ESCOLA PRÁTICA DE CAVALARIA
RELATÓRIO DA OPERAÇÃO FIM - REGIME
Referências: Carta Topográfica de Lisboa - Escala aprox. 1/25000
1. SITUAÇAO
a. Forças IN - Conforme ordem de operações MOFA 23/12/Abril/74; b. Forças amigas - Idem; c. Reforços - Nada.
2. MISSÃO
Instalar em Lisboa controlando os acessos ao Banco de Portugal, Companhia Portuguesa Rádio Marconi e Terreiro do Paço estabelecer ligação com o P.C. na sede de ligação FOXTROT 2.
3. EXECUÇAO
a. Conceito da Operação - Deslocar na madrugada de 25 de Abril de 74 um Esq. Rec. a 10 Viaturas Blindadas e um Esq. de Atiradores a 160 homens com 12 Viaturas de transporte pessoal, 2 Ambulâncias e 1 Jeep. Estas forças deviam Iniciar o movimento pelas 3 horas e deslocar-se o mais rapidamente possível afim de entrar em posição ainda de noite. b. Constituição da Força: COMANDANTE – CAP. CAV. Salgueiro Maia; CMDT Esq. Atir. Auto Transportado – CAP. CAV. Tavares de Almeida; CMDT Esq. Rec. - TEN CAV. Santos Silva; 1. PEl. ATlR. - ALF. GRAD. CAV. Marcelino; 1.0 Cabo Mil. Azevedo, 4 COM; 1.0 Cabo Mil. Mata, 2 CSM; 1. Cabo Mil. Tomás, 4 Praças; 2.° PEL. ATIR. - ALF. MIL. CAV. David; Furriel Mil. Oliveira. 4 COM; Furriel Mil. L. Carvalho, 8 CSM; Furriel Mil. S. Sousa, 4 Praças; 3.° PEL. ATIR. - ALF. MIL CAV. Ribeiro; Furriel Mil. Costa; Furriel Mil. Sena, 4 COM; Furriel Mil. Duarte, 12 CSM. 4.° PEL. ATlR. - AlF. GRAD. CAV. Medeiro; Furriel Mil. Marques, 4 COM; Furriel Mil. Neto, 8 CSM; 1.0 Cabo MIL. Simões, 4 Praças. 5.° PEL. ATlR. - AlF. OEO CAV Graça; Furriel Mil. Santos, 4 COM; Furriel Mil. Mendes, 8 CSM; Furriel Mil. C. Rodrigues, 4 Praças. 6.° PEL. ATIR. - ALF. MIL. CAV Beato; Furriel Mil. Rodrigues, 4 COM; Furriel Mil. N. Cardoso, 8 CSM; 1.° Cabo Mil. Alexandre, 4 Praças. 7.° PEL. ATlR. - ALF. GRAD. CAV. Rodrigues; Furriel Mil. Guerreiro, 4 COM; 1.0 Cabo Mil. Vasconcelos, 13 CSM; 8.° PEl. ATlR. - TEN. MIL. CAV. Sousa e Silva; Furriel Mil. Correia, 4 COM; Furriel Mil. Constantino, 2 CSM; Furriel Mil. R. Carvalho, 4 Praças. 1.0 PEL. REC. - EBR. 1ª - ALF. MIL. CAV Loureiro; Furriel Mil. Lutas. 1 Praça; 1.0 Cabo Mil. Rolo. 2.a - ALF. MIL. CAV. Clímaco Pereira; Furriel Mil. Gonçalves, 2 Praças. 3.a - ASP. MIL. CAV. Sampaio; Furriel Mil. Henrique Silva, 2 Praças. m. - Furriel Mil. Sebastião Silva, 4 Cabos, 5 Praças. 2.° PEL. REC. AML - CHAIMITE – 1ª - TEN CAV. Santos Silva; Furriel Mil. Carmona, 1 Praça. V - ALF. CAV. Cardoso, 2 Praças. 1ª - ASP. Rlcciardi; Furriel Mil. Correia da Silva, 9 Praças. 2.a_ Furriel Mil. Cabral; Furriel Mil. Raposeiro. 8 Praças. 3.° PEL. REC. MISTO. 3.° PEL. REC. MISTO - HUBER - ALF. Mil CAV. Pedrosa de Oliveira; Furriel Mil. Pimenta, 1 Praça. FOX - Furriel Mil. O. Matos, 1 Praça. COMANDO - TEN CAV. Correia Assunção; Furriel Mil. IIharco; 1 Cabo Mil. Lebreiro, 1 Praça. Em Viatura Civil à frente da Coluna: ASP. MIL. CAV. Laranjeira; ASP. MIL. Cav. Calado de Oliveira; ASP. MIL. CAV Mota de Oliveira.
