quinta-feira, 26 de junho de 2014

Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Clarice Lispector

Em busca do outro.
Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido. O Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é o outro, é os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada.

Clarice Lispector,  A Descoberta do Mundo (Crónicas). Lisboa, Relógio d'Água, 2013, p. 163

17 comentários:

  1. Essa é a verdadeira viagem.
    A propósito, cito de cor Maria Gabriela Llansol, numa citação que já tenho usado noutras circunstâncias: "Perguntar quem sou é uma pergunta de escravo. Perguntar quem me chama é uma pergunta de homem livre."
    Também gosto de uma outra (citação), que já uma vez juntei a esta, escrita por um jovem autor caldense, Ricardo Norte, na revista Três Três: "É preciso nascer fora de nós."
    Só que, confesso, não sei como isso se faz.
    Nota final: Clarice Lispector também é uma das minhas autoras preferidas.

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  2. Pertencer

    Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.
    Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
    Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
    Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
    Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
    Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
    Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
    Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida.
    No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
    Mas eu, eu não me perdôo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia confiar a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
    A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho.
    Clarice Lispector, in A Descoberta do Mundo

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  3. Nada

    nem o branco fogo do trigo
    nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
    te dirão a palavra

    Não interrogues não perguntes
    entre a razão e a turbulência da neve
    não há diferença

    Não colecciones dejectos o teu destino és tu

    Despe-te
    não há outro caminho

    Eugénio de Andrade, in "Véspera da Água"

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  4. pelos caminhos que ando
    um dia vai ser
    só não sei quando

    Pergunte ao pó
    Cresce a vida
    Cresce o tempo
    Cresce tudo
    E vira sempre
    Esse momento
    Cresce o ponto
    Bem no meio
    Do amor seu centro
    Assim como
    O que a gente sente
    E não diz
    Cresce dentro
    Razão de Ser
    Escrevo.
    E pronto.
    Escrevo porque preciso,
    Preciso porque estou tonto.
    Ninguém tem nada com isso.
    Escrevo porque amanhece,
    E as estrelas lá no céu
    Lembram letras no papel,
    Quando o poema me anoitece.
    A aranha tece teias.
    O peixe beija e morde o que vê.
    Eu escrevo apenas.
    Tem que ter por quê?
    Retrato de lado
    retrato de frente
    de mim me faça
    ficar diferente
    Segundo consta
    O mundo acabando,
    Podem ficar tranquilos.
    Acaba voltando
    Tudo aquilo.
    Reconstruam tudo
    Segundo a planta dos meus versos.
    Vento, eu disse como.
    Nuvem, eu disse quando.
    Sol, casa, rua,
    Reinos, ruínas, anos,
    Disse como éramos.
    Amor, eu disse como.
    E como era mesmo?
    Sem Budismo
    Poema que é bom
    acaba zero a zero.
    Acaba com.
    Não como eu quero.
    Começa sem.
    Com, digamos, certo verso,

    veneno de letra,
    bolero, Ou menos.
    Tira daqui, bota dali,
    um lugar, não caminho.
    Prossegue de si.
    Seguro morreu de velho,
    e sozinho.

    Paulo Leminsky

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  5. Sentado À Beira do Caminho

    Roberto Carlos

    Eu não posso mais ficar aqui
    A esperar!
    Que um dia de repente
    Você volte para mim...

    Vejo caminhões
    E carros apressados
    A passar por mim
    Estou sentado à beira
    De um caminho
    Que não tem mais fim...

    Meu olhar se perde na poeira
    Dessa estrada triste
    Onde a tristeza
    E a saudade de você
    Ainda existe...

    Esse sol que queima
    No meu rosto
    Um resto de esperança
    De ao menos ver de perto
    O seu olhar
    Que eu trago na lembrança...

    Preciso acabar logo com isso
    Preciso lembrar que eu existo
    Que eu existo, que eu existo...

