A nossa presença no mundo é inseparável de um sentimento de ausência. O facto de nos encontramos no mundo implica, desde a infância, uma questão: que é que me falta? que é que falta ao mundo onde eu, ser inacabado, vivo? Longe de nos contentarmos com o que existe, construímos um jardim de jogos insólitos povoado de fantasmas: o fantasma do que não é, do que foi, do que devia ser. Hölderlin fala de "perturbação e pânico" a propósito desta relação de um ser que deseja, que, sabendo-se parte integrante da natureza e ao mesmo tempo dela separado, aspira a uma união que não é possível - estremo e doloroso paradoxo - senão pelo preço de uma separação infinita.
Insatisfeitos com o mundo, ansiosos de lhe juntar algo que lhe falta, celebram o jogo do mundo: assim são as crianças e os escritores, os loucos e os artistas.
Carlos Fuentes
Gérard Montassier (ed.), Le Fait Culturel. Paris, Fayard. P. 281.
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