C. Desenrolar da Acção
Pelas 23.20 horas de 23 de Abril 74, fui informado pelos Tens. Cav. Santos Silva e Sardinha que um contacto do Movimento se encontrava na Pastelaria Bijou, tendo-me deslocado ao referido local encontrei o Sr. Capitão CAV. Valente e ADM. MIL. Torres que conduzi ao meu carro, tendo posteriormente estacionado em frente ao portão Chaimite na Rua que conduz ao Liceu. Nessa altura recebi a Ordem de operações assim como outras directivas. Durante o espaço de tempo que durou o contacto, fui vigiado e posteriormente seguido por 2 homens que se deslocavam num Toyota - Corola novo, de cor amarela e matricula LA-90-83.
No dia 24 pela Manhã, foram contactados os primeiros Furriéis Milicianos visto que a Ideia de manobra era s6 de conhecimento de 6 Oficiais do O.P. e 3 Oficiais Milicianos. Os Furriéis Mil. Contactados mostraram-se totalmente colaborantes e prontos a contactar outro pessoal.
A adesão dos graduados Milicianos foi total e dedicaram-se todo o dia com afinco a organizar e a apresentar material.
Como a Escola estava vigiada pela D.G.S. e a fim de não se notar algo diferente no movimento normal os Graduados aliciados entraram no Quartel à civil e individualmente até ao fechar da Porta de Armas pelas ,-.1,30 h., dirigindo-se Imediatamente aos quartos onde se combinaram em pormenor as operações a desenrolar e o dispositivo a adoptar ao mesmo tempo que escutavam as Emissões dos EAL. e Rádio Renascença a fim de ouvir o sinal de execução.
Pelas 00.45 h. o Exmo. Major CAV. Costa Ferreira. Capitães CAV. Garcia Correia, Bernardo e Aguiar tentaram aliciar o 2.° Comandante da E. P. C. TEN. COR. Sanches, único Oficial superior que permanecia no Quartel.
Posteriormente foram ao Gabinete todos os Oficiais para informar que o apoio ao Movimento era total, mas não houve adesão do 2.° Comandante. Pelas 1,30 h. Deu-se ordem para acordar todo o pessoal e formarem na Parada onde cada Comandante de Esquadrão pôs ao corrente a situação o pessoal sob as suas ordens e da parte destes a adesão foi total ao ponto de a quase totalidade quererem marchar sobre Lisboa.
Pelas 3.20 h. o pessoal encontrava-se equipado, armado e municiado e com 2 rações de combate por homem. Pelas 3.30 h. saiu-se da E. P. C. com destino ao Terreiro do Paço que foi alcançado sem dificuldades de maior.
Pelas 5.30 h. No itinerário para o Terreiro do Paço passamos por viaturas da Polícia Segurança Pública no Campo Grande e Polícia de Choque na Avenida Fontes Pereira de Meio. As referidas forças não se manifestaram. Antes de alcançar Entrecampos fomos contactados pelo Exmo. Major Arruda que se deslocava num Austin Mini creme. Na altura da entrada em dispositivo no Terreiro do Paço a P.S.P. que cercava a zona não interferiu na nossa acção e colaborou no isolar da mesma para com a população. Ao mesmo tempo entrava na zona um pelotão reforçado AML/Chamlte do R.C. 7 comandado pelo Alferes Mil. David e Silva que aderiu de imediato ao Movimento. O Ministério do Exército era guardado por 2 Pelotões P. M. comandados pelos Aspirantes Saldida e outro que também de Imediato se colocaram sob as minhas ordens e foram ocupar o lado oposto do Edifício do Ministério, conforme lhes ordenei. Deste pessoal 7 homens permaneceram dentro do Ministério por as portas se encontrarem fechadas tendo sido a estes homens que o Ministro do Exército deu ordens para abrir um buraco na parede de ligação com o Ministério da Marinha por onde fugiu.
