domingo, 1 de dezembro de 2013

Outros sentidos. Mário da Sá-Carneiro

[...]
É partir sem temor contra a montanha
Cingidos de quimera e d'irreal;
Brandir a espada fulva e medieval,
A cada hora acastelando em Espanha.
É suscitar côres endoidecidas,
Ser garra imperial enclavinhada,
E numa extrema-unção d'alma ampliada,
Viajar outros sentidos, outras vidas.
[...]
Mário de Sá-Carneiro, Dispersão.

2 comentários:

  1. Os sentidos e o sonho, temas constantes na poesia de Mário de Sá-Carneiro. Viagens épicas. Como quando diz:

    "O bando das quimeras longe assoma...
    Que apoteosa imensa pelos céus!...
    A cor já não é cor - é som e aroma!
    Vêm-me saudades de ter sido Deus..."

    Poemas Completos (1996). Lisboa: Assírio & Alvim Editores (p. 149)

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  2. VELUT UMBRA

    Fumo e cismo. Os castelos do horizonte
    Erguem-se, à tarde, e crescem, de mil cores.
    E ora espalham no céu vivos ardores,
    Ora fumam, vulcões de estranho monte...

    Depois, que formas vagas vêm defronte,
    Que parecem sonhar loucos amores?
    Almas que vão, por entre luz e horrores,
    Passando a barca desse aéreo Aqueronte...

    Apago o meu charuto quando apagas
    Teu facho, ó sol... ficamos todos sós...
    É nesta solidão que me consumo!

    Ó nuvens do Ocidente, ó coisas vagas,
    Bem vos entendo a cor, pois, como a vós,
    Beleza e altura se me vão em fumo!

    Antero de Quental, POESIA COMPLETA, Lisboa Pub. Dom Quixote, 2001, pp. 246-247.

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