Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido.
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
Ruy Belo
A publicação deste poema tem uma razão suplementar (para lá
da referencia ao tema da viagem): ele foi referido pela Professora Cristina
Nobre, minha colega do Instituto Politécnico de Leiria) na sessão em que a
convite da Associação para o Desenvolvimento de Leiria, do Instituto
Politécnico de Leiria e do Jornal de
Leiria, falei da experiência de Guimarães Capital Europeia da Cultura, no
dia 12 de Abril passado.
Já por diversas vezes sublinhei o apreço e admiração
intelectuais que tenho por Cristina Nobre [http://oqueeuandei.blogspot.pt/2009/10/lancamento-de-livro-de-ricardo-vieira.html
e http://oqueeuandei.blogspot.pt/2009/01/confiana-na-escola-pblica.html],
mas deste vez peço um pouco mais de espaço para lhe agradecer com emoção o
gesto afectuoso que nessa noite me dispensou. Cristina disse parte do poema
acima transcrito para sublinhar a percepção que formara sobre o papel da
vontade e do empenho das pessoas no sucesso do projecto de Guimarães (“Só sei
que tinha o poder duma criança/ entre as coisas e mim havia vizinhança/ e tudo
era possível era só querer”). E disse-o muito bem, da forma competente e
generosa que já lhe tinha escutado.
Teve que sair mais cedo da sessão, que se prolongou pela
noite, e já não a pude encontrar no final, para tentar responder pessoalmente
ao repto que me lançou sobre o regresso às funções docentes no IPL . Com
surpresa, recebi então um livro que deixara para me ser entregue. Tratava-se do
inventário do Espólio da Casa-Museu Afonso Lopes Vieira, em S. Pedro de Moel,
recentemente editado, sob sua coordenação.
Cristina tem dedicado um imenso
labor ao estudo da vida e obra daquele escritor e poeta, com quem partilha aliás
diversas afinidades, uma das quais o encanto por S. Pedro. Não resisto a tornar
publico aqui a dedicatória que inscreveu no livro que me ofereceu.
Cristina Nobre é também uma notável escritora, que conheço
das suas crónicas na imprensa e do poema da sua autoria que já lhe ouvi dizer. Com
um abraço reconhecido, aqui fica o que inseriu como proémio ao Lugar Literário de S. Pedro de Moel.
Num dos paineis de azulejos do palacete do visconde de Sacavém, onde se situa o Museu da Cerâmica, nas Caldas da Rainha, figuram uns versos de Afonso Lopes Vieira que cito de cór:
ResponderEliminar"De quem não admira já nada de bom se tira.
Porque quem não sabe admirar não sabe amar."
Quantas vezes a aparente candura da poesia deste autor não serve, afinal, para revelar aspetos profundíssimos da natureza humana, como é o caso.
Neste post se cruzam, em diferentes planos, diferentes formas de admiração, que é um dos sentimentos mais nobres e inspiradores do género humano no exercício da sua humanidade.