Pelas 7 h. da manhã surgiu do lado da Ribeira das Naus um Pelotão de Rec. Panhard do R.C. 7 comandada pelo Exmo. TEN.-COR. Ferrand de Almeida que posto perante o dilema de ter que disparar ou se render optou pelo segundo.
A prisão do referido Oficial foi efectuada debaixo da Janela do Ministério com os EX-Ministros a assistirem, tendo um deles várias vezes chamado o referido Oficial que lhes respondeu não poder ir por se encontrar preso. Pouco depois surgiram forças da G.N.R. do lado do Campo das Cebolas. Tendo chegado à fala com o Comando destas forças aconselhei-o a abandonar a zona visto não ter potencial para se bater comigo, no que fui obedecido; pouco depois de ocupar posições na zona apresentou-se-me às ordens o CMDT. da 1.8 Divisão da P.S.P. Cap. Martez Soares a quem ordenei que o pessoal da referida corporação não se devia manifestar mas sim contribuir para descongestionar o trânsito na zona.
Entretanto pelas 9 h. foi pedido um reforço pelo B.C. 5 para o QG./R.M.L. pelo qual eu mandei seguir para o local uma AML e uma ETT comandadas respectivamente pelo Alferes Graduado de Cavalaria Marcelino e Aps. Mil . Cav . Ricciardi, chegados ao O.G. a força apresentou-se ao Sr. Cap. Inf. Bicho Beatrlz CMDT da C.C.A.Ç. que ocupava a zona.
Por ordem do CMDT da C.C.A.Ç. foi colocada a AML no cruzamento da Avenida António Augusto de Aguiar com a Avenida Marquês de Fronteira e a ETT no cruzamento da Avenida Duque de Ávila com a Rua Marquês Sá da Bandeira mantendo-se nessas posições até às 19 h., hora a que foi mandada regressar para junto do meu Comando.
Pelas 10 h. surgiu uma força comandada pelo Brigadeiro Junqueira Reis e constituída por 4 C.C.M/47, 1 Companhia de Caç. do RI. 1 e alguns pelotões de P.M.
O referido Brigadeiro dividiu as suas forças em 2 núcleos que progrediam respectivamente pela Rua Ribeira das Naus e Rua do Arsenal. No 1.° junto às viaturas blindadas comandadas pelo Alferes Mil. Sotto Mayor acompanhado pelo Major de Cav. Pato Anselmo que depois de várias negociações se considerou prisioneiro, antes disso tentei dialogar com o referido Brigadeiro no lado da Ribeira das Naus mas o mesmo exigia que eu fosse ter com ele atrás das forças que comandava e eu que ele viesse a meio do espaço que nos separava. Ordenou ao Alferes Mil. de Cav. Sotto Mayor para abrir fogo sobre mim com as peças do CC M/47 mas não foi obedecido tendo de imediato ordenado a prisão do referido Oficial declarando-lhe que: -você já estragou a sua vida-o Deu ordem aos apontadores dos CC M/47 e aos atiradores que progrediam atrás dos Blindados também para abrir fogo, mas não foi obedecido; nesta altura o referido Oficial General disparou alguns tiros para o ar tentando que as NT lhes respondessem. Não houve troca de tiros.
As negociações com o Major Pato Anselmo foram orientadas pelo Major Inf. Com. Neves, Cap. Cav. Tavares de Almeida e Alferes Mil. Cav. Maia Loureiro.
Logo que o Major Pato Anselmo se rendeu mandou-se voltar as torres dos CC M/47 e avançar na nossa Direcção no que fomos obedecidos. Os PM. que progrediam atrás dos CC M/47 e outros que se encontravam no mirante antes do Cais do Sodré vieram entregar-se.
