Mas também há as cidades do desejo. Reais, mas remotas, muitas vezes inalcançáveis ou marcadas pela nostalgia de um retorno impossível, estão encerradas numa espécie de feitiço que as transfigura até as tornar fantásticas. A pequena cidade de Combray de Proust, na realidade não muito longe de Paris, vive suspensa num tempo perdido. O Maradagal de O Conhecimento da Dor de Carlo Emílio Gadda é sem dúvida alguma uma zona da sua Lombardia Natal, tecida de remorsos, rancores, amores e nostalgia. A Dublin de Joyce, amada e odiada, revivida a partir de Zurique, é, de certo modo fantástica. Como o são a Lisboa de Pessoa, metáfora de um Molhe Absoluto a que o homem aporta para depois partir para o desconhecido, e mais ainda a inalcançável Samarcanda sonhada pelo seu heterónimo Bernardo Soares no Livro do Desassossego.
Talvez as cidades mais desejadas vivam nesta dimensão: de cidades verdadeiras tornaram-se na "ideia" de cidade.
António Tabucchi, Viagens e Outras Viagens. P. 196.
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