sábado, 17 de agosto de 2013

O frio especial das manhãs de viagem. Álvaro de Campos

O frio especial das manhãs de viagem,
A angústia da partida, carnal no arrepanhar
Que vai do coração à pele,
Que chora virtualmente embora alegre.

Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). P. 87.

1 comentário:

  1. Dor e prazer não são opostos, como se julga. Para isso nos alertou Nietzsche, e vários poetas o disseram, cada um a seu modo, ainda antes dele. É o caso de Camões: "Dor que desatina sem doer".
    Neste extraordinário poema de Álvaro de Campos é posta em palavras a experiência do "frio especial das manhãs de viagem". Quem não o sentiu já? A angústia da partida é vivida de um modo individual, através do corpo que cada um de nós é. No entanto, é essa mesma condição que nos irmana na realidade coletiva que também somos.
    A descoberta na escrita dos poetas do que sentimos e não sabemos dizer assim, devia tornar-nos seres mais gratos e felizes. Além de tudo o mais, porque nos torna mais conscientes de quem somos.

    ResponderEliminar