    Vem a chuva, molha o meu rosto
    E então eu choro tanto
    Minhas lágrimas
    E os pingos dessa chuva
    Se confundem com o meu pranto...

    Olho prá mim mesmo e procuro
    E não encontro nada
    Sou um pobre resto de esperança
    À beira de uma estrada...

    Preciso acabar logo com isso
    Preciso lembrar que eu existo
    Que eu existo, que eu existo...

    Carros, caminhões, poeira
    Estrada, tudo, tudo, tudo
    Se confunde em minha mente
    Minha sombra me acompanha
    E vê que eu
    Estou morrendo lentamente...

    Só você não vê que eu
    Não posso mais
    Ficar aqui sozinho
    Esperando a vida inteira
    Por você
    Sentado à beira do caminho...

    Preciso acabar logo com isso
    Preciso lembrar que eu existo
    Que eu existo, que eu existo...

    Larará Larará Lararará!
    Larará Larará Lararará!
    Larará Larará Lararará!
    Larará Larará Lararará!
    Larará Larará Lararará!...

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  6. Manhã

    Fresca manhã da vida, recomeço
    Doutros orvalhos onde o sol se molha.
    Nova canção de amor e novo preço
    Do ridente triunfo que nos olha.

    Larga e límpida luz donde se vê
    Tudo o que não dormiu e germinou;
    Tudo o que até de noite luta e crê
    Na força eterna que o semeou.

    Um aceno de paz em cada flor;
    Um convite de guerra em cada espinho;
    E os louros do perfeito vencedor
    À espera de quem passa no caminho.
    Miguel Torga

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  7. Depoimento

    De seguro,
    Posso apenas dizer que havia um muro
    E que foi contra ele que arremeti
    A vida inteira.
    Não. Nunca o contornei.
    Nunca tentei
    Ultrapassá-lo de qualquer maneira.
    A honra era lutar
    Sem esperança de vencer.
    E lutei ferozmente noite e dia,
    Apesar de saber
    Que quanto mais lutava mais perdia
    E mais funda sentia
    A dor de me perder.


    Miguel Torga

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  8. Acredito que cada ser terá direito ao seu "dia triunfal"... E não desistir disso é uma espécie de búzio, ingenuidade contente...

    “Num dia em que finalmente desistira – foi em 8 de Março de 1914 – acerquei-me de uma cómoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. [...] Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir – instintiva e subconscientemente – uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nesta altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num acto, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro Campos – a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.”

    In Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro

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  9. CAGARRA
    Migratória. Convenho.
    Mas fiel ao porto de abrigo
    a que sempre venho
    para estar contigo,
    companheira eleita.
    Depois, é este voar que nunca erra:
    o ar é a minha terra
    e o mar a cama que me deita.

    "Os resultados do estudo, iniciado em 2006, permitiram aos investigadores portugueses descobrir que as rotas migratórias seguidas pelas cagarras das Berlengas diferem bastante das utilizadas pelas das Selvagens, isto apesar de usarem as mesmas áreas de invernada. Num trabalho publicado muito recentemente na prestigiada revista PLoS One [...], os autores mostram que as cagarras da Berlenga fazem grandes desvios pelo Atlântico norte, enquanto as da Selvagem, em geral, migram directamente para o sul. As razões da diferença permanecem ainda desconhecidas.
    Sabe-se, no entanto, que o vento tem um papel preponderante nestas viagens de longo curso, tal como sucedia com as naus nos tempos dos Descobrimentos portugueses. De facto, as rotas das cagarras assemelham-se muito à rota da Índia, outrora seguida pelos nossos navegadores. Os percursos traçados são condicionados pelos ventos alísios, que empurram os viajantes, numa ampla curva, até ao longo da costa sul-americana antes de os trazer de volta ao Atlântico oriental, já junto ao Cabo da Boa Esperança."
    Naturalmente, o regresso faz-se por outro caminho, também ele feito de ventos de feição. Aliás, foi esta rota ocidental no caminho para o sul, hoje repetida no voo das cagarras, que se pensa ter condicionado o descobrimento acidental do Brasil por Pedro Álvares Cabral. As aves revelaram-se incomparavelmente mais rápidas do que os nossos navegadores, pois demonstram levar apenas 28 dias para, partindo da Berlenga, chegar ao famoso Cabo da Boas Esperança."