Na rua do Arsenal as negociações foram feitas pelos Tenentes CAV. Santos Silva e Assunção e Furriel Mil. Cav. J. Nunes do R.C. 7 que se tinha passado para o nosso lado. O furriel Mil. J. Nunes iniciou um movimento até junto dos CC M/47 afim de informar o Brigadeiro Reis de que devia vir a meio caminho estabelecer conversações. Tendo andado cerca de 5 metros precedido pelo Ten. Cav. Santos Silva o Brigadeiro Reis abriu fogo na nossa direcção pelo que ambos se viram na contingência de ocupar as anteriores posições de defesa. Nessa altura o Ten. Cav. Santos Silva voltou à Praça do Comércio Informando os acontecimentos. Na mesma altura em que o Ten. Santos Silva regressava à Praça do Comércio o Ten. Cav. Assunção alheio aos incidentes verificados dirigiu-se à Rua do Arsenal e procurou entabular conversações, tendo-se dirigido ao outro lado pedindo a vinda ao meio do caminho do Brig. Reis o que não lhe foi concedido, prosseguindo por isso até junto dos CC M/47. Nessa altura o Brig. Reis mandou abrir fogo sobre o TEN. CAV Assunção não tendo sido obedecido pelos soldados tendo-se o Exmo. Cor. Romeiras Interposto entre as armas e o referido Tenente aconselhando calma ao Brig. Reis que nessa altura agrediu o TEN. Assunção com 3 murros. Devido ao insucesso das conversações o TEN. Assunção voltou às suas linhas. Depois das 9 h. começou a circular na nossa frente a fragata F-743. Dei ordem para que o 1.° Oficial Superior da Marinha que chegasse junto ao cerco fosse conduzido à minha presença. Tendo-me surgido um Oficial Superior da Marinha cuja identificação não recordo, pu-lo ao corrente da situação pois necessitava de saber se devia abrir fogo contra o barco ou não pois que isso obrigava a alterar o dispositivo e a colocar as EBn em frente ao referido barco; O Oficial da Marinha declarou-me que ia saber o que se passava e posteriormente fui informado de que o barco se encontrava ali por ordem do Governo mas que não disparava contra nós.
Pela 1 h. surgiu um grupo de Comandos comandado pelo Exmo. Major Neves levando sob as suas ordens vários oficiais alguns dos quais à civil. Major Neves entrou no Ministério a fim de prender os Ministros e passou revista aos mesmos. Também por esta altura surgiu o Exmo. Ten.Cor. Cav. Correia de Campos que passou a comandar os operações no Terreiro do Paço.
Posteriormente chegou à civil à Zona de Operações o Exmo. Cor. Cav. Francisco de Morais que manifestou a sua total adesão ao Movimento e nos deu os parabéns. Tendo-se constatado a fuga dos Ministros e a não existência na Zona ocupada de objectivos remuneradores o Exmo. Coronel Correia de Campos propôs ao P.C. a escolha de outros objectivos no que foi atendido. Propus a divisão do nosso efectivo em duas forças, sendo uma formada pelo pessoal da E.P.C. e outra pelos aderentes R.C. 7, R.L. 2 e R.L. 1 comandadas pelos Tenentes de Cavalaria Cadete e Balula Cid., tendo-se estes dirigido para o Q.G. da Legião Portuguesa na Penha de França. À minha coluna progrediu pela Rua Augusta em direcção ao Rossio sendo aclamada em apoteose pela população durante todo o trajecto até ao Carmo.
Ao chegar ao Largo do Rossio encontrei uma coluna auto transportando uma companhia de atiradores do RI 1 cujo Comandante Cap. Inf. Fernandes me declarou estar ali por ordem do Governo para me não deixar passar mas estava às minhas ordens. Disse-lhe para seguir atrás de minha coluna até ao Carmo, no que fui obedecido.
Pelo meio-dia e trinta cerquei o quartel da G.N.R. do Carmo. Foi bastante importante o apoio dado pela população no realizar destas operações pois que além de me indicarem todos os locais que dominavam o Ouartel e as portas de saída à este, abriram portas varandas e acessos a telhados para que a nossa posição fosse mais dominante e eficaz. Também nesta altura começaram a surgir populares com alimentos e comida que distribuíram pelos soldados.
Passei novamente a comandar as forças pela ausência do Exmo. Coronel Correia de Campos que foi receber ordens ao P.C.
