", que fez Fernando Pessoa iniciar um poema dizendo: "Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: 'Navegar é preciso; viver não é preciso" é, afinal, nada mais nada menos do que o lema da Liga Hanseática, associação de cidades do norte europeu na Idade Média, lembrei-me de uma canção de Chico Buarque que parafraseia o mesmo tema dizendo: "O barco! Meu coração não aguenta Tanta tormenta, alegria Meu coração não contenta O dia, o marco, meu coração O porto, não!...
Navegar é preciso Viver não é preciso...
O Barco Noite no teu, tão bonito Sorriso solto, perdido Horizonte, madrugada O riso, o arco da madrugada O porto, nada!...
Navegar é preciso Viver não é preciso
O barco! O automóvel brilhante O trilho solto, o barulho Do meu dente em tua veia O sangue, o charco, barulho lento O porto, silêncio!...
"(...) A Lagoa fechada era uma tristeza. A linha de água continuava a ser de uma pureza espectacular, sobretudo ao fim da tarde, quando o vento parava. Mas a ausência de movimento, a falta da maré criava uma sensação estranha, de morte. De facto, a imagem que fizemos da Lagoa é a de uma linha irregular de água que na maré vazia deixa emergir bancos de areia, para na maré cheia toda ela se cobrir de um manto azul espesso que mal deixa adivinhar o fundo.
ResponderEliminarA imobilidade da massa de água, porém, não era total. Quando nos aproximávamos, podíamos verificar que, na zona mais perto da praia, a comunicação com o mar afinal se fazia e a maré acabava por, penetrando através da areia, oscilar alguns centímetros entre a preia-mar e a baixa-mar. Esse quase imperceptível movimento era para mim o motivo de esperança. (...)"
João B. Serra, CONTINUAÇÃO. Crónicas dos anos 50/60, Caldas da Rainha, Gazeta das Caldas, 2000, p. 43.
Escolhendo esta imagem do interior de uma embarcação como ponto de partida, e porque hoje aprendi em Steiner (A Poesia do Pensamento) que a frase: "Navegar é presico; viver não é preciso", que fez Fernando Pessoa iniciar um poema dizendo: "Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: 'Navegar é preciso; viver não é preciso" é, afinal, nada mais nada menos do que o lema da Liga Hanseática, associação de cidades do norte europeu na Idade Média, lembrei-me de uma canção de Chico Buarque que parafraseia o mesmo tema dizendo:
ResponderEliminar"O barco!
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
O dia, o marco, meu coração
O porto, não!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso...
O Barco
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto, perdido
Horizonte, madrugada
O riso, o arco da madrugada
O porto, nada!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso
O barco!
O automóvel brilhante
O trilho solto, o barulho
Do meu dente em tua veia
O sangue, o charco, barulho lento
O porto, silêncio!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso..."
É mais bonito ainda escutado.