    AS AVES MARINHAS NA ROTA DOS DESCOBRIMENTOS, Lisboa, Universidade de Lisboa, Museu de História Natural e da Ciência, 2013, ul.pt

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  10. ► 4:37► 4:37
    www.youtube.com/watch?v=6E2hYDIFDIU
    24/07/2008 - Carregado por akjgo1994
    Frank Sinatra, My Way, With Lyrics. akjgo1994·6 ... Buy "My Way" on ... Elvis Presley - My ...

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  11. Frank Sinatra - My Way (1969) - YouTube
    ► 4:36► 4:36
    www.youtube.com/watch?v=egY8rUpxqcE
    16/03/2010 - Carregado por ElektraMSK
    http://walkingobs.blogspot.com/2010/03/my-way-magni-franky.html Album: New York New York ...

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  12. Eu não sou eu nem sou o outro,
    Sou qualquer coisa de intermédio:
    Pilar da ponte de tédio
    Que vai de mim para o Outro.

    Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'

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  13. Eu não sou eu nem o outro

    Mário de Sá-Carneiro

    QUASE


    Um pouco mais de sol — eu era brasa.
    Um pouco mais de azul — eu era além.
    Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
    Se ao menos eu permanecesse aquém...

    Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
    Num baixo mar enganador d'espuma;
    E o grande sonho despertado em bruma,
    O grande sonho — ó dor! — quase vivido...

    Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
    Quase o princípio e o fim — quase a expansão...
    Mas na minh'alma tudo se derrama...
    Entanto nada foi só ilusão!

    De tudo houve um começo... e tudo errou...
    — Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... —
    Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
    Asa que se elançou mas não voou...

    Momentos de alma que desbaratei...
    Templos aonde nunca pus um altar...
    Rios que perdi sem os levar ao mar...
    Ânsias que foram mas que não fixei...

    Se me vagueio, encontro só indícios...
    Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
    E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
    Puseram grades sobre os precipícios...

    Num ímpeto difuso de quebranto,
    Tudo encetei e nada possuí...
    Hoje, de mim, só resta o desencanto
    Das coisas que beijei mas não vivi...

    ...........................................
    ...........................................

    Um pouco mais de sol — e fora brasa,
    Um pouco mais de azul — e fora além.
    Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
    Se ao menos eu permanecesse aquém.

    Paris, 13 de maio de 1913

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  14. Patience, patience
    Patience dans l'azur!
    Chaque atome de silence
    Est la chance d'un fruit mur.


    Paul Valéry, estendido nas areias quentes duma laguna, olha
    para o céu. No seu campo de visão as palmeiras balançam
    lentamente, amadurecendo os frutos. Está à escuta do tempo que
    com vagar leva a cabo a sua obra. Esta escuta, podemos
    explicá-la e aplicá-la ao universo. Com o correr do tempo
    desenvolve-se a gestação cósmica. Em cada segundo o universo
    prepara qualquer coisa. Ele sobe lentamente os degraus da
    complexidade.
    Imagino um Valéry cósmico que tivesse assistido como
    espectador ao desenvolvimento de todos esses acontecimentos.
    Ele teria por missão assinalar o aparecimento de novos seres.
    E teria aplaudido o nascimento dos primeiros átomos. Para as
    primeiras células, teria composto uma ode. Em outros momentos
    a inquietação teria aparecido na sua cara. Porque há crises
    nesta grande ascensão cósmica. Algumas foram graves. Por
    momentos tudo parecia seriamente comprometido. Mas o universo
    é inventivo. Ele soube sempre sair da crise. Em alguns casos,
    teve de recuar muito para reencontrar a sua via.
    E onde nos leva essa via? A física nuclear permite-nos
    compreender a evolução nuclear: como, a partir das partículas
    elementares emanadas da explosão inicial, se formaram os
    núcleos atómicos no coração das estrelas. Atirados para os
    grandes espaços intersiderais, os núcleos revestiram-se de
    electrões. O notável progresso da radioastronomia e da
    biologia molecular permite-nos reconstituir as grandes fases
    da evolução química entre as estrelas e nos planetas
    primitivos. E, finalmente, seguindo Darwin, veremos
    levantar-se diante de nós a grande árvore dos seres vivos
    sobre o nosso planeta: a evolução biológica leva-nos das
    bactérias ao aparecimento da inteligência humana. A via da
    complexidade termina com o ser humano? Não temos nenhuma razão
    para o afirmar. O coração do mundo continua a bater no seu
    ritmo. O "sentido" continua em marcha.

