Porque toda a manhã creio que atravessei a abóbada da solidão humana; que um som, a realidade autêntica da língua, chama, por um caminho ladeado de barreiras, o seu génio animal. Nessa abóbada, há imaterial de grande qualidade que difunde o medo-fonte; poucos seres humanos têm inteligência afectiva. Chamo uma vez mais pelo Anjo Sublime para que ele me leve pelo caminho que corta o declive. Se eu soubesse qual era a verdadeira natureza do medo - o que ele nos ensina, e faz perder - morreria desta morte menos vezes; assim assombro os meus animais com esta voz alta do meu pensamento,
e digo-lhes
"apareceram os primeiros rebentos à árvore".
Ou ainda,
"a morte é dar como verdadeiro o que é".
Maria Gabriela Llansol, Cantileno. Lisboa, Relógio d'Água, 2000, p. 47.
A abóboda da solidão humana: é isso mesmo!
ResponderEliminarSe não fosse essa solidão não se escreveria assim. Não se leria assim. Não se construiruia essa abóboda, voz alta do pensamento.
Só conheço este pedaço de Cantilena: tenho pena do que perco porque desconheço.
Agora este pedaço é precioso para mim.
Vi sem óculos antes de precisar provar não ser um robot. Só agora vejo que não é Cantilena mas Cantileno. O que faz toda a diferença. Aqui fica a emenda.
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