A Viagem Necessária
Se buscarmos olhares de aprovação, quem irá aprovar os
nossos actos? Se buscarmos olhares de aprovação,
perdemos nosso tempo precioso, ficaremos horas, dias,
meses, anos, analisando nossas rugas de expressão,
nossas falas,
nossos gestos,
que provocam desagrado, ou ódio, ou repulsa.
Não imploramos o amor dos outros. Nem sempre é maldita
a provação do abandono. Pode ser essencial
para atingirmos a tempo a linha de chegada.
Nunca choremos pelo amor dos outros, que as lágrimas
perturbam a visão e apagam o fiel traço contínuo
da missão de que formos incumbidos.
Isabel Gouveia, Na Voz da Esperança Há Lágrimas. Poesia Completa. Lisboa, Alétheia Editores, 2012. p. 413.
Há um livro de Georges Bataille, que li há poucos dias, que se chama "As lágrimas de Eros".
ResponderEliminarO livro de Isabel Gouveia, a cujo lançamento infelizmente não me foi possível assistir, tem um título igualmente sugestivo.
Aqui se fala de uma viagem necessária, em nós, usando a primeira pessoa do plural, o que confere dimensão e grandeza ao poema, na relação com ou outros. Naquele interstício do que nos acontece, do que experienciamos, mais do que aquilo que supostamente somos.
Este poema é uma viagem necessária e um alerta de enorme sagacidade. Agradeço à autora.
Relacionar as lágrimas com a esperança e afastá-las do desejo do amor dos outros por nós, pode parecer paradoxal mas não é. Ninguém deve esperar ser amado. A esperança está em amar.
Belo poema!
"Vida é o desejo de continuar vivendo e viva é aquela coisa que vai morrer. A vida serve para se morrer dela."
ResponderEliminarClarice Lispector, Esboço para um possível retrato de Olga Borelli