A graça e o amor de Cristo Nosso Senhor e redentor seja sempre com V. R. e com todos os caríssimos irmãos, amen. — Por o tempo me não dar lugar lhe não escrevo tão largo como desejava para lhe dar conta de toda nossa viagem e sucesso dela, e o quanto trabalho temos passado depois que de V. R. nos apartámos. Mas porque hoje cheguei de Lampacau, que é o porto onde estamos, a este Macau, que é outras seis léguas mais avante, onde achei o Padre Mestre Belchior, que de Cantão aqui veio ter, onde era ido havia vinte e cinco dias a resgatar Mateus de Brito, que é um homem fidalgo, e outro homem, os quais estavam presos no tronco da cidade havia seis anos”, “os quais custaram mil taéis, que são mil e quinhentos cruzados, e assim a ver a cidade, a maneira da gente e terra, e trabalhar para ver se podia lá deixar o Irmão Luís Fróis, para aprender a língua, para se em algum tempo fosse necessário, parecendo-lhe que a terra fosse para se nela poder fazer em algum tempo fruto, a qual não achou como lhe pareceu, senão da maneira que ele lá escreve a V. R., por que me parece que não há maior engano que cuidar ninguém que em algum tempo naturalmente possa haver alguns Cristãos Chins senão se Deus fizer outros de novo, porque estes que ao presente há na terra é por demais falar nisso. E, como digo, me falta tempo para disto como dos mais trabalhos, riscos, medos, que até agora temos passado, principalmente em informar V. R. e também para estar de “caminho para logo me embarcar para Cantão com o Irmão sacristão, a buscar muitas coisas que o padre Baltazar Gago manda pedir de Japão, que cá se acharam e lá não as há, que são muito necessárias”
Fernão Mendes Pinto. “Carta II", 1555.
Peregrinação, seguida das suas cartas. Versão integral em português moderno por Adolfo Casais Monteiro. Edição da Sociedade de Intercâmbio Cultural Luso-Brasileiro e da Livraria Casa do Estudante Brasileiro, S/d.
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