    Hubert Reeves, Um Pouco Mais de Azul, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996.

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  15. Para o leitor iniciado, eis a tremenda situação que se
    depara ao explorador-astrofísico quando quer recuar no tempo
    até à sua origem.
    Por um lado, a esfera da causalidade contrai-se. Muito
    simplesmente porque, quanto mais nos aproximamos do tempo zero
    (em escala linear, portanto, do tempo «menos infinito» em
    escala logarítmica), mais breve é o período de propagação dos
    sinais. Paralelamente, aparece um outro efeito. Segundo a
    mecânica quântica, um objecto não tem uma posição
    perfeitamente definida. Possui o que se poderia chamar uma
    «esfera de imprecisão da localização». E que é o domínio onde
    temos alta probabilidade de o encontrar. Já falámos disto a
    propósito do diamante da Torre de Londres. Ora, acontece que
    antes do instante 10-43 do segundo, a esfera de causalidade é
    mais pequena que a esfera de imprecisão da localização. Em
    palavras simples, isto significa que uma amostra de matéria
    pode encontrar-se num ponto com o qual nos é impossível
    comunicar... O conhecimento encontra aqui o seu último
    horizonte, o físico encolhe os ombros e desabafa: «Porque não
    escolhi ser soldador?»
    Este drama revela, com efeito, uma profunda lacuna da física
    contemporânea. Ninguém até agora soube estabelecer uma teoria
    coerente que incorpore simultaneamente a teoria da
    relatividade geral de Einstein e a mecânica quântica. Nem
    sequer alguém sabe se tal teoria é possível. Para disfarçar a
    sua ignorância, o astrofísico decreta, então, que no instante
    10-43 do segundo o universo nasceu...
    /…/
    Alguns números para reter.

    Um ano-luz: dez biliões de quilómetros.
    Idade do universo: aproximadamente quinze mil milhões de
    anos.
    Idade do Sol. quatro mil e seiscentos milhões de anos
    Número de estrelas numa galáxia: cerca de cem mil milhões
    Velocidade da luz: trezentos mil quilómetros por segundo.

    Hubert Reeves, Um Pouco Mais de Azul, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996.

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  16. “In 1973 Carl Sagan published “The Cosmic Connection: An Extraterrestrial Perspective” which included the following passage. Boldface has been added here and below: 1
    Our Sun is a second- or third-generation star. All of the rocky and metallic material we stand on, the iron in our blood, the calcium in our teeth, the carbon in our genes were produced billions of years ago in the interior of a red giant star. We are made of star-stuff.”

    http://quoteinvestigator.com/2013/06/22/starstuff/#note-6670-3

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  17. Venha olhar as estrelas...

    "Estenda-se no solo, de noite, longe das luzes. Feche os
    olhos. Depois de alguns minutos, abra-os e repare nas
    estrelas. Terá uma vertigem. Colado à superfície do espaço, sentir-se-á no espaço. Saboreie por muito tempo esse encanto."

    Hubert Reeves, Um Pouco Mais de Azul, Lisboa, Círculo de Leitores, 1996.

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