Pouco depois populares vieram-me informar que estávamos a ser cercados por 2 Companhias da G.N.R. e outra da polícia de choque, como não tinham viaturas blindadas não me preocupei com o assunto. Posteriormente fui informado que o Brigadeiro Junqueira dos Reis comandando viaturas blindadas e outra companhia do R.1. 1 se encontrava também a cercar as N.T. Pelas 14 horas surgiu-me um sargento do R.1. 1 a dizer que o pessoal se encontrava disposto a passar para o nosso lado. Respondi-lhe que poderiam vir e indiquei-lhe o caminho. O pessoal do R.1. 1 pôs a arma em bandoleira, misturou-se com a população e passou-se para o nosso lado. Tive também notícias que a tripulação de um C.C. tinha abandonado o mesmo.
Para complicar mais a situação das tropas fiéis ao Governo surgiu um esquadrão do R.C. 3 comandado pelo Cap. Cav. Ferreira que cercou o que restava das tropas do Brig. J. Reis. Entretanto recebi ordem para obrigar à rendição do Quartel do Carmo. A ordem foi escrita pelo Exmo. Major Otelo Saraiva de Carvalho e transportada pelo Cap. Art. Rosado da Luz e dizia:
SALGUEIRO MAlA:
Tentámos fazer um ultimato ao QG/GNR para entrega do Presidente do Conselho sem grandes resultados. Os tipos desligam o telefone ou retardam a chamada dizendo que vão ver se as pessoas estão.
Com o megafone tentei entrar em comunicações e fazer um aviso - ultimato para rendição. Eu já ameacei o Cor. Ferrari mas ele parece não ter acreditado. Com auto-metradalhora rebenta fechaduras do portão para verem que é a sério. Julgo que não reagirão. Felicidades. Um abraço - OTELO.
Pelas 15.10 horas com megafone solicitei a rendição do Carmo em 10 minutos. Como não fui atendido passados que foram 15 minutos ordenei ao Ten. Cav. Santos Silva para fazer uma rajada da torre da Chaimite que comandava sobre as mais altas janelas do Quartel do Carmo.
Depois das rajadas solicitei a rendição do Quartel, mas como surgiu junto a mim o Exmo. Cor. Cav. Abrantes da Silva, solicitei ao mesmo que fosse ao Quartel do Carmo dialogar, para que quem lá estava não pensasse que a guerra era feita por um simples Capitão. Quando o referido oficial entrou no Quartel ficou junto a nós um Major da G.N.R. como refém. Como as negociações demorassem e a ordem para a rendição era imperativa passados que foram 15 minutos ordenei nova abertura de fogo só com armas automáticas sobre a frontaria do Quartel. Continuavam sem responder às minhas solicitações de rendição quando já tinha perdido as esperanças de resolver o problema sem utilização de armas pesadas, surgiram 2 civis com credencial de Sua EX. o General António Spínola que entraram no Quartel para dialogar com o Presidente do Conselho. Demoraram cerca de 15 minutos e saíram dizendo-me que se tinham de deslocar à residência do referido oficial General. Em face da situação ordenei ao Ten. Cav. Assunção para se deslocar no meu Jeep e transportar os referidos civis. Entretanto desloquei-me ao Quartel onde verifiquei que a disposição do pessoal era de se render. Falei cerca de 15 minutos com o General Comandante do Q.G. da G.N.R. e outros oficiais superiores. Pedi audiência ao Prof. Marcello Caetano no que fui atendido. A conversa decorreu a sós e com grande dignidade. Nela o Professor Caetano solicitou que um oficial General fosse receber a transmissão de poderes para que o Governo não caísse na rua.
Pelas 18 horas chegou ao Quartel do Carmo Sua EX.8 o General António de Spínola acompanhado pelo Ten. Cor. Dias de Lima. Entretanto havia viaturas com combustível quase esgotado e necessidade de óleo para os motores e sistemas hidráulicos. O senhor José Francisco agente comercial - morador na Rua Serpa Pinto, n.º 8-5.0-Esq. - Odivelas, que desde os primeiros momentos se colocara à disposição das NT e passara a servir de elemento de ligação orientou uma viatura nossa no deslocamento até à Zona da estação de Santa Apolónia onde em estações de serviço requisitámos combustível e os óleos necessários.
Pelas 19 horas levantámos cerco ao Carmo para nos dirigirmos ao Quartel da Pontinha tendo ficado na zona somente as forças do RI 1.
