quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Heffman não me abandone! Lygia Fagundes Telles

Heffman, a personagem principal da peça, era um estrangeiro que vinha de longe (Europa) e entrava assim como um facho de luz em meio daqueles jovens desorientados e perplexos, a perplexidade estava dentro e fora do palco. Assumindo a missão de fazer crescer (espécie de fermento, o próprio nome sugeria) aquela massa desencantada, depois de orientar e indicar caminhos, imprevistamente, assim como chegou o misterioso Heffman seguia para outras aventuras, viajante sem bagagem, Adeus, adeus! Antes deixava-se amar por todos, especialmente pela mocinha, uma pequena estudante sonhadora, desesperada porque vai perdê-lo: Heffman não me abandone! eu teria que dizer na ultima cena.
[...]
Tive toda a liberdade para ir levando a minha personagem, isso até aquela noite quando depois do ensaio ele [Alfredo Mesquita] me fez um sinal, queria falar comigo. E em voz baixa quis saber por que eu dizia Heffman, não me abandone! assim num tom de quem pede uma laranjada. É preciso botar mais força nessa súplica que deve ser pungente, é o seu amado que está indo embora, você não vai vê-lo nunca mais! Nunca mais!

Lygia Fagundes Telles, "Heffman", in Invenção e Memória. Nova edição. São Paulo, Companhia das Letras, 2009, p. 51-52.

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