O Professor Caetano e os outros elementos do Governo, foram conduzidos na auto-metralhadora Chaimite "BULA", que ao mesmo tempo deu escolta à viatura civil onde se deslocava Sua Ex.a o General Spínola também em direcção à Pontinha.
Na Rua António Maria Cardoso pelas 15 horas agentes na D.G.S. instalados na .sede abriram fogo sobre a multidão que se aglomerava na referida rua tendo causado 1 morto e 2 feridos que foram transportados nas nossas ambulâncias.
Pelas 21 horas atingimos a Pontinha e por não ter instalações disponíveis tivemos que nos deslocar para o Colégio Militar. onde o Exmo. Brigadeiro Ramires pôs as instalações à nossa disposição e forneceu 3.8 refeição a todo o pessoal.
Pelas 22 horas comandando 6 viaturas blindados segui para o RL 2 às ordens do Exmo.
Major de Cav. Monge com vista à rendição dos RL 2 e RC 7 e prisã
o dos respectivos Comandantes. Esta acção terminou pela 1.30 horas do dia 26 de Abril de 1974 pelo que ficámos instalados no RC 7.
DIA D + 1
Pelas 8,30 horas seguimos em patrulhamento para o centro da cidade e pelas 11 horas tomamos conta do edifício da Defesa Nacional a fim de garantir a segurança das individualidades que lá foram tomar posse.
Recolhemos ao RC 1 pelas 19 horas e durante todo o tempo em que estivemos na Cova da Moura foi extraordinário o apoio da população às nossas tropas ao ponto de no prédio em frente à. Defesa Nacional várias senhoras terem cozinhado o almoço para todo o pessoal. As forças que permaneceram no Colégio Militar ficaram sob o comando do capitão Cav. Tavares de Almeida e pela; 3 horas escoltaram Sua Ex.ª o General António de Spínola à RTP Lumiar, tendo regressado pelas 2.30 horas. Pelas 3 horas seguiram para a Pontinha a fim de defender o P.C.
Pelas 5 horas o tenente Cav. Santos Silva deslocou-se para a Rua do Alecrim a fim de cercar o comando da DGS tendo regressado pelas 19 horas.
Também pelas 19.30 horas o Cap. Cav. Tavares de Almeida, recebeu ordem de regresso 8 Santarém, atendendo ao desgaste físico do pessoal sob o seu comando; chegaram ao seu destino tendo a quase totalidade da população de Santarém a recebê-los.
DIA D + 2
Cerca das 3 horas o Ten. Cav. Santos Silva recebeu ordens para com 2 viaturas blindadas escoltar a Tomar o Exmo. Coronel de Cav. Francisco Morais. Cmdt. da Região Militar de Tomar; chegaram a Santarém pelas 4 horas e a escolta para Tomar foi efectuada sob o comando do Cap. Cav. Cadavez.
Pelas 9.30 efectuámos um patrulhamento pelo centro da cidade que se encontrava calma tendo regressado cerca das 12 horas; para voltar a sair pelas 14 horas a fim de escoltar os arquivos existentes na Escola Prática da DGS. Às 19 horas chegou um RC 7 pessoal sob o comando do Cap. Cav. Cadavez a fim de substituir todo aquele que se encontrava sob o meu comando, substituindo o mesmo nas 4 guarnições das 4 viaturas blindadas que continuaram no RC 7.
Pelas 2 horas regressei com as 3 EBR, uma ETT e o pessoal rendido tendo atingido Santarém às 22.30 horas.
4 - ADMINISTRAÇAO E LOGISTICA - a) Distribuídos a cada homem rações de combate para os dias 25 e 26 de Abril 74; b) Serviço de Saúde - 2 equipas constituídas por um enfermeiro e 1 maqueiro cada, a deslocar nas duas ambulâncias.
5 - COMANDO E TRANSMISSOES - Posto Comando em Jeep. Rede de Comando, ver anexa Ordem Operações MOFA.
6 - DIVERSOS - Fui depois Informado por oficiais da G.N.R. do Quartel do Carmo que o Prof. Marcelo Caetano desde as 8.30 horas do dia 25 que declarava que se rendia. se fosse um Oficial General a receber a rendição. Este facto não foi comunicado pelo Comandante do Quartel do Carmo e deste modo a rendição só se efectuou depois das 